Uma Busca do Graal Muito Minha - 1

Aproveitando o pathos que a figura anterior exala e
sugestionado pelo título da obra, venho reforçar o
carácter intimista que é inerente a uma qualquer
experiência diarística e dar-vos conta de um encantamento
que ainda me vai obcecando.
Não foi no tempo em que os animais falavam, mas pouco faltou.
Bastantes anos atrás, na alfarrabística cave da Livraria
Galileu, em Cascais, deparei com a reprodução de uma obra,
assinada por H. Henner, que me fascinou. Quem quiser partilhar
o conhecimento da causa desta sensação pode lá ir, que ainda a
encontra. Tratava-se de um nu feminino embevecido na leitura
de um livro. E a diluição dos contornos na "névoa" ambiente
que lhe servia de pano de fundo mais acentuava o que, para um
imaginativo candidato a bibliófilo, parecia ser o enlevo da
acção. O título não era «La Lectrice», como muitas outras, a
começar pela anteriormente reproduzida. A sua graça é «La
Liseuse». E quanta carga afectiva e investimento vital nesta
subtil distinção!
Tenho-a procurado por tudo o que é livro de arte. Apesar de
ciente da atrofia das minhas faculdades como manipulador da
INTERNET, também a escarafunchei. Debalde! Zero Absoluto.
E venho assim sobrevivendo nesta melacolia de não ter êxito
em, fora da deliciosa masmorra que alberga a citada cópia,
deparar com a conjugação maravilhosa daquele apelo aos sentidos
com a paixão de ler.
As «Lectrice»s de Renoir, Morisot e tantos outros nada me dizem.
Superiores, do ponto de vista artístico, deixam-me frio, nesta
pura esfera dos apelos mais pessoais. Era Aquela, não outra!

(continua)