Leitura Nocturnal -306
Por que será que, patentes tantos restos de civilizações poderosas
no Mundo inteiro, só no Ocidente se verifique, com significado, a mirada para essa ancestralidade, incomodada pela fraqueza actual? Há um diálogo perpetuamente conflituante entre História e Propaganda, a segunda proclamando a supremacia do Presente, em que ninguém acredita, tamanha é a força do desmentido das crónicas da outra. Transposto este sentir para um lugar mítico de partida para conquistas e descobertas, o crepúsculo de uma pacificação que é podridão, porque não tem a grandeza da Paz, ou o alívio da Trégua, está criado o plano de paralelo com o interior de tantos indivíduos vindos de origens imprecisas, a que o afecto ainda liga, olhos postos na linha em que o Sol desce, sempre hipotético destino que desmente a alternativa do regresso. Da dolência fragmentária libertada do repetido momento diário de uma Capital - que de Império já foi - brota a pressão dos ocasos singulares testemunhados por habitantes, contagiando os visitantes, que são os de toda uma Civilização.
De Manuel Alegre:
POENTES DE LISBOA
Os poentes de Lisboa sabem a
Ocidente
há neles um barco antigo a partir para
o reino ausente.
Os poentes de Lisboa trazem um
sentimento de grande nostalgia
há neles alguém que vem de mar nenhum
carregado de Tejo e de melancolia.
Os poentes de Lisboa são quer se
queira quer não
uma canção partindo-se partindo-se.
Os poentes de Lisboa intensamente
são
o Ocidente.
A pintura é «Crepúsculo no Ocidente», de Anselm Kiefer.
no Mundo inteiro, só no Ocidente se verifique, com significado, a mirada para essa ancestralidade, incomodada pela fraqueza actual? Há um diálogo perpetuamente conflituante entre História e Propaganda, a segunda proclamando a supremacia do Presente, em que ninguém acredita, tamanha é a força do desmentido das crónicas da outra. Transposto este sentir para um lugar mítico de partida para conquistas e descobertas, o crepúsculo de uma pacificação que é podridão, porque não tem a grandeza da Paz, ou o alívio da Trégua, está criado o plano de paralelo com o interior de tantos indivíduos vindos de origens imprecisas, a que o afecto ainda liga, olhos postos na linha em que o Sol desce, sempre hipotético destino que desmente a alternativa do regresso. Da dolência fragmentária libertada do repetido momento diário de uma Capital - que de Império já foi - brota a pressão dos ocasos singulares testemunhados por habitantes, contagiando os visitantes, que são os de toda uma Civilização.
De Manuel Alegre:
POENTES DE LISBOA
Os poentes de Lisboa sabem a
Ocidente
há neles um barco antigo a partir para
o reino ausente.
Os poentes de Lisboa trazem um
sentimento de grande nostalgia
há neles alguém que vem de mar nenhum
carregado de Tejo e de melancolia.
Os poentes de Lisboa são quer se
queira quer não
uma canção partindo-se partindo-se.
Os poentes de Lisboa intensamente
são
o Ocidente.
A pintura é «Crepúsculo no Ocidente», de Anselm Kiefer.
6 Comments:
At 8:33 PM, Flávio Santos said…
E escolheste alguém que deu o seu contributo para o "crepúsculo do Ocidente".
At 8:39 PM, Paulo Cunha Porto said…
Não confundir posições políticas com trabalho literário, Caro F.
Mas eu sabia...
Abraço.
At 9:09 PM, Paulo Cunha Porto said…
Sábio Piu, Mocho Amiga, com opção a condizer. Mas, para sermos coerentes com o poema e a preocupação dele destilada, também Esse já conheceu melhores dias...
Bj.
At 11:20 PM, Anonymous said…
Caro Paulo:
O Alvaro de Campos lá dizia: "E aqui tornei a voltar, e a voltar, E aqui de novo tornei a voltar?...Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e Tudo"
Eu acho que o crepúsculo e o poente, tal como sonho do amanhecer, "madrugada irreal do quinto Império" pesam mais sobre a alma desta cidade - ou será dentro de nós póprios? - que sobre qualquer outra.
E também eu aqui voltei;... aquelas imagens abaixo da velha Lisboa (e como pesa, a velha Lisboa, na nossa alma) estavam a pedir o poema.
Abraço
Pedro Rodrigues
At 12:45 AM, Eurico de Barros said…
Manuel Alegre? Poesia cobertor-de-papa? Livra! Não sei qual é pior, se o político, se o poeta! Blargh!
At 10:45 AM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Pedro Rodrigues: Creio que sim, que é bem o local privilegiado para unir as ensibilidades geográfica e pessoais aos momentos de encontro entre Sol e Obscuridade, simbolizados pelos Pontos Cardeais do Braço Transversal da Cuz. E também pretexto para a identificação sentimental face às alterações das épocas, como tentei defender no comentário.
E, sim, a Veneza do Canaletto evoca muito a Lisboa pré-terramoto.
Grande abraço, muito grato.
Meu Caro Eurico: não concordo nem um pouquinho. Se com o Político tenho algumas deiscordânciaws sérias, embora nem sempre, longe disso, o Poeta é um dos grandes da Contemporaneidade.
Abraços a Ambos.
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