O Herói Personificado

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15 de Novembro é data bem triste para o nosso Portugal Contemporâneo, pois no de 1924 desapareceu no Canal da Mancha um dos raros Heróis que a I República produziu, em tempo de paz. Artur Sacadura Cabral, que com Gago Coutinho atravessou o Atlântico Sul, encarnou sempre o Homem de Acção, onde o seu companheiro figurava o Sábio. Sendo ele o piloto titular e o Almirante o navegador, entranharam-se estas noções no imaginário dos admiradores, apesar de conseguir participar com mérito na parte científica e de a ilustre contraparte também pilotar. Mas sem dúvida que Cabral era o grande apaixonado da aeronáutica e que foi ele quem introduziu Coutinho nesses amores aéreos. Conceituadíssimo entre os vultos da Aviação Mundial, era, como de costume. não tão levado a sério pelos poderes públicos da nossa terra, que nunca disponibilizram fundos para o seu grande projecto de dar a volta ao Mundo em avião. Ainda tentou uma subscrição pública, procurando, sem encontrar eco, que também a gloriosa tradição aérea Brasileira participasse do projecto. Tanto que desistiu, ao contrário do que certas biografias dizem. Quando se deu o acidente fatal trabalhava, isso sim, noutro plano querido, o de um raid à Índia, com escalas em Luanda e Lourenço Marques.
O seu êxito poderia ter sido maior? Talvez, se tivesse sido dócil para com o Poder que, à sua custa, também se quis prestigiar. Mas não era o caso. Recebido em apoteose no Congresso da República declarou: «nunca fui não sou e nem serei político(...)» e «O meu maior desejo é que me deixem voltar à obscuridade de onde saí e que, tranquilamente, me seja permitido continuar a exercer a profissão a que me dediquei».
Mas não era isso que dele queriam. Desgraçadamente.