Agente Duplo

Já disse o que penso da encenação de uma atitude "revolucionária" pelos manifestantes estudantis de França. Outro aspecto, subsidiário somente da falta de pudor, ou do sempre renovado vício de os políticos partidários tomarem por parvas as pessoas, foi a angélica comunicação do Presidente Chirac, exortando o governo do seu país a negociar com os contestatários e a com eles chegar a um consenso. Pode o homem do Eliseu escudar-se à vontade nas atribuições constitucionalmente prescritas, que ninguém o acreditará. Sabe-se como em França, desde que da mesma cor política, o Primeiro-Ministro pouco menos é do que um moço de recados da Presidência. E seriam precisos prodígios de imaginação para ver no Sr. de Villepin uma personalidade política autónoma. Pode-se dizer, sem grande receio de engano, que, testando a anestesia do público, ambos se conluiaram para atirar o barro à parede. Se tivesse pegado, óptimo. Como parece haver dificuldades de aderência, procura-se, pela conciliação, salvar um pouco dessa projectada argila legislativa, com a vantagem adicional de fazer o verdadeiro chefe dos restos do gaullismo, interpretar um papel em que nada credível promete ser: o de bom da fita.