O Fim de um Mundo
A 28 de Junho de 1914 as balas assassinas de uma Mão Negra sérvia - já que outra, bem perto de nós, "tivemos" -, patrocinadas pelo fanatismo de um chefe dos serviços secretos deste País à revelia do seu próprio governo, matavam o Herdeiro do Imperio Austro-Húngaro, regime benévolo que tinha conseguido manter a paz sobre uma paleta enorme de povos, durante décadas. Mas o pior de tudo estava para vir. O jogo das alianças e a irredutibilidade de posições no cenário imediatamente posterior ao atentado viriam a desencadear um conflito europeu diferente de todos os outros, por substituir à guerra dos Reis a guerra dos ódios. Arrastando-se por essa novidade que era a idade da massificação e da trincheira, ambas minorações do homem, condenado a diluir-se ou enterrar-se, viria a terminar com o fim de quatro Impérios e o surgimento de repúblicas num Continente que, antes, só conhecia as da França, da Suíça, de São Marino e (oh vergonha!) de Portugal.
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Toda uma geração de combatentes ficou marcada por essa forma de lutar em que a morte sobressaía face à glória, sendo que, nas nações que perderam ou ganharam mal - como a Itália -, se avolumou entre os sacrificados sobreviventes o sentimento de camaradagem com os que lutaram e da frustração do seu esforço, com inerente culpabilização dos governantes. A insensatez dos vencedores lançou gasolina no fogo, criando fronteiras abstrusas e estados artificiais que toda a gente via potencialmente criadores de novo e ainda mais mortífero embate, como veio a acontecer e cuja sombra ainda hoje nos marca.
E para quê? A Sérvia voltou às suas dimensões primitivas e, bem ao contrário do que pretendia o despoletador do atentado, luta para não se apequenar ainda mais, com a perda do Kosovo. Aquelas malditas balas fizeram mal imenso e a ninguém aproveitaram.
Salvo aos inimigos da Europa, mas esses são os meus adversários.
4 Comments:
At 11:50 AM, Anonymous said…
Belo texto.
Só não concordo com a última linha: essa "Europa" que V. preza e a que se apega acabou com esse Mundo. Fim. O buraco da bala é o ponto final.
Hoje os inimigos dessa ideia estão "lá" dentro - mas não são os turcos. Nem os chineses, nem os árabes.
São os ditos "europeístas", muito variadamente travestidos - do grisáceo tecnocrata ao colorido blogocretino, da estrasburguesa elegante ao neopagão de subúrbio.
(Mera Culpa)
At 3:39 PM, JSM said…
Caro Paulo Cunha Porto
Excelente a descrição e quase que concordo com o comentário. A verdade é que sem um decisivo ajuste de contas será muito difícil, ou demorará muito tempo, até que possamos dar um novo rumo à Europa. A França é a chave, mas a fechadura está cada vez mais enferrujada.
Ainda Você se admira com a minha 'aliança' com o Oriente!
Um abraço.
At 3:57 PM, Flávio Santos said…
Falar sobre o tema obriga a referir o papel da maçonaria no desencadear do conflito e no seu obscuro desígnio de destruição das monarquias europeias.
At 6:30 PM, Paulo Cunha Porto said…
Mera Culpa:
Mas é que eu acredito na Ressurreição. Que fará voltar o Corpo Sepultado ao Esplendor da Glória, sacudindo os vermes que tão bem elencou, no Seu comentário.
Meu Caro JSM:
Cabe-nos a nós mudá-la. A França apresenta problemas específicos, bem o sei. Mas que cada um faça a sua parte no seu País, sem temor de ser tolhido pelos outros. Os nossos adversários sabiam bem que a força das ideias não conhece fronteiras e pode actuar em vários sítios, ao mesmo tempo. Cumpre tornar as nossas derrotas de ontem provisórias.
E nada tenho contra as ligações orientais, unicamente contra o entendimento mais extremo e fanatizado do Islão.
Abraços.
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