O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Saturday, March 25, 2006

Leitura Nocturnal -306

Por que será que, patentes tantos restos de civilizações poderosas
no Mundo inteiro, só no Ocidente se verifique, com significado, a mirada para essa ancestralidade, incomodada pela fraqueza actual? Há um diálogo perpetuamente conflituante entre História e Propaganda, a segunda proclamando a supremacia do Presente, em que ninguém acredita, tamanha é a força do desmentido das crónicas da outra. Transposto este sentir para um lugar mítico de partida para conquistas e descobertas, o crepúsculo de uma pacificação que é podridão, porque não tem a grandeza da Paz, ou o alívio da Trégua, está criado o plano de paralelo com o interior de tantos indivíduos vindos de origens imprecisas, a que o afecto ainda liga, olhos postos na linha em que o Sol desce, sempre hipotético destino que desmente a alternativa do regresso. Da dolência fragmentária libertada do repetido momento diário de uma Capital - que de Império já foi - brota a pressão dos ocasos singulares testemunhados por habitantes, contagiando os visitantes, que são os de toda uma Civilização.
De Manuel Alegre:

POENTES DE LISBOA

Os poentes de Lisboa sabem a
Ocidente
há neles um barco antigo a partir para
o reino ausente.

Os poentes de Lisboa trazem um
sentimento de grande nostalgia
há neles alguém que vem de mar nenhum
carregado de Tejo e de melancolia.

Os poentes de Lisboa são quer se
queira quer não
uma canção partindo-se partindo-se.

Os poentes de Lisboa intensamente
são
o Ocidente.

A pintura é «Crepúsculo no Ocidente», de Anselm Kiefer.

6 Comments:

  • At 8:33 PM, Blogger Flávio Santos said…

    E escolheste alguém que deu o seu contributo para o "crepúsculo do Ocidente".

     
  • At 8:39 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Não confundir posições políticas com trabalho literário, Caro F.
    Mas eu sabia...
    Abraço.

     
  • At 9:09 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Sábio Piu, Mocho Amiga, com opção a condizer. Mas, para sermos coerentes com o poema e a preocupação dele destilada, também Esse já conheceu melhores dias...
    Bj.

     
  • At 11:20 PM, Anonymous Anonymous said…

    Caro Paulo:
    O Alvaro de Campos lá dizia: "E aqui tornei a voltar, e a voltar, E aqui de novo tornei a voltar?...Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e Tudo"
    Eu acho que o crepúsculo e o poente, tal como sonho do amanhecer, "madrugada irreal do quinto Império" pesam mais sobre a alma desta cidade - ou será dentro de nós póprios? - que sobre qualquer outra.
    E também eu aqui voltei;... aquelas imagens abaixo da velha Lisboa (e como pesa, a velha Lisboa, na nossa alma) estavam a pedir o poema.
    Abraço
    Pedro Rodrigues

     
  • At 12:45 AM, Blogger Eurico de Barros said…

    Manuel Alegre? Poesia cobertor-de-papa? Livra! Não sei qual é pior, se o político, se o poeta! Blargh!

     
  • At 10:45 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Meu Caro Pedro Rodrigues: Creio que sim, que é bem o local privilegiado para unir as ensibilidades geográfica e pessoais aos momentos de encontro entre Sol e Obscuridade, simbolizados pelos Pontos Cardeais do Braço Transversal da Cuz. E também pretexto para a identificação sentimental face às alterações das épocas, como tentei defender no comentário.
    E, sim, a Veneza do Canaletto evoca muito a Lisboa pré-terramoto.
    Grande abraço, muito grato.

    Meu Caro Eurico: não concordo nem um pouquinho. Se com o Político tenho algumas deiscordânciaws sérias, embora nem sempre, longe disso, o Poeta é um dos grandes da Contemporaneidade.
    Abraços a Ambos.

     

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