Leitura Matinal -58
Versos de um Autor que já conheceu melhores dias,
António de Sousa, dão-nos a medida das eternas e
universais penas dos isolamentos não-desejados,
das breves codolências em redor e, em suma, da
mais aberrante ausência de sentido de destinos
sem dimensão espiritual generosa, enfim, desprovidos
da Religião Tradicional e das solidariedades
da Herança partilhada, sem disputas.
Mas a Lua regalou-se!
ILHA DESERTA
Era uma vez um homem como os mais.
a bordo dum navio,
singrando com os outros, sem desvio
das rotas naturais,
com as máquinas pulsando como um coração
a bem do comércio e da navegação.
Mas vai a Lua que, nua, fluía
na piscina do Céu,
uma noite em que o homem se esqueceu
de fechar a vigia,
trepou pelas vagas
e arrebatou-o para ignotas plagas!
Pela manhã, no deck, os passageiros,
quando o souberam, tiveram pena
-as mulheres sobretudo: o raptado era de cor morena...-
pesares de passageiros, passageiros...
À hora do almoço comeram bem
e ao jantar também.
Dormiram, amaram
e todos chegaram aos seus destinos
e depois foram ricos, felizes, tiveram muitos meninos
que os continuaram.
E o navio, pesada lançadeira,
continuou - para lá, para cá - na terra inteira.
E o homem foi um náufrago perfeito.
A princípio chorou dias inteiros:
depois, para comer, foi trepando aos coqueiros.
e resignou-se a dormir só com a Lua no seu leito.
Tanto viveu assim que ficou lua:
andava com o corpo e a alma nua!
Vieram-lhe ambições. - Era rei dos macacos
se não morre, senhores! de indigestão de lua-cheia!
E assim acabou esta odisseia.
-Os outros mortos dormem em buracos;
este, numa ilha deserta e singular,
jaz, de conserva, em molho de luar!
António de Sousa, dão-nos a medida das eternas e
universais penas dos isolamentos não-desejados,
das breves codolências em redor e, em suma, da
mais aberrante ausência de sentido de destinos
sem dimensão espiritual generosa, enfim, desprovidos
da Religião Tradicional e das solidariedades
da Herança partilhada, sem disputas.
Mas a Lua regalou-se!
ILHA DESERTA
Era uma vez um homem como os mais.
a bordo dum navio,
singrando com os outros, sem desvio
das rotas naturais,
com as máquinas pulsando como um coração
a bem do comércio e da navegação.
Mas vai a Lua que, nua, fluía
na piscina do Céu,
uma noite em que o homem se esqueceu
de fechar a vigia,
trepou pelas vagas
e arrebatou-o para ignotas plagas!
Pela manhã, no deck, os passageiros,
quando o souberam, tiveram pena
-as mulheres sobretudo: o raptado era de cor morena...-
pesares de passageiros, passageiros...
À hora do almoço comeram bem
e ao jantar também.
Dormiram, amaram
e todos chegaram aos seus destinos
e depois foram ricos, felizes, tiveram muitos meninos
que os continuaram.
E o navio, pesada lançadeira,
continuou - para lá, para cá - na terra inteira.
E o homem foi um náufrago perfeito.
A princípio chorou dias inteiros:
depois, para comer, foi trepando aos coqueiros.
e resignou-se a dormir só com a Lua no seu leito.
Tanto viveu assim que ficou lua:
andava com o corpo e a alma nua!
Vieram-lhe ambições. - Era rei dos macacos
se não morre, senhores! de indigestão de lua-cheia!
E assim acabou esta odisseia.
-Os outros mortos dormem em buracos;
este, numa ilha deserta e singular,
jaz, de conserva, em molho de luar!
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