O Martírio dos Planetas
Os Astrónomos o dão, os Astrónomos o tiram. Porém, não sendo Job, temos algum direito à indignação que se traduza em protestarmos contra o arrancamento impiedoso de verdades que nos acompanharam como pilares seguros do Saber, sem mais razão do que a das polémicas classificatórias de cientistas insensíveis. Plutão não é mais um planeta. Querem agora que Neptuno lhe siga as pisadas. Insurjamo-nos pois contra esta exautoração dos corpos celestes, sem culpa deles, ou parecer nosso.
Mas não se pense que este massacre de conceitos familiares ocorre apenas na nossa racionalizada Sociedade . É conhecido que no Mundo Islâmico o fim da Festa Sagrada do Ramadão ocorria quando duas testemunhas oculares certificassem, em cada comunidade, nova fase lunar. Pois agora, Autoridades Religiosas, tão ensimesmadas quanto os sábios diplomados da nossa Civilização, pretendem eliminar a relação directa que se estabelecia entre Gente e Satélite, abstractizando o momento do marco sagrado, ao fazê-lo depender de cálculos matemáticos, tão-somente.
A Lua é especial. Para além de reger a expressão tangível da Mais Bela Metade Humana, condicionando ciclicamente a Esperança Vital da Espécie, é o único grão orbital do Espaço com proximidade bastante para nos impregnar de luz e, em simultâneo, se deixar contemplar, sem artifícios. E as diferentes formas com que se torna visível mais ajudam à personificação, tomando-a como um indivíduo, manifestando os seus humores, como qualquer de nós. É desta simbiose cósmica, outorgante da fantasia dialogante essencial, que não podemos abdicar, sob pena de nos tornarmos coisa diferente e menor do que somos.
Dou um poema algo lacrimoso mas apropriado, da Poetisa do Qubeque Pier de Lune; e uma imagem de Frank Lamy, «A Lua» que me sugere a pobre Luna imolada na fogueira, qual Joana d´Arc.
LA LUNE PLEURAIT
Toute la nuit j'ai scruté le cielles
yeux fixés sur cette voûte étoilée
j'ai aperçu le pâle reflet de la lune
les étoiles semblaient lui chanter une valse triste
pour la bercer pour l'endormir
je compris ses craintes ses peurs son grand chagrin
lorsqu'au loin j'entendis les hurlements d'une louve
j'aurais voulu à mon tour la bercer
la prendre dans mes bras la consoler
lui rendre cette tendresse que tant de fois elle a donnée
elle s'éloignait fuyant les crocs d'une louve enragée
et ses hurlements déchaînés
un tourbillon brumeux engloutit
les étoiles une à une
s'empara de la lune
ne restait là-haut que le vide
un trou noir béant
Lune ô chère lune
reviens comme chaque nuit
sans ton sourire les roses
ne pourront plus s'épanouir
mais le nuage continuait sa ronde
la pourchassait l'enveloppait
d'une nuée vaporeuse
puis j'entendis un long sanglot étouffé
tel le son de l'archet du violon
glissant sur une corde éraillée
dans ma main une goutte d'eau se déposa
une larme y gisait
en pierre de lune se métamorphosait
avec comme seul reflet
le triste visage de mon amie
depuis cette nuit je sais que la lune pleure
lorsque que les loups hurlent
et lui montrent leurs crocs acérés
lui arrachant chaque fois
quelque chose qui lui appartient
Une pierre d'amour une pierre de lune
Mas não se pense que este massacre de conceitos familiares ocorre apenas na nossa racionalizada Sociedade . É conhecido que no Mundo Islâmico o fim da Festa Sagrada do Ramadão ocorria quando duas testemunhas oculares certificassem, em cada comunidade, nova fase lunar. Pois agora, Autoridades Religiosas, tão ensimesmadas quanto os sábios diplomados da nossa Civilização, pretendem eliminar a relação directa que se estabelecia entre Gente e Satélite, abstractizando o momento do marco sagrado, ao fazê-lo depender de cálculos matemáticos, tão-somente.
A Lua é especial. Para além de reger a expressão tangível da Mais Bela Metade Humana, condicionando ciclicamente a Esperança Vital da Espécie, é o único grão orbital do Espaço com proximidade bastante para nos impregnar de luz e, em simultâneo, se deixar contemplar, sem artifícios. E as diferentes formas com que se torna visível mais ajudam à personificação, tomando-a como um indivíduo, manifestando os seus humores, como qualquer de nós. É desta simbiose cósmica, outorgante da fantasia dialogante essencial, que não podemos abdicar, sob pena de nos tornarmos coisa diferente e menor do que somos.
Dou um poema algo lacrimoso mas apropriado, da Poetisa do Qubeque Pier de Lune; e uma imagem de Frank Lamy, «A Lua» que me sugere a pobre Luna imolada na fogueira, qual Joana d´Arc.
LA LUNE PLEURAIT
Toute la nuit j'ai scruté le cielles
yeux fixés sur cette voûte étoilée
j'ai aperçu le pâle reflet de la lune
les étoiles semblaient lui chanter une valse triste
pour la bercer pour l'endormir
je compris ses craintes ses peurs son grand chagrin
lorsqu'au loin j'entendis les hurlements d'une louve
j'aurais voulu à mon tour la bercer
la prendre dans mes bras la consoler
lui rendre cette tendresse que tant de fois elle a donnée
elle s'éloignait fuyant les crocs d'une louve enragée
et ses hurlements déchaînés
un tourbillon brumeux engloutit
les étoiles une à une
s'empara de la lune
ne restait là-haut que le vide
un trou noir béant
Lune ô chère lune
reviens comme chaque nuit
sans ton sourire les roses
ne pourront plus s'épanouir
mais le nuage continuait sa ronde
la pourchassait l'enveloppait
d'une nuée vaporeuse
puis j'entendis un long sanglot étouffé
tel le son de l'archet du violon
glissant sur une corde éraillée
dans ma main une goutte d'eau se déposa
une larme y gisait
en pierre de lune se métamorphosait
avec comme seul reflet
le triste visage de mon amie
depuis cette nuit je sais que la lune pleure
lorsque que les loups hurlent
et lui montrent leurs crocs acérés
lui arrachant chaque fois
quelque chose qui lui appartient
Une pierre d'amour une pierre de lune
8 Comments:
At 1:27 AM, Viajante said…
Plutão, que representa o inferno, o invisível e o misterioso. E rege o signo de Escorpião (sorriso!)...
Será que isto altera as cartas astrais (risos)?
E o que faremos aos poemas que citam Plutão??
... por exemplo: com o Poema 16, de «O ano de 1993» de Saramago?
16
Podia ter acontecido a qualquer hora do dia
Quando debaixo do sol a horda se deslocasse na
rasa e dura planície
(...)
Que subitamente um homem descobriu que não
sabia ler
Em vão recordava as letras em vão as desenhava
ele próprio na memória
Eram riscos cegos na escuridão desenhos de
Marte Mercúrio ou Plutão ou ainda a escrita do sis-
tema planetário da Betelgeuse
....
OU
do soneto de Bocage
Oh trevas, que enlutais a Natureza,
Longos ciprestes desta selva anosa,
Mochos de voz sinistra, e lamentosa,
Que dissolveis dos fados a incerteza :
Manes, surgidos da morada acesa
Onde de horror sem fim Plutão se goza,
Não aterreis esta alma dolorosa,
Que é mais triste que vós minha tristeza ;
Perdi o galardão da fé mais pura,
Esperanças frustrei do amor mais terno,
A posse de celeste formosura :
Volvei pois, sombras vãs, ao fogo eterno :
E lamentando a minha desventura,
Movereis a piedade o mesmo inferno.
Isto ainda terá ressonâncias para lá do que parece :)
At 8:38 AM, Paulo Cunha Porto said…
Querida Viajante:
Antes do mais, a Nova Identificação, também ela acentua o mistério e a decifração dele peça a peça. Sossega-nos pela eliminação da Figura de costas voltadas, mas quando pensávamos no que escrevia na areia...
Sobre o mistério e as regências de Plutão, uma que experimento e outra a que não desejaria fazer igual, dei um cheirinho no «Calma Penada». E onde terá sido que li que «haverá sempre um Plutão...»?
Os poemas põem a questão que nos assaltou a todos, com mais mérito o de Bocage. Mas no "link" que estabeleci para uma revista mexicana, no pequenino "post" supra citado, encontra-se alguma tranquilidade ao alcance de mão.
Beijo - que como no outro escorpião, o da história, «está na minha natureza...».
At 3:41 PM, Anonymous said…
Depois disto não digo mais nada.
At 6:28 PM, Paulo Cunha Porto said…
Querida MFBA:
Comovida ou desagradada?
Beijinho.
At 9:30 AM, Anonymous said…
Sinceramente, acho que os astrónomos fazem muito bem em alterar a categoria de Plutão. Não é nada de novo.À medida que o nosso conhecimento do Universo se aprofunda, assim tem de mudar a nossa visão dele. De resto, quem quiser pode continuar a considerá-lo planeta, simplesmente numa outra categoria. Há mais planetas-anões por perto, porque não dar-lhes a nossa atenção?
É esse tipo de raciocínio, frequente na blogoesfera, que levou o Vaticano a perseguir Galileu...
Seria aliás cómico que, por exemplo, e após as descobertas cartográficas dos Portugueses, viessem alguns reclamar contra "o arrancamento impiedoso de verdades que nos acompanharam como pilares seguros do Saber", nomeadamente o finis terrae no Cabo Bojador!
At 6:45 PM, Paulo Cunha Porto said…
Caro Miguel:
Leia por favor tudo o que escrevi e não uma parte ao calhas. Eu redigi «sem mais razão do que as polémicas classificatórias dos cientistas». Não surgiu um elemento novo, nem sobre a dimensão, nem sobre a orbitação dos astros em apreço. Novo apenas o triunfo de uma posição velha que está hoje na mó de cima como ontem esteve na de baixo. Não acha um pouco insensato comparar-lhe as descobertas de terras ignoradas, ou de rotas desconhecidas? Até insultuoso para os Descobridores.
Não vejo a que venha aqui Galileu, mas sempre direi que Carl Schmitt, o qual estudou a fundo os originais do processo, diz que a Igreja se limitou a pedir que o Cientista aceitasse considerar o seu sistema como uma hipótese, que não como uma certeza global e explicativa. E este sempre teimou em insistir na completa Verdade do seu Sistema, num todo considerado, até que, finalmente, ocorreu a capitulação conhecida e negada. Ora este sistema, englobando um elemento de verdade quanto ao movimento da Terra, comportava outros, falsos e de retrocesso, dos quais o mais conhecido era negar a relação astral com as marés.
Um pouco mais de rigor, Caro Amigo, nada de escolher só o que convém à polémica.
At 9:58 AM, Anonymous said…
"Não surgiu um elemento novo, nem sobre a dimensão, nem sobre a orbitação dos astros em apreço."
Um pouco mais de rigor e de informação, caro Paulo. Afinal, o que terá motivado toda esta discussão por parte da UAI? Será que os cientistas não tinham nada que fazer por ser Verão?... ou será que Plutão passou a estar acompanhado?...
At 8:45 PM, Paulo Cunha Porto said…
Não caro Miguel, o que se passou é que uma tese nada nova passou a estar em maioria, ao menos no conclave.
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