Emoções Presidenciais
Noticia o «PÚBLICO» que o presidente Sampaio, visivelmente emocionado, declarou em Satão, onde beneficiou de uma calorosa recepção, que «é possível renovar os laços de afecto entre titulares de crgos políticos e populações, é possível renovar os elos da democracia portuguesa». Passe a simpatia que inspire a comoção do Chefe do Estado, a reacção exala um fedor a incompreensão do que em jogo está, bem como de antecipado desgosto com o que se está prestes a evaporar-se. O actual Chefe de Estado vê a sua aceitação disparar, em virtude da urbanidade de que é alvo quem está prestes a abandonar o cargo. É a única altura em que políticos eleitos podem pretender a consensualidade reconfortante. No mais, é pura desconfiança das populações que se apercebem de que, a cada mão estendida, os presumíveis contendores eleitorais fazem corresponder não uma cabeça, mas um boletim eleitoral. O que motiva o afastamento, até por se ter sempre presente uma alternativa que não vingou, ou que está prestes a desencadear a sua própria propositura. Única verdadeira opção fora do vicioso e viciado sistema é a entrega da Chefia do Estado a Alguém que não seja escolhido por uma parte contra a outra. Aí, o afecto não seria final, manifestar-se-ia enquanto durasse a vida do Titular do Cargo. Mas, claro, estaríamos diante de emoções Reais, não de simulacros presidenciais.
3 Comments:
At 10:52 AM, Anonymous said…
Em Satão a emoção. Em Nelas... a brevidade. O povo de Canas de Senhorim ainda não esqueceu o que se passou nem esqueceu que Sampaio foi um dos se não mesmo o principal protagonista de um caso caricato. Ontém fizeram-lhe «uma espera» e o senhor presidente acossado não teve outro remédio senão visitar Nelas «de fugida». Bem podem estes tristes presidentes dizerem que são o presidente de todos os portugueses. Há ainda o argumento surrealista, que vai implicar a anterior situação, de que a maioria presidencial se dissolve no acto da eleição. Mas eu pergunto, não é assim também em relação ao Primeiro-Ministro ou aos autarcas? Não serão também elas titulares de orgãos de soberania ou do poder local o que implica que o sejam de igual para todos e não apenas para alguns mal termine o acto eleitoral? Este tipo de declarações só me revelam uma coisa: o quão frágil é a chefia de Estado republicana e de que mais não é do que uma tentativa dos seus titulares se legitimarem a todo o custo como se de um Rei constitucional se tratassem, ainda que tenham consciência que não serão mais do que uma caricatura de um Rei. Mas como pode isso ser? E é aí que poderá residir tamanha insegurança. É que o presidente até pode ter sido eleito por sufrágio universal - atenção, que a eleição por sufrágio universal só aconteceu em Portugal, exceptuando o período sidonista, em 1976, 66 longos anos após a imposição da República. Só Eanes, Soares, Sampaio e agora Cavaco é que foram eleitos desta forma - mas a República essa ninguém a escolheu... nem a pediu!
At 12:29 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Paulo Selão:
Não só subscrevo tudo o que o Meu Amigo muito bem disse, como ainda atiro outra acha para a fogueira: a do hábito terceirorepublicano de inventar, de cada vez que coexistem maiorias presidenciais e governativas opostas, legitimidades que conflituem. A tal cultura do dissenso que tão cara é à Esquerda e que é a última coisa de que precisamos! Que nunca existiria com o Rei.
Um abraço.
At 3:26 PM, Anonymous said…
E há ainda o habito republicano de o Chefe de Estado necessitar de ser eleito por mais de 50% dos votos expressos para, penso eu, mais tarde justificar a legitimidade deste, argumentando que foi eleito com mais de metade dos votos do povo. Nada mais enganador, pelo menos no que respeita a Portugal. Se repararmos, nas últimas presidencias, o número de eleitores inscritos é de mais ou menos 8 milhões (ao todo, o número de portugueses entre emigrantes e os que habitam o território nacional são em número de 14 milhões). Destes 8 milhões apenas sensivelmente 5 milhões é que votaram (mais de 30% abstiveram-se e não se pense que só se absteve quem quis. Há ainda os doentes e moribundos que não podem, obviamente, ir votar. E os que não podem ir votar devido a outros factores e os que morreram recentemente e cujos nomes ainda fazem parte dos cadernos eleitorais). E destes 5 milhões apenas pouco mais de 3 milhões é que elegeram Cavaco (pouco mais de 20%). Logo é falso afirmar que o presidente é eleito com mais de 50% dos votos dos portugueses como é costume alguns dizerem. O correcto é afirmar que o presidente foi eleito com mais de 50% dos votos dos cidadãos eleitores que quiseram ou poderam participar no acto.
Finalmente, quero ainda chamar a atenção para a notícia do DN de sábado. Diz a referida notícia que a RTP fez pressão sobre a jornalista que fez a reportagem de Sampaio em Nelas para que esta não publicasse as imagenas em que aparece um grupo de populares de Canas de Senhorim a insultar o presidente. Não deixa de ser irónico principalmente numa altura em que tanto se fala em liberdades (de expressão e de imprensa). Sabidolas estes republicanos! Eles têm em mente a campanha de descrédito que foi levada a cabo contra El-Rei D. Carlos I e portanto evitam a todo o custo que o regime republicano seja posto em xeque portanto querem evitar que a imagem de SEXA (Isto aparece no site da Presidencia. Deduzo que signifique Sua Excelência mas lá que é patético é!) presidente seja sequer beliscada.
Tive pena foi de ter visto populares a brandir provocatóriamente a bandeira de Espanha. Em vez disso deviam era agitar com veemência a bandeira do Reino de Portugal. Aí é que eles ficavam mesmo histéricos e perdiam as estribeiras.
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