Autópsia da Perda
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23 de Julho era o dia de aniversário de um extraordinário Actor que, pelas obscuras teias do acaso ou do critério, viria a dar um rosto a uma das mais incómodas e vulgares transformações humanas, a da degradação. Fê-lo em dois filmes famosíssimos, que todos conhecem: «O ANJO AZUL», transformando-se de Rath em Unrat, transitando da autoridade professoral para brinquedo da fatal Lola Lola que se tornou uma segunda identidade da vida de Dietrich.
E em «O ÚLTIMO DOS HOMENS», quando, pela decadência, é transferido para funções menos apetecidas, obrigado a abdicar do uniforme de porteiro que lhe dava o auto-respeito e a aparência do dos outros. Ambos foram quedas de homens presos à sua função social nas vias da dejecção. Um, passando a trazer o estigma na adulteração do nome, outro pela aproximação imposta pelas novas tarefas.
E tanto importa que a causa eficiente fosse a submissão preferencial ao desprezo conectado à condição de joguete de um, no filme de V. Sternberg, como à insuportabilide do escárnio de todos, presente no de Murnau. Se no segundo ainda
era possível localizar num elemento exterior, como a perda da farda, a semente geradora da evaporação da dignidade, num desengano quanto à fraqueza real, imposto de fora, ainda pior porque imune à piedade do espectador, é a progressiva descaracterização por culpa exclusiva da própria debilidade de ânimo que o primeiro evidencia. É que, em matéria de despromoção do homem, quando a sua dignidade está assente apenas nas ficções comunitárias, o fato de cerimónia pode ser mesmo pior insígnia de condenado do que os andrajos.
23 de Julho era o dia de aniversário de um extraordinário Actor que, pelas obscuras teias do acaso ou do critério, viria a dar um rosto a uma das mais incómodas e vulgares transformações humanas, a da degradação. Fê-lo em dois filmes famosíssimos, que todos conhecem: «O ANJO AZUL», transformando-se de Rath em Unrat, transitando da autoridade professoral para brinquedo da fatal Lola Lola que se tornou uma segunda identidade da vida de Dietrich.
E em «O ÚLTIMO DOS HOMENS», quando, pela decadência, é transferido para funções menos apetecidas, obrigado a abdicar do uniforme de porteiro que lhe dava o auto-respeito e a aparência do dos outros. Ambos foram quedas de homens presos à sua função social nas vias da dejecção. Um, passando a trazer o estigma na adulteração do nome, outro pela aproximação imposta pelas novas tarefas.
E tanto importa que a causa eficiente fosse a submissão preferencial ao desprezo conectado à condição de joguete de um, no filme de V. Sternberg, como à insuportabilide do escárnio de todos, presente no de Murnau. Se no segundo ainda
era possível localizar num elemento exterior, como a perda da farda, a semente geradora da evaporação da dignidade, num desengano quanto à fraqueza real, imposto de fora, ainda pior porque imune à piedade do espectador, é a progressiva descaracterização por culpa exclusiva da própria debilidade de ânimo que o primeiro evidencia. É que, em matéria de despromoção do homem, quando a sua dignidade está assente apenas nas ficções comunitárias, o fato de cerimónia pode ser mesmo pior insígnia de condenado do que os andrajos.
EMIL JANNINGS.
4 Comments:
At 1:15 AM, António Viriato said…
Caro Amigo,
Esse filme, o Anjo Azul, ainda hoje me comove quando o revejo. Que grande advertência que ele nos faz sobre a fragilidade do aparente aprumo das nossas vidas. Vem um golpe inesperado da Fortuna e toda a nossa verticalidade se pode desmoronar, sobretudo quando é o Cupido quem o desfere.
At 2:40 AM, Mendo Ramires said…
Belíssima evocação do melhor actor do mundo do Cinema Mudo.
At 9:24 AM, Paulo Cunha Porto said…
É verdadíssimo, Muito Caro António Viriato. É-nos difícil arranjar, até porque no íntimo não queremos, DCA contra as asas desse maroto. E tanto mais quando o «aprumo», como muito bem escreveu, é sobretudo o desempenho de um papel.
Muito Caro Mendo:
Um exdtraordinário Actor que poderia ter tido ainda mais saída se a História em redor tivesse sido benévola.
Abraços a Ambos.
At 3:27 AM, Anonymous said…
Bendita Cinemateca que me permitiu vê-lo nos dois filmes referidos. E ainda, se a memória não me atraiçoa, em "Fausto", também de Murnau,no papel de Diabo.
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