Enviado Especial 2
Atentando no lema «Sexo é Cultura» concede-se que alguma visão dele o é, como a do Luís Graça, cuja parte final se oferece, de seguida. Vai sem ilustrações, porque a prosa é suficiente fantasia e ilustração e, das muitas fotografias do certame que a net disponibiliza, não encontrei nenhuma imagem em que o Nosso Autor pontificasse. Aí vai a excelente prosa, nua e um pouco crua.
A JÓIA E O COVEIRO
Passam três minutos das 18 horas do dia 15 de Julho do ano de 2006.
Palco número 1.
“Ela é fantástica. Aplausos para Ti Fáni Hópequins, que veio da França. Ela é fantástica”.
Disse o Miguel, o “speaker” português que divide o palco 1 com o incontornável “speaker” espanhol, o actor Roberto Chivas, que fez 29 anos no dia da festa de apresentação do Salão. Com direito a bolo de aniversário e tudo.
Entra em palco Tiffany Hopkins, nome de jóia, voz de veludo, coração de ternura. Francesinha “mignone”, com aspecto de tudo menos de estrela porno. Uma menina a caminho do quarto de século, com o encanto de uns seios “perky” (como diriam os ingleses), pequeninos, perfeitos e arrebitados.
Vem de vestido preto, elegante no seu metro e 60 e picos (ou muito perto disso). Tão elegante como quando a conheci no Jardim do Tabaco, na festa de inauguração. Ficámos a falar junto ao Tejo, com o rio de ouvido arrebitado, atento às malandrices.
O rosto é granítico, vem a fumar, com cara de má, sem um sorriso. Eu, na primeira fila entre o público, máquina fotográfica em riste, sorrio para dentro. Sim, eu sei que é a fingir. Tiffany é uma jóia de moça, um doce.
“Eu sou muito tímida. A sério”, diz ela, por entre dois goles na “flute” com tinto de Porca de Murça.
Os olhos são assim para o azul-esverdeado ou o esverdeado-azul.
“És muito atento”.
Sou.
Adiante. São 18 horas e cinco minutos. Tiffany dá o cigarro que trazia na mão, para compor a pose de menina má. Mas descai-se e sorri quando abdica do cigarro.
Vai-se despindo. Desafia o público com o olhar. Tiro ou não tiro?
Tira o top. Chama alguém da audiência. Sorri.
Sobe ao palco Daniel Braz, coveiro de profissão, nascido em França, morador na Póvoa de Santo Adrião. Daniel não desce à cova dos leões. Daniel sobe ao palco da leoa.
Uma leoa meiga, ternurenta, que o despe todo. Todo? Não. Uns boxers resistem ainda e sempre às mãos invasoras de Tiffany, não obstante a publicidade enganosa do simpático “speaker” Miguel.
“Ele vai ficar todo nu”.
A interacção entre Daniel e Tiffany é muito boa. Daniel acaricia suavemente as pernas de Tiffany mas não tenta manobras mais arrojadas, como “ferrar na passarinha” de uma estrela porno, coisa que aconteceu noutro palco, no dia anterior, nas palavras de um amigo portuense.
Tiffany cheia de água, toda nua. Daniel cheio de água. Daniel de boxers molhados. Os corpos ritmicamente encaixados. Com respeito, com devoção, com ternura, com humor. Assim até dá gosto.
Ao segundo sinal serão 18 horas, 14 minutos e zero segundos.
Pi, pi.
Tiffany termina a sua actuação. Levantam-se. Abraçam-se. Sorriem. Agradecem ao público. Tiffany oferece uma toalha para Daniel se secar. Seca-se. Atira T-shirts ao público. Retira-se como entrou. Elegantemente. Como a grande estrela que é. Como a “petite copine” francesa que deveria ter povoado a minha adolescência nos Campos Elíseos.
Daniel desce à terra. Felicito-o. Pergunto-lhe se a publicação das fotos nos jornais não lhe vai trazer problemas.
“Nada. Foi espectacular. Ela é francesa. Eu nasci em França, nos Vosges. Foi espectacular. Só me dá muita pena não ficar com uma foto de recordação. Agora já acabou tudo”.
Encontro um camarada jornalista. Trocam de número dos telemóveis.
Parece que se vai conseguir qualquer coisa para o Daniel.
Ainda bem.
É tão belo o poente no Tejo, quando uma jóia e um coveiro decidem namorar, nem que seja por dez minutos.
Luís Graça
2 Comments:
At 1:54 AM, Anonymous said…
(ANTES QUE ALGUÉM COMECE A DESATINAR COM ESTA MINHA PEÇA, EU TOMO A INICIATIVA.DÁ-ME GOZO SER O PRIMEIRO. DESAFIO QUALQUER UM A CONSEGUIR INSULTAR-ME COM MAIS ESTILO. 'BORA AÍ, MALTA)
Se o pseudo-jornalista e escritor Luís Graça já tinha ultrapassado todos os limites da decência na sua peça "SONIA BABY, o maior espectáculo do Mundo", com este "A JÓIA E O COVEIRO" enterrou-se completamente.
(A este propósito, não se esqueçam de comprar o livro "A mulher que fazia recados às putas e mais contos perversos", que inclui o conto "A mulher do coveiro encornado". Mas tenham calma, que o livro ainda não saiu).
O que em "Sonia Baby, o maior espectáculo do Mundo" era devassidão, nojo pela Mulher e pornografia pseudo-literária, transforma-se em "A JÓIA E O COVEIRO" num ultrajante exercício de asco pela dignidade do Ser Humano.
Luís Graça não escreve: vomita. Vomita sandes de leitão, concretamente (facto real, há uma semana)
(private joke para a São Rosas, de outro blog, que não gosta de me ver escrever o verbo vomitar. VOMITAR,VOMITAR,VOMITAR,VOMITAR, as vezes que me apetecer, São Rosas! Toma!)
Luís Graça respeita as mulheres tanto quanto um homem normal respeita uma pedra.
(Espera aí, este exemplo foi mal escolhido. Então e os geólogos? Eles respeitam imenso as pedras. Olha, o meu amigo Rui Brito, por exemplo)
Luís Graça não escreve: delira. Luís Graça inventa as realidades mais verdadeiras e descreve-as como se na realidade tivessem acontecido, tendo perfeita consciência de que aconteceram mesmo, independentemente de todos os factores que concorreram para que tivessem acontecido, sem hipóteses de não-acontecimento.
Luís Graça não escreve: masturba-se. Sendo que, enquanto pseudo-escritor, se masturba em polifonia teclística, em velocidade progressivamente galopante, a duas mãos, numa sonata patética mais patética que o Goofy dos super-amendoins, IAC, IAC, IAC
(não confundir com o Instituto de Apoio à Cultura, que não existe. E mesmo o apoio à cultura é sempre cuidadosamente disfarçado pelos nossos queridos governantes, não vá o povo habituar-se mal).
Luís Graça não escreve: provoca. E provoca pondo em causa a profissão mais nobre do mundo, a dos coveiros, tão bem retratada em "O gato miou três vezes", com Vincent Price, Peter Lorre e o gato Rhubarb.Ou foi o comboio que apitou? Gary Cooper de coveiro, Grace Kelly de gatinha, a seduzir estrangeiros em "Casino",depois de ter liquidado Sharon Stone em "Os pássaros", de Alfred Keil do Amaral?
(É a tua deixa, Eurico)
Luís Graça não existe.Auto-inventa-se. Luís Graça tem meses em que se apaixonam por ele, em que ele se apaixona, em que encontra hooligans que o aviaram há cinco anos e cresce para eles em pleno Salão Erótico, em que ameaça bloggers com o Departamento de Contencioso da Sociedade Portuguesa de Autores, em que não consegue dormir no Grande Hotel do Porto por causa das gaivotas, em que anda de camisola da Holanda por baixo da de Portugal, em que anda de camisola "Até os comemos" em plena cidade do Porto,em que convive com cubanas que fumam Cohiba mandados pelo pai, que nunca tinham ouvido falar de Astérix, comem tremoços com casca e adoram feijoada à transmontana, comida no "Abadia", depois de um passeio pela Foz em que o sol nos segredou asneiras e o mar brilhou estrelícias com sorrisos de framboesa.
Luís Graça não existe. Luís Graça tem cartões de visita que dizem "romântico e quarentão", "subversivamente meigo", "marado sensual" e "jornalista".
Luís Graça tanto faz hidroginástica no Holmes Place como joga matraquilhos de hóquei no gelo, de madrugada, no átrio de sua casa, com as cervejas e os salgadinhos lado a lado.
Luís Graça tem uma camisola dos Calgary Flames e outra dos Pitsburgh Penguins.
Luís Graça tem vontade de voltar a ser homem. De regressar aos tempos em que não havia Net e se gastava o tempo a acreditar que havia uma vida bela para viver.
Nos tempos em que o sexo era a sério. Tão sério quanto a ternura da melhor pornografia.
À Tiffany. À Sonia Baby. A mim.
E à Margarida Rebelo Pinto, por não ter interposto uma providência cautelar para eu não poder postar no blog.
(No meu livro 'Fado,futebol e farpas' também lhe agradeço).
VÁ LÁ! ESTÃO À ESPERA DE QUÊ? INSULTEM-ME COM MAIS ESTILO! VÁ LÁ, ESTOU À ESPERA! EU NÃO TENHO A VOSSA VIDA. EU POSTO. E ADORMEÇO NO MEU POST, QUANDO SOU CHATO COMO AS PUTAÇAS.
At 12:55 PM, Anonymous said…
«Coloquemos diante dos olhos da nossa alma um homem gravemente ferido, quase prestes a exalar o seu último suspiro, que jaz nu sobre o pó do caminho. No seu desejo de ver chegar um médico, geme e pede àquele que compreende o estado em que se encontra que tenha piedade dele. Ora, o pecado é um ferimento da alma. Tu, que és esse ferido, compreende que o teu médico se encontra dentro de ti, e descobre-lhe as chagas dos teus pecados. Que Ele oiça os gemidos do teu coração, Ele que conhece todos os pensamentos secretos. Que as tuas lágrimas o comovam e, se for preciso procurá-Lo com uma certa insistência, do fundo do teu coração, faz subir até Ele suspiros profundos. Que a tua dor chegue até Ele e que também a ti te digam, como a David: “O Senhor apagou o teu pecado”.»
São Gregório Magno (séc. VI),
Exposição sobre os sete salmos da penitência.
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