Leitura Matinal -299
É vício decorrente da pobreza da condição humana condenar cada novo
afecto ao papel de cura dos males de que se padece. Mas pior seria, porque frustrante das expectativas que envolvem a candidatura à comunhão, excluir esse peculiar valor terapêutico do seu poder. Na medida em que é das raras motivações que permitem superar a fadiga rotineira, a saturação que a cada um e cada um se impôs, todo o aspecto concreto da ternura é verdadeiramente a redenção e revivescência possíveis, embora provisórias que se contêm no suum quique tribure da Felicidade.
Porque ao mergulho de cabeça nesse onirismo, seja por via de Morfeu, seja absolutamente desperto, é atribuída a faculdade de sarar as inflicções lancinantes do Passado e o ramerrão extenuante do Presente. A brevidade do instante da entrega contribui tanto para o seu prestígio, como para o seu poder. Uma abstracção momentânea do fogo cruzado de sempre entre o sofrimento e o egoísmo, que
guia à identificação do statu quo existencial. Neste fomos afinal os alvos de uma angústia regeneradora, que, simulando tomar por objectivo a factualidade apresentada como nosso pano de fundo, acaba por fazer de cada um dos espectadores actorizados o alvo das suas competentíssimas picadas. Daí que os interlúdios das relações paroxísticas funcionem como a chaga aberta na ordem da Dor, trazendo à actualidade radical a intensidade oposta - o alívio.
De Fernando Luís Sampaio:
UMA FERIDA NA EXISTÊNCIA
Deixa o dia cerrar fileiras
depois do cansaço reúne
em teu redor o seu fulgor
derradeiro.
Uma camisa aqui, a escova dos dentes,
livros, no chão a alma
suficiente para novos lábios
desfazerem o ferido afecto.
A tua vida espalha-se como o mercúrio
solto há-de voltar a juntar-se
por virtude tua ou coragem
porque mesmo derrotado
o sonho é um abrigo iluminado pela inquietude,
uma ferida na existência.
Fundido com «Cansaço», de Janice, «Carícia», de Irina
e «Existência», de Antonio Puri.
afecto ao papel de cura dos males de que se padece. Mas pior seria, porque frustrante das expectativas que envolvem a candidatura à comunhão, excluir esse peculiar valor terapêutico do seu poder. Na medida em que é das raras motivações que permitem superar a fadiga rotineira, a saturação que a cada um e cada um se impôs, todo o aspecto concreto da ternura é verdadeiramente a redenção e revivescência possíveis, embora provisórias que se contêm no suum quique tribure da Felicidade.
Porque ao mergulho de cabeça nesse onirismo, seja por via de Morfeu, seja absolutamente desperto, é atribuída a faculdade de sarar as inflicções lancinantes do Passado e o ramerrão extenuante do Presente. A brevidade do instante da entrega contribui tanto para o seu prestígio, como para o seu poder. Uma abstracção momentânea do fogo cruzado de sempre entre o sofrimento e o egoísmo, que
guia à identificação do statu quo existencial. Neste fomos afinal os alvos de uma angústia regeneradora, que, simulando tomar por objectivo a factualidade apresentada como nosso pano de fundo, acaba por fazer de cada um dos espectadores actorizados o alvo das suas competentíssimas picadas. Daí que os interlúdios das relações paroxísticas funcionem como a chaga aberta na ordem da Dor, trazendo à actualidade radical a intensidade oposta - o alívio.
De Fernando Luís Sampaio:
UMA FERIDA NA EXISTÊNCIA
Deixa o dia cerrar fileiras
depois do cansaço reúne
em teu redor o seu fulgor
derradeiro.
Uma camisa aqui, a escova dos dentes,
livros, no chão a alma
suficiente para novos lábios
desfazerem o ferido afecto.
A tua vida espalha-se como o mercúrio
solto há-de voltar a juntar-se
por virtude tua ou coragem
porque mesmo derrotado
o sonho é um abrigo iluminado pela inquietude,
uma ferida na existência.
Fundido com «Cansaço», de Janice, «Carícia», de Irina
e «Existência», de Antonio Puri.
3 Comments:
At 3:43 PM, Anonymous said…
Hoje o "meu" poema é para Ti.
I.
At 4:40 PM, Viajante said…
Mesmo enquanto "alvos de uma angústia regeneradora", é muito paradoxal esse papel de espectador-actorizado. Ou do actor-observador/testemunha.
Interlúdios como chaga, entre o mal e o alívio... hum! e onde entra o «lamber a ferida», postador de meio termo, em interlúdio diverso?
:))
At 7:27 PM, Paulo Cunha Porto said…
Terei, oh Viajante, notado uma ponta de cepticismo na Vossa interjeição? Haverá alguém tão constantemente contentado, tão uniformemente feliz que não identifique o momento, ou o lugar, desse intervalo sem aguilhão actuante? Ora, paradoxal, claro! O Paradoxo da Vida, nem mais.
Que seria de nós fora dele? Outra coisa, por certo.
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