Por Entre os Dedos

Nunca gostei, um bocadinho que fosse, de Slobodan Milosevic. Para além dos preconceitos que, reconheço-o, alimento contra o nacionalismo sérvio, o qual reputo de causador imediato do fim de uma ideia de Europa que ainda oferecia alguns pontos de contacto com a minha, vi-o, como toda a Gente, aliás, tal malabarista sem escrúpulo nem integridade. Se manifestei oposição à intervenção norte-americana (via NATO) na ex-Jugoslávia, essa criação estúpida cujo fim se saúda, foi porque, não me impressionando minimamente com intervenções dos yanks pelo Mundo fora, delas gostaria de preservar o meu Continente.

Dito isto, fico satisfeito com o facto de que a morte dele tenha, depois de outras, como a de Babic, ainda não há muitos dias, vindo dar mais uma machadada nessa horrenda ficção da legalidade que é o TPI de Haia. Não acredito em processos jurídicos justos contra os perdedores de guerras. Nos casos de culpas mais repugnantes, veria com bons olhos que os entregassem ao inimigo e os eliminassem ao abrigo do direito dos vencedores. Sem qualquer adesão, ou reconhecimento de imparcialidade, admitir-se-ia ainda "julgamentos" em instâncias nacionais, pelos sucessores deles no mando. Uma instância pretendidamente imparcial baseada na supra-nacionalidade é que não. Corresponderá sempre à consagração da barbárie fatalmente encontrável no homem, onde quer que ele esteja, parcamente velada pelas gazes da justiça, à qual, para o efeito, é assimilada uma ideologia particular.

O que se disse antes fica bem ilustrado pelas declarações da procuradora Ponte. Não se calou, como devia, nem sequer deu a resposta de circunstância habitual nos falecimentos. Disse que lamentava que o ex-presidente balcânico tivesse morrido, «por frustrar a acusação» que ela dirigira. Repelente mais repelente não há.