Anjo ou Demónio?
Se houve um vulto intelectual francês de relevo que se pode chamar um Nacional-Socialista, ele é Alexis Carrel, nascido num 28 de Junho. Há vozes conhecedoras que sugerem Céline, mas, quanto a mim, deixam-se enganar pelo anti-semitismo dele, como o próprio também o terá sido, já que os escritos respectivos o tornam incompatível com partidos. Não assim outro médico, de muito maior dimensão, porque investigador, esse Carrel que aderiu ao PPF de Jacques Doriot. É um caso estranhíssimo: um Homem contemplado com o Prémio Nobel da Medicina e admirado
por razões com que todos concordarão, como a introdução do método de Dakin-Carrel, que salvou tantos feridos de guerra, antes da generalização do uso dos antibióticos. Como precursor foi dos transplantes cardíacos, ao prolongar a vida útil dos orgãos, de parceria com Lindberg, graças a um aparelhómetro por este concretizado. Mas o mesmo homem que diminuiu o sofrimento de tanta gente era o mesmo que defendia a eliminação dos «membros inferiores das sociedades», num eugenismo à outrance. Como estranha e repulsiva nos surge a sua admiração por todos os altos índices de inteligência, criminosos incluídos, a quem reservaria um papel na condução dos negócios públicos. Também na Religião a sua atitude foi dúbia. Se descobriu o valor da Oração na véspera de ser perseguido por colaboracionismo, do que a morte o terá, atempadamente, livrado, caiu mal em toda a Igreja Francesa a sua insistência em desvalorizar os métodos de análise usados por colegas seus a propósito do Fenómeno de Lourdes, considerando os seus os únicos fiáveis. Se não se pode concordar com o ridículo apagamento do nome do grande cientista das ruas francesas, surge sempre o incómodo de equacionar a vida de um homem que não se importava de matar inocentes, em clara colisão com o juramento profissional a que se vinculara. Não esqueço que «O Homem, Esse Desconhecido» me revelou, na adolescência, muito sobre a Espécie. Porém, olhando-lhe a vida fica-me, tal como da leitura dessa obra, um travo muito amargo.
por razões com que todos concordarão, como a introdução do método de Dakin-Carrel, que salvou tantos feridos de guerra, antes da generalização do uso dos antibióticos. Como precursor foi dos transplantes cardíacos, ao prolongar a vida útil dos orgãos, de parceria com Lindberg, graças a um aparelhómetro por este concretizado. Mas o mesmo homem que diminuiu o sofrimento de tanta gente era o mesmo que defendia a eliminação dos «membros inferiores das sociedades», num eugenismo à outrance. Como estranha e repulsiva nos surge a sua admiração por todos os altos índices de inteligência, criminosos incluídos, a quem reservaria um papel na condução dos negócios públicos. Também na Religião a sua atitude foi dúbia. Se descobriu o valor da Oração na véspera de ser perseguido por colaboracionismo, do que a morte o terá, atempadamente, livrado, caiu mal em toda a Igreja Francesa a sua insistência em desvalorizar os métodos de análise usados por colegas seus a propósito do Fenómeno de Lourdes, considerando os seus os únicos fiáveis. Se não se pode concordar com o ridículo apagamento do nome do grande cientista das ruas francesas, surge sempre o incómodo de equacionar a vida de um homem que não se importava de matar inocentes, em clara colisão com o juramento profissional a que se vinculara. Não esqueço que «O Homem, Esse Desconhecido» me revelou, na adolescência, muito sobre a Espécie. Porém, olhando-lhe a vida fica-me, tal como da leitura dessa obra, um travo muito amargo.
4 Comments:
At 1:06 AM, António Viriato said…
É curioso que li esse livro «O Homem, esse desconhecido» na adolescência e confesso que me causou viva impressão, mas já não recordo bem essa defesa do Eugenismo. Alexis Carrel e Le Conte de Noyut, não estou certo deste nome, foram muito populares, em França e em Portugal e os seus livros foram traduzidos para bom português, por Cruz Malpique, que também escreveu obras de orientação para a juventude e de exortação moral, em geral. Há muito que não ouvia falar destes nomes. Por momentos, senti-me regressado ao espírito com que devorava esses livros, numa época de grande candura, ilusão e ãnsia de saber. Agradeço-lhe a evocação.
At 8:54 AM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro António Viriato:
é bem verdade que Carrel e Lecomte de Nouy tiveram grande voga. E Malpique, quer como tradutor, quer nos seus próprios livros, sempre o vi como figura estimável no despertar da curiosidade dos leitores para temáticas não de imediata adesão. Honra seja feita a Pacheco Pereira, que o evocou, recentemente.
De Carrel há um outro livrinho traduzido, de "regras para a vida", em que a auto-suficiência do sábio é equilibrada pelo que parece um genuíno interesse pelo Outro, ao tentar melhorar as condutas. Considerando a biografia e algumas das teses que ao longo da vida defendeu, pode-se concluir que, por vezes, o Saber cega.
Forte abraço.
At 6:21 PM, João Villalobos said…
Muito bom post, abraço grande.
At 6:36 PM, Paulo Cunha Porto said…
Obrigado, Amigão. Temia-Te em férias.
Abraço apertado.
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