Apropriação Colectiva
Lembrava, certeiro como sempre, há dias, o FSantos que o 1º de Maio também era alvo de grande comemoração na Itália Fascista. É bem verdade, como o era em outras governações nacionalistas, de vários matizes. E mesmo naqueles que não se inscreviam num activismo revolucionário de movimento, como a França de Vichy, com a sua Festa do Trabalho presidida pelo Marechal, ou o nosso Estado Novo, com a folga da tarde do dia recheada pela distribuição de cervejas à borla na FNAT.
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Hoje só nos EUA e, julgo, no Canadá a data não é reconhecida. Na Federação norte-americana por manifesta incomodidade do ultra-liberalismo em lidar com o passado, ao ponto de criar um feriado sem significado, em sua substituição, denominado Dia do Trabalhador, celebrado na primeira Segunda-Feira de Setembro.É que foi em Chicago que tudo começou. Com uma reivindicação que, para já não falar da humanidade, deveria ter tido imediata resposta positiva ditada pelo bom senso: a redução do horário de trabalho das treze horas diárias do mundo anglo-saxónico industrializado, para as oito, de forma a permitir viver com dignidade. A repressão do egoísmo capitalista foi dura. Se nas execuções decorrentes da bomba feita explodir no comício da Praça do Haymarket ainda havia a desculpa de combater uma criminalidade de difusa autoria, pouco antes tinham sido mortos quatro grevistas que não tinham optado por violência. É isto que ainda hoje dói. Claro que o sindicalismo anarquista já tinha tentado açambarcar e instrumentalizar aquela luta específica, como hoje faz a CGTP/IN, com menos escrúpulo ainda do que esta, no que à violência tange. Mas o filtro do tempo depressa separou as águas; e hoje podemos constatar que quem foi instrumentalizado foi o internacionalismo anarca, por um objectivo que orgulha quase todos.
5 Comments:
At 2:23 PM, Marco Aurélio said…
Paulo
Você sabia que hoje, graças ao Governador de Minas Gerais Aécio Neves e ao novo aumento do salário mínimo “dado” por Lula, um professor concursado do ensino médio do estado de Minas Gerais passa a ganhar menos de dois salários mínimos por um cargo completo?
Um abraço
Marco Aurélio
At 4:13 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Marco Aurélio:
não sabia. Isso demonstra bem a conta em que essa gente tem a transmissão do saber. Estamos entregues aos bichos, sem ofensa para os verdadeiros.
Abraço.
At 4:51 PM, Paulo Cunha Porto said…
Claro está, Caríssimo SA, que um ideal superior que unisse trabalho e capital seria o veículo correcto para eliminar o conflito da vida laboral, como o que se apresentou no Illinois por 1880´s. Preparo, aliás, um "post", que temo merecer discordância acérrima de alguns Amigos desta casa, sobre o que foi o triste avatar do corporativismo e o que poderia ter sido, considerando a pureza do ideal.
Abraço.
At 8:36 PM, vs said…
Pois é Paulo, agora vou ter de 'desafinar'.
O facto de não se comemorar o 1º de maio operário na 'federação norte-americana' nada tem de extraordinário.
Os americanos não lhe sentem a falta.
Há uns tempos passou pelas minhas mãos um livro chamado 'Porque não houve Socialismo nos EUA'.
O título, acho eu, diz tudo.
Embora deplore os excesso que tenham exitido na altira por parte do governo da tal 'federação' não alinho nesta 'onda'.
Se o Paulo reparar, ainda hoje são muito raras as greves nos EUA.
Pelo menos, muito mais raras que na Europa e tal facto não se deve a qualquer proibição de greves.
A realidade nua e crua é que tomaram os trabalhadores europeus as condições (e salários) dos trabalhadores dos EUA.
O salário mínimo (sim, existe SMN nos EUA) nesse 'inferno liberal' é superior ao de quase todos os países da Europa.
Os EUA são um país com enormes despesas, como:
- sustentar um ror de guerras
- sustentar um vastíssima panóplia de bases militares e um Exército disperso pelo mundo
- sustentar a 'ajuda humanitária' (e a pedincha crónica) de 'meio mundo'
e..., ainda lhe 'sobra tempo' para crescerem económicamente ao dobro da taxa da UE e com menos de metade do desemprego.
Para cúmulo, aplicando o mesmíssimo método de cálculo, verificamos que as pessoas 'abaixo do limiar da pobreza' são, em Portugal, quase o dobro da percentagem que existe nessa situação nos EUA.
A UE, como um todo, tem maior percentagem de pobres que os EUA.
Acho que respondi a um seu post anterior: esta 'alta' dos EUA deve-se (não só, mas também) ao seu sistema económico largamente satisfatório e extremamente eficaz.
A Europa deveria tirar as devidas ilações....mas parece que não, como vemos em França.
É caso para dizer: o Socialismo é muito bonito. Eu gosto muito do Socialismo.O Socialismo é muito bonito.
ps-E os católicos dos EUA (24% da população) estão notavelmente integrados naquele 'antro liberalóide' :)
At 8:22 AM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Nelson:
Claro que a especificidade do caso americano, em termos de impenetrabilidade das ideias socialistas, é bem conhecida. Quase tanto como o poderio económico. E, por lá, o sindicalismo, embora muito poderoso, tem mais a força das mafias do que a das reivindicações.
Onde discordamos, amigavelmente, claro, é na desnecesidade do tal dia. Se assim fosse por que carga d´água teriam instituído um feriado asséptico?
Volto à minha: há uma malévola insensibilidade perante um facto que deveria revoltar qualquer um -ter havido sociedades ditas livres em que as pessoas eram obrigadas a trabalhar treze(!) horas por dia!
Abração.
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