Leitura Matinal -300
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Usando o Picasa, para tornear a renitência do blogger residente:
.
A visão das palavras, segundo Justin Simoni.
De Gilbert Sorrentino, trazido por Manuel
de Seabra:
ARS LONGA
Le blanc souci de notre toile
Cuidadosamente como um homem atando tomateiros,
querendo ser arranjadas, as palavras,
são toda a nossa preocupação, como esse talentoso
pequeno fumador sabia,
o que é dito é melhor do que dito se a
página for atacada com força.
Seixos num riacho, os círculos
que causam não têm importância,
a memória desses círculos, porém,
ah, a lembrança deles da próxima vez
que atirarmos seixos, há uma
comparação silenciosa, discutem na água
como a água no cérebro, o
riacho da agitação de ontem. Gravados
finamente, nem lamentam nem choram, as
palavras não são nem a experiência
nem a sua expressão; uma barreira de celofane,
para te enredar ternamente, ou ferozmente,
uma aqui! uma ali! uma está em dois
ou três lugares ao...! ou é
ontem, que é isto, um poema?
um grupo de palavras, um monstro da
tarde, baixa a cabeça poderosamente, está em
plena posse da terra e do mar,
enche a nossa vela, enche a nossa vela
enche a nossa vela, enche
a nossa vela, enche a nossa
vela, enche a nossa vela.
Usando o Picasa, para tornear a renitência do blogger residente:
.
A visão das palavras, segundo Justin Simoni.
De Gilbert Sorrentino, trazido por Manuel
de Seabra:
ARS LONGA
Le blanc souci de notre toile
Cuidadosamente como um homem atando tomateiros,
querendo ser arranjadas, as palavras,
são toda a nossa preocupação, como esse talentoso
pequeno fumador sabia,
o que é dito é melhor do que dito se a
página for atacada com força.
Seixos num riacho, os círculos
que causam não têm importância,
a memória desses círculos, porém,
ah, a lembrança deles da próxima vez
que atirarmos seixos, há uma
comparação silenciosa, discutem na água
como a água no cérebro, o
riacho da agitação de ontem. Gravados
finamente, nem lamentam nem choram, as
palavras não são nem a experiência
nem a sua expressão; uma barreira de celofane,
para te enredar ternamente, ou ferozmente,
uma aqui! uma ali! uma está em dois
ou três lugares ao...! ou é
ontem, que é isto, um poema?
um grupo de palavras, um monstro da
tarde, baixa a cabeça poderosamente, está em
plena posse da terra e do mar,
enche a nossa vela, enche a nossa vela
enche a nossa vela, enche
a nossa vela, enche a nossa
vela, enche a nossa vela.
5 Comments:
At 6:42 PM, João Villalobos said…
Grandioso poema! Bravo.
At 6:47 PM, Viajante said…
Num poema, as palavras jão não o são apenas. Trazem luzes e sombras, lágrimas e risos, amores e tristezas, desabrochares
e feneceres, luares e estrelas, morte e vida.
Num poema, as palavras voam para além.
“Compreender a poesia é olhá-la sem a tentação de lhe perguntar nada. É aceitar o núcleo de silêncio donde todas as formas se destacam. A obra vale pela densidade de silêncio que impõe. Por isso os poetas que imaginam dizer tudo são tão vãos como as estátuas gesticulantes”.
(E.Lourenço, Tempo e Poesia).
:)
At 9:27 AM, Paulo Cunha Porto said…
Obrigado, Caríssimo João. Calculava que fosses sensível à estética dele.
Lourenciana (não Lawrenciana) Viajante:
É esse silêncio, quando tonificador da transmissão das cumplicidades, ou da afinidade do sentir, a mais profunda concretização do mistério da poesia, que, afinal, mais não é do que o duplo sedutor da inevitabilidade prática da linguagem. Nesse sentido, as palavras poupadas acabam por resultar em mais-valia das palavras aplicadas. Mas há sempre uma "décalage" entre o expresso e o experienciado ou recordado. Pois de Outro Mundo, muito pessoal, é o filtro da sensibilidade. Que ganha poder de depuração com o coador do "Imperativo Estético".
At 10:26 AM, Viajante said…
Quem disse «Lourenciana»? (risos).
Será que uma citação faz um gosto?
Não, nem perto. Pode até concordar-se sendo pouco significativo numa leitura ampla...
Não poupemos demasiado as palavras, sussurra a advertência que gosta do dízivel.
Mas silencio-me e deixo-Vos Whitman, que hoje virei-me para ele :)
I SIT and look out upon all the sorrows of the world, and upon all oppression and shame;
I hear secret convulsive sobs from young men, at anguish with themselves, remorseful after
deeds
done;
I see, in low life, the mother misused by her children, dying, neglected, gaunt,
desperate;
I see the wife misused by her husband—I see the treacherous seducer of young women;
I mark the ranklings of jealousy and unrequited love, attempted to be hid—I see these
sights on
the earth;
I see the workings of battle, pestilence, tyranny—I see martyrs and prisoners;
I observe a famine at sea—I observe the sailors casting lots who shall be
kill’d, to
preserve the lives of the rest;
I observe the slights and degradations cast by arrogant persons upon laborers, the poor,
and
upon
negroes, and the like;
All these—All the meanness and agony without end, I sitting, look out upon,
See, hear, and am silent.
At 7:15 PM, Paulo Cunha Porto said…
Esse Whitman será pago com apodo similar ao rejeitado...
Querida Viajante: «Não as poupemos» e optais por reduzir-Vos ao silêncio? Claro que este pode ser significativo, do Horror, da Cumplicidade, do Amor, no limite, um interpelante escravizado a esses Senhores. O Além das palavras - ou da abstenção delas -existe, mas considerado o receptor real ou potencial. Por muito belas que sejam, no formulador estão sempre aquém, apesar do investimento nelas colocado. Que pode aprisionar, tanto como transmitir força.
A que me permite deixar-Vos um beijo.
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