Uma Palavra a Mais

Ainda do Diário de Notícias, um coup d´oeil sobre
o político trabalhista israelita Shimon Peres, em
que lhe chamam «o Mário Soares do Médio Oriente».
Céus! Considero Peres um político com incapacidades
políticas gravíssimas, que referirei a seguir. Mas
penso não ser aconselhável carregá-lo com comparações
ofensivas.
Peres foi sempre uma boa escolha para desempenhar
missões difíceis, desde que sob uma liderança forte.
A ele se deve o facto de Israel ter uma pequena mas
eficientíssima marinha de guerra, absolutamente pensada
em função das necessidades reais do País. Teve grande
importãncia nas negociações de paz com a O.L.P., porém
sempre debaixo da orientação de Rabin, a quem coube a
coragem de dar o salto qualitativo decisivo.
E a sua falta de aptidão para liderar levou à amarguíssima
substituição pela invenção clintoniana de Barak, um general
de mérito que se revelou um vazio político. Mas ocorreu aí
um episódio tão caricato como revelador: num comício diante
do que se pensava ser um grupo de apoiantes seus, Peres
diz para a multidão: «Andam para aí a dizer que sou um
perdedor. Vocês acham que sou um perdedor?»; e a multidão
respondeu, inesperadamente, ao menos para o Tribuno: «És,
és!».
E, com efeito, chegou várias vezes à chefia do governo, mas
sempre sem ganhar claramente uma eleição: ou por morte ou
impedimento do leader escolhido pelo seu partido, ou na
sequência de acordos de rotatividade estabelecidos nas
coligações com o Likud.
Uns nascem para chefiar. O habitat de outros está nos
bastidores ou no plano secundário. O DN chama-lhe
«Optimista imperfeito». Uma das duas palavras está a mais.