Leitura Matinal -237
No meio das muitas tentações que atormentam a humanidade, a de figurar o Demónio como jogador de Xadrez não é a menor delas. Talvez porque haja a noção de que seja o
jogo que melhor imagem constitui da nossa passagem pela terra. Cervantes dizia, com raro laconismo adicionado ao génio de sempre, que «a vida é uma partida de xadrez». Já a figura do diabrete xadrezista, tentando vencer o homem, tem um antepassado ilustre na história passada numa vila da Calábria, no Séc. XVI italiano, em que Paolo Boi perante uma rapariga deslumbrante que o havia desafiado pera tudo, partida xadrezística incluída, quase o tendo levado de vencida, descobre que era afinal o mafarrico disfarçado.
Nesta época de descrença em que nos espraiamos, com Satan reduzido a figura de festividades, seitas subversivas e... inspiração de músicas juvenis, apetece reler o grande Robert Browning: «Tudo o que ganhámos então com a nossa descrença é uma vida de dúvida diversificada pela Fé, em vez de uma de Fé diversificada pela dúvida. Nós chamámos-lhe o tabuleiro de xadrez preto, hoje chamamos-lhe o tabuleiro de xadrez branco».
Cada vez mais, aliás, encontramos a prescrição oficial dos agnosticismos como ponto intermédio entre as reivindicações dos ateus e a evolução vital na tradição religiosa. Que, querendo parecer equilíbrio, não é mais, para o Crente, do que uma vantagem temporária do Demo nessa imensa partida que é a História. Se soubermos resistir, apropriando-nos da máxima de Ralph Charell contra o multitudinário opositor que increpa a nossa constância com ameaças de segregação, «Evita a multidão. Elabora o teu pensamento independentemente. Sê o jogador de xadrez, não a peça», estaremos em boa posição para evitar o mate e pôr, por sua vez, em cheque o chifrudo.
Para tanto, é preciso que saibamos defender a axiologia da Ordem contra os anti-valores do Caos que o Pé Fendido tenta semear. E nada como procurar auxílio em Ex-Colegas mais espertos e melhores do que ele, não só na inspiração para seguirmos a Via Certa, como também para que o façam perder o tempo precioso, doutra forma aplicável atentando a Espécie Humana. Um jogador nunca resiste ao apelo de uma partida, pois, por poderoso que seja, quer sempre mais, ver do seu lado a sorte que o justifique, substituindo a razão.
Mas, ao contrário do que pensa, este é um jogo que ele pode perder, até porque é racional. Depende de nós.
De Ian R,
CHESS
A man condemned to Hell
took with him his chessboard
and when he reached the gates of Hades
he chalenged the devil to a game for his freedom.
"I consent" said Satan "for you can´t win"
"The forces of darkness are omnipotent"
"Nevertheless, I would play you" said the man,
and he laid the board and pieces down and began.
The game lasted for hours,
for both were masters
the pieces were evenly matched
until with swift move the man prevailed.
"Now will I take my leave"
He spoke unto the Devil
And he sprouted wings and flew to heaven
and Satan shook his fist at Gabriel, who had tricked him again.
Acumulando com o desenho de V. Barthe, sobre a história
italiana, uma representação do Diabo do Xadrez, de autor
por apurar e «Caos e Ordem - O Diabo jogando xadrez com a
Humanidade», de M. Walker.
jogo que melhor imagem constitui da nossa passagem pela terra. Cervantes dizia, com raro laconismo adicionado ao génio de sempre, que «a vida é uma partida de xadrez». Já a figura do diabrete xadrezista, tentando vencer o homem, tem um antepassado ilustre na história passada numa vila da Calábria, no Séc. XVI italiano, em que Paolo Boi perante uma rapariga deslumbrante que o havia desafiado pera tudo, partida xadrezística incluída, quase o tendo levado de vencida, descobre que era afinal o mafarrico disfarçado.
Nesta época de descrença em que nos espraiamos, com Satan reduzido a figura de festividades, seitas subversivas e... inspiração de músicas juvenis, apetece reler o grande Robert Browning: «Tudo o que ganhámos então com a nossa descrença é uma vida de dúvida diversificada pela Fé, em vez de uma de Fé diversificada pela dúvida. Nós chamámos-lhe o tabuleiro de xadrez preto, hoje chamamos-lhe o tabuleiro de xadrez branco».
Cada vez mais, aliás, encontramos a prescrição oficial dos agnosticismos como ponto intermédio entre as reivindicações dos ateus e a evolução vital na tradição religiosa. Que, querendo parecer equilíbrio, não é mais, para o Crente, do que uma vantagem temporária do Demo nessa imensa partida que é a História. Se soubermos resistir, apropriando-nos da máxima de Ralph Charell contra o multitudinário opositor que increpa a nossa constância com ameaças de segregação, «Evita a multidão. Elabora o teu pensamento independentemente. Sê o jogador de xadrez, não a peça», estaremos em boa posição para evitar o mate e pôr, por sua vez, em cheque o chifrudo.
Para tanto, é preciso que saibamos defender a axiologia da Ordem contra os anti-valores do Caos que o Pé Fendido tenta semear. E nada como procurar auxílio em Ex-Colegas mais espertos e melhores do que ele, não só na inspiração para seguirmos a Via Certa, como também para que o façam perder o tempo precioso, doutra forma aplicável atentando a Espécie Humana. Um jogador nunca resiste ao apelo de uma partida, pois, por poderoso que seja, quer sempre mais, ver do seu lado a sorte que o justifique, substituindo a razão.
Mas, ao contrário do que pensa, este é um jogo que ele pode perder, até porque é racional. Depende de nós.
De Ian R,
CHESS
A man condemned to Hell
took with him his chessboard
and when he reached the gates of Hades
he chalenged the devil to a game for his freedom.
"I consent" said Satan "for you can´t win"
"The forces of darkness are omnipotent"
"Nevertheless, I would play you" said the man,
and he laid the board and pieces down and began.
The game lasted for hours,
for both were masters
the pieces were evenly matched
until with swift move the man prevailed.
"Now will I take my leave"
He spoke unto the Devil
And he sprouted wings and flew to heaven
and Satan shook his fist at Gabriel, who had tricked him again.
Acumulando com o desenho de V. Barthe, sobre a história
italiana, uma representação do Diabo do Xadrez, de autor
por apurar e «Caos e Ordem - O Diabo jogando xadrez com a
Humanidade», de M. Walker.
4 Comments:
At 12:50 PM, Flávio Santos said…
Não esquecer "O Sétimo Selo", a obra-prima de Ingmar Bergmann.
At 12:52 PM, Flávio Santos said…
Filme em que o jogo é contra a Morte.
Uma grande referência cinematográfica é igualmente "Os Jogadores de Xadrez", uma das muitas obras-primas do genial Satyajit Ray.
At 1:03 PM, JNAS said…
...Ocorreu-me logo o poema de Borges sobre o ancestral Jogo cujo enigma final é sempre este : «Deus move o jogador que move a peça, / Que deus atrás de Deus o ardil começa ?»
...
Cheguei a este blog ( EXCELENTE ) por outro não menos meritório e que dá pelo nome de Combustões.
...
Estão ambos na minha lista de favoritos e de tour diário à blogoesfera.
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Acaso vos interesse aqui deixo o id. do blog colectivo onde participo ! Pese embora seja orgulhosamente Micaelense não está de costas voltadas para o Mundo, por isso muito nos honraria com a V. visita em www.ilhas.blogspot.com
...
João Nuno Almeida e Sousa
At 4:03 PM, Paulo Cunha Porto said…
Caro FG Santos: tinhas de ser Tu a lembrar a andrógina figura encapuzada. Há uma cena extraordinária quando, na escolha da cor das pedras, o parceiro lhe diz «jogas com as pretas»; é inolvidável o ar com que respode: «naturalmente!».
O Sétimo Selo é um filme tão importante que merece um "post", só por si.
Caro João Nuno:
Muito obrigado pelas palavras que aqui deixou e seja Bem-Vindo. O poema de Borges é excelente lembrança, como o seria o de Pound, um dos mais influentes em todo o Século XX. Terei todo o gosto em visitar o blogue das Belas Ilhas Atlânticas.
Abraços a Ambos.
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