Leitura Matinal -94
Quanta vez não deparámos com o insensível da esquina
que, perante umas catastróficas cheias no Oriente, ocupa
só o que diz ser o cérebro com o temor de que a ajuda
humanitária desvie do seu próprio caminho recursos
que poderia aproveitar? E quantas não caímos nós, os
altruístas e solidários, na armadilha psíquica de cingir
o olhar sobre qualquer quotidiana tensão da vida à parte
de prazer ou de temor-desconforto que nos compete da
partilha? Partilha, como "divisão", que, como comunhão,
já se sabe o que a casa gasta.
No limite, a própria prática bloguística, por muito que
tentemos estender o olhar ao que nos supera, redunda
frequentemente numa suspeitíssima satisfação do Autor
consigo, ou com um primor do que escreveu, não falando
já nos casos mais graves, em que publica, sob a capa de
uma opinião genérica, a tentativa de infuenciar, na senda
de um seu interesse.
Muito além da mea culpa do parágrafo anterior, satirizando
o tema, João Arroyo publicou, num livro de 1918:
EGOTISMO
O egotismo é o microscópio da desgraça.
Chega notícia: arde em guerra toda a Baixa;
O outro inquire tremulo, a fechar a Caixa:
-Em todo o caso, tenho electrico p´ra a Graça?
Commentam com pesar o p´rigo que ameaça,
O pão a preço enorme, o cambio não abaixa,
A fome vem... Est´outro diz:-Não nos rebaixa
A crise, mas,... vão-me faltar pasteis de massa?
Falai ao egotista em nós ou elles; eu
Responderá, pois foi p´ra ell´que Ptolomeu
O sol lançou da ecliptica na estrada bella.
Leitor, se abordas uma apathica pessoa,
Conversa no que lhe int´ressar. E se ella enjôa,
Vae por caminho inda melhor: falla-lhe d´ella!
que, perante umas catastróficas cheias no Oriente, ocupa
só o que diz ser o cérebro com o temor de que a ajuda
humanitária desvie do seu próprio caminho recursos
que poderia aproveitar? E quantas não caímos nós, os
altruístas e solidários, na armadilha psíquica de cingir
o olhar sobre qualquer quotidiana tensão da vida à parte
de prazer ou de temor-desconforto que nos compete da
partilha? Partilha, como "divisão", que, como comunhão,
já se sabe o que a casa gasta.
No limite, a própria prática bloguística, por muito que
tentemos estender o olhar ao que nos supera, redunda
frequentemente numa suspeitíssima satisfação do Autor
consigo, ou com um primor do que escreveu, não falando
já nos casos mais graves, em que publica, sob a capa de
uma opinião genérica, a tentativa de infuenciar, na senda
de um seu interesse.
Muito além da mea culpa do parágrafo anterior, satirizando
o tema, João Arroyo publicou, num livro de 1918:
EGOTISMO
O egotismo é o microscópio da desgraça.
Chega notícia: arde em guerra toda a Baixa;
O outro inquire tremulo, a fechar a Caixa:
-Em todo o caso, tenho electrico p´ra a Graça?
Commentam com pesar o p´rigo que ameaça,
O pão a preço enorme, o cambio não abaixa,
A fome vem... Est´outro diz:-Não nos rebaixa
A crise, mas,... vão-me faltar pasteis de massa?
Falai ao egotista em nós ou elles; eu
Responderá, pois foi p´ra ell´que Ptolomeu
O sol lançou da ecliptica na estrada bella.
Leitor, se abordas uma apathica pessoa,
Conversa no que lhe int´ressar. E se ella enjôa,
Vae por caminho inda melhor: falla-lhe d´ella!
0 Comments:
Post a Comment
<< Home