O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Wednesday, December 14, 2005

Sobre Putin

Dois Queridos Amigos, o Pedro Guedes e o FG Santos, esgrimiram
argumentos no 29º e no 30º (!!! Deus é Grande!) comentários a um
post deste blogue, sobre o Presidente Putin, da Rússia, a propósito
da Questão Tchechena. Aí vão uns alinhavos do que penso acerca
de ambos esses magnos assuntos:
Tenho boa opinião de Putin e estranho até que o notável Analista
internacional que é o Criador de «Santos da Casa» o reprove, pois
tem sido uma força tranquilamente oposta às linhas de força da
hegemonia norte-americana no que colidam com os interesses do seu
País e, igualmente, tem posto reservas a alguns aspectos da actuação
Israelita que mais desagradam ao nosso Amigo. Mas, posto isto,
peguemos o touro, de frente. Putin parece-me digno de apreço por
duas razões fundamentais: como dique contra o terrorismo islâmico e
como represa da própria População Russa, a qual, como comprova a
experiência histórica, quando liberta, se deixa facilmente guiar para
brutalidades internas ou externas sem par. E comparando com outros
políticos do pós-sovietismo é indivíduo discreto e relativamente
afastado da venalidade. Lembras-te do bebedolas Yeltsin, ou desse
Jirinowski que tão mau nome dá aos nacionalistas europeus? Parece
também injusta a acusação de reacender uma conflagração para ganhar
eleições. Não só as sondagens lhe davam ampla vantagem sem desse
auxílio precisar, como aquele conflito é absolutamente endémico,
gente que sempre viveu em pé de guerra, o que atesta toda a história
oitocentista da região, sem necessidade de recuar mais. Quanto
ao projecto de acordo de Lebed, acredito, pela natureza das coisas,
que o único acordo aceitável com terroristas é a bala, salvo em
casos de contenda em que ambas as comunidades em litígio empreguem
violência extra-estatal, como no Ulster. E não tentes desculpar as gentes
que querem, contra a maioria dos habitantes daquele território, uma
independência, para cuja obtenção não hesitam em levar a cabo inúteis
massacres de inocentes como os da escola local e do teatro moscovita.
Ao contrário de mortes civis em bombardeamentos, não se trata de
efeitos colaterais, as carnificinas são os objectivos últimos, para chamar
a atenção, já que se sabe não ir haver cedências e os seus autores
apregoarem, desde logo, a sua "vocação para o martírio".
Mais, Putin tem levado a cabo uma diplomacia interessante, lambendo
as feridas na relação com os ex-satelites e ex-membros da URSS.
Dir-me-ás que não tem tido piedade para com rivais perigosos, enviando-
-os sem grandes delongas, para estâncias siberianas de condições mais
que rudimentares. Mas quem são esses? Milionários recém-feitos com
ligações a mafias que não pensam duas vezes antes de matar. Não verto
uma lágrima por eles.
E não esqueças, Caríssimo, que uma Rússia minimamente organizada é
essencial, não só para não desaguar anarquicamente por esta Península
que é a Europa, como para encarnar o papel de tampão contra qualquer
solavanco da actuação internacional chinesa que determine esse enorme
País a vir passear para o Ocidente...

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