O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Wednesday, January 04, 2006

Leitura Matinal -229

Condenados, após a Queda, restariam duas opções ao Homem, perante o mais esfacelador dos conhecimentos: ou o choro estéril, ou essoutro, condensador
de sublimações várias que contrapondo um pouco de beleza e mutabilidade a um Mundo doravante privado da contemplação da Obra de Arte suprema, permita a Esperança de uma reaproximação, com o Final Feliz. E que, entretanto, se veja a luz inundando as sombras que escravizam, mas criando algumas que enriquecem. Ao ponto de induzir as dissenções de espíritos diversos a compartilharem um momento espiritual comum, o do desfrute maravilhado do Belo.
Nessa medida, a superfície aquosa a que a imagem do poeta nos faz chegar inclui todas as alteridades tranquilizadas, devolve as imagens de Artista e Público, lavadas pelo precioso líquido do apaziguamento, sem que, por isso, se tenham tornado deslavadas. É nos prodígios a que a arte humana chega que podemos identificar um primeiro momento de reabilitação, pronto a transportar-nos para o que o Rafael aconselha, isto é, Voos Mais Altos, melhores seres.















Diz-nos Charles Tomlinson:

FONTE

A arte nasce da dor, dizes. E eu devo reconhecer
Que Adão no Éden não precisaria de nenhuma.
Mas por que não há-de fluir como uma fonte romana,
Um jorro auspicioso entre o sol e a pedra?
Tudo o que uma fonte simula e dissemina -
Dispersando uma música de lugares públicos
Por rumores, reflexos, segredos e sombras -
É compensação pela dor onde teve início
Um desejo de falar para lá da boca ferida
E de levar ao uníssono as múltiplas vozes
Que tornam duplo um esforço, uma verdade vária,
Deixando um manto de água deslizar, escapar
Sobre um bordo do lago para se refazer enchendo
Com seus círculos tranquilos uma cisterna límpida,
E os entrelaçamentos de mármore e de musgo
Com ecos de distância, aqueduto e colina.



Através da «Inspiração do Movimento», de Joseph Stefanka,
bebendo na «Fonte»de Ingres, chegámos ao «Espelhando
Eternamente», de Hans Werner.

3 Comments:

  • At 10:46 AM, Anonymous Anonymous said…

    Sempre:
    O drama de estar "entre": mármore / musgo...


    notinha:
    este blog é viciador!

    Um bom dia.

     
  • At 3:47 PM, Blogger Viajante said…

    «Espelhando sempre»: bastaria o nome para captar segundo olhar, ao qual se torna a imagem se torna hipnótica. Parece ser a contemplação do Belo uma das formas de partilha mais unificadoras - ainda que o juízo do Belo, universal no particular, possa ele mesmo vir a trazer a dissenção. De vez em quando ou de quando em vez.

     
  • At 6:48 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Ainda bem, fico contente

    E, Bela Viajante,
    é tão verdade o que dizeis que invoco o Vosso Amigo Sócrates, o Ateniense, em cuja boca, no maior dos «Hípias» puseram, como única conclusão possível, a corroboração do provérbio que dizia ser «o Belo coisa difícil». Difícil porque nem sempre unívoca. Mas devem ter sido mais os momentos unificadores.

     

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