Pratos Limpos
Neste dia que para mim tem sido particularmente difícil, por motivos familiares, gostaria ainda de lembrar que se vence mais um aniversário sobre a elevação a dogma da Infalibilidade Papal. Coroando uma vetusta questão acerca da preeminência do Papa ou dos Concilios, o Vaticano I não fez mais do que consagrar o entendimento que já tinha, de facto, emergido da História da Igreja, de que, com todas as vantagens da clarificação, a Iluminação directamente emanada de N. S. Jesus Cristo dava prioridade ao Santo Pontífice na clarificação da elaboração doutrinal, buscando, ademais, directo fundamento na Proclamação por Pio IX da Imaculada Conceição. Nenhuma Emformação Fundamental da Santa Madre Igreja tem sido tão atacada pelos seus opositores, salvo, talvez, a Divina Pessoa do Espírito Santo, como esta questão que, aparentemente, por ser de disciplina interna, embora com Alcance Fundamental na Fé, lhes não diria respeito. Mas a tentação era grande, subverter os alicerces da Verdade e troçar de qualquer espirro papal como" infalível"...
Não posso deixar de recordar, de memória, a evocação de Joyce de um Cardeal irlandês que se opôs à nova consagração como Dogma, mas que, vencido na votação conciliar que renunciou à sua posição na até aí duvidosa prioridade, se submeteu. E de relembrar o Saudoso Manuel Maria Múrias, o qual frisando que o carácter infalível só respeitava a formulações ex-catedra, dizia que «em política, o Papa pode meter a pata na poça, como qualquer de nós».
Para o que interessa ao caso pouco mais se conta do que a proclamação por Pio XII da Assunção de Nossa Senhora. Mas as confusões são mais do que muitas.
5 Comments:
At 12:08 AM, António Viriato said…
Eis um ponto em que é impossível concordar com a Igreja, por muito que valorizemos a sua acção global ao longo dos séculos, com muitos pontos negros, igualmente impossíveis de aprovar, mas também com muitas contribuições positivas, sobretudo de grandes exemplos individuais de dedicação ao bem da Humanidade. Nem com tanta protecção divina certos Papas deixaram de cometer tantos pecados e até crimes, alguns hediondos. É preciso assumir a História toda da Cristandade, se queremos que nos respeitem a filiação. Mas também não devemos cair em piedosas ingenuidades e tudo relativizar, equiparando Credos, Igrejas e Seitas, sobretudo quando certas crenças fanáticas e obscurantistas pretendem preencher o espaço da dúvida, da hesitação ou da perplexidade que sinceramente os actuais cristãos têm revelado. Há erros que se pagam muito caro...
At 7:48 AM, Paulo Cunha Porto said…
Mas lá está, Caro António Viriato, nada disso tudo que refere tem a ver com a infalibilidade, que, como procurei lembrar no texto, só tem expressão nos restritíssimos casos de elaboração doutrinal de pedras basilares do Credo. Não creio que pense que a Consagração como Artigo de Fé da Assunção de Nossa Senhora seja um «pecado» ou um «crime», pois não?
Abraço.
At 9:43 AM, Zé Maria said…
Meu caro Paulo:
Apenas para realçar este seu texto, que gostei.
De facto, por sê-lo, o Papa é de facto alguém que tem "algo" que nos ultrapassa. Mas como muito bem diz, esse "algo" é assumido quando o proclama "ex-catedra", quer dizer, quando é o "ocupante total" da cadeira que foi de Pedro. É o que nos ultrapassa e não nos pertence. A Outro pertencerá.
Para além de outros considerandos, com os quais se concorde ou não, é isto que me parece o essencial.
Aquele abraço
At 10:28 AM, Paulo Cunha Porto said…
Caríssimo Zé Maria:
Com efeito, é isso o essencial. E por mais que seja repetido que este específico Dogma não visa coisa outra do que a consagração de uma preeminência, aliás já, de facto, reconhecida, sobre a via conciliar na edificação da Fé, muita gente continua a dar-lhe outro sentido. Por isso postei assim.
Grande abraço.
At 9:16 PM, Anonymous said…
O que dizer da infabilidade do Papa em relação ao holocausto/holoconto? Será que aí funcionou?
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