O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Tuesday, March 14, 2006

Leitura Matinal -295

A condição de beijo é muito ambígua. Já aqui se falou da relação.
com o tempo que, alegadamente, suspendem. Mas que dizer da autonomia de cada um? Para garanti-la haveria que rodear-se das referências externas que difrenciassem do seguinte, seria o beijo de olhos abertos, consagração da dificuldade de entrega, ou por temor, ou por mera insegurança técnica, digamos assim, por muito atroz que se revele a terminologia, para tão excelso assunto.
O ideal construído ao longo de séculos de elaborações sobre o tema é, na verdade, o da diluição das formas parcelares do par, com sequente fusão, e da integração das carícias sucessivas, com osculações incluídas numa continuidade em que cada fim fosse o próprio renascimento, significando a intensificação do ardor em todo o instante que se consome. Para cada um dos donos dos lábios que se juntam o que conta é a perfeita integração de cada gesto na volúpia arrastada e mítica do sentimento que se forma e que enforma. Estão longe de cuidar da individualidade de cada beijo cuja mortalidade desejam, na medida da sua imediata ressurreição, a condição afinal que lhes permite a extensão do tempo do prazer.
De Miguel Fernandez:

LOS BESOS

Tropiezam
y se persiguen
y se enroscan
y se hunden
y se ciñen
y se miden.

Florecen en continuas primaveras,
selvages, dulcísimos
ora caricia breve,
apenas leve gesto,
ya loco desenfreno,
frenetico ardor.

Cataclismo de dioses inmortales
lanzados a uma sima profunda
destrozándose las entranãs,
coronando las más altas cimas,
galopando en las azules etapas del firmamento,
bebiendo los oceanos interminables,
deshaciendo sus vidas
y renaciendo intactos
en un nuevo
beso.


As imagens: Além da Fénix, «O Beijo», de Kristen Sard
e «O Beijo Imperfeito», de Andrew Byde.

5 Comments:

  • At 12:42 PM, Anonymous Anonymous said…

    lindo
    um beijo...leve

     
  • At 11:15 PM, Blogger Jansenista said…

    Isto anda um bocadito beijoqueiro: cuidado com a mononucleose...

     
  • At 7:54 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Hihihihihi!
    Também tinha pensado nisso, tanto que adiei para as calendas gregas um "post" com uma pequena reflexão sobre manifestações históricas do ósculo...

     
  • At 4:07 PM, Blogger Viajante said…

    A «História do Beijo» não inclui simplesmente um dos géneros de beijo :) ainda que nele se centrem atenções e afectos, fins e renascimentos.
    O beijo fraterno ou filial, espontaneo, fora da cortesia - aqui, superficial -, de olhos abertos ou nem por isso, traduz ou transfere, de forma análoga. Com as devidas diferenças que, ainda assim, o enriquecem e libertam.

    Beijo, sorrindo.

     
  • At 9:10 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Sim, adorei a Vossa urbana versão de «seu palerma, beijos há muitos». Claro que sim; e nesses outros, os olhos abertos expressarão a atenção que é prima direita da concentração que requer o fecho deles nos beijos de amor. Porque nestes o olhar pelo canto do olho, para o parceiro ou para o Mundo, deixa perceber a desconfiança que fere.
    Beijo, sem negativides descritas.

     

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