Leitura Matinal -224
Olhar o verde como a vida. Portador da Esperança da meninice, para a qual tudo é uma descoberta e fonte de interesse, atravessando confiante nas respostas que obtém e temendo a única ausência que
consegue captar, a da luz que a faz crescer, sem que se aperceba da omnipresente e muito mais letal ameaça que aumenta sempre e sempre espreita. Do desassossego que tirou, quer das descobertas, quer dos receios, gerou o interesse que a fez desabrochar, atingindo o apogeu da beleza e a fertilidade.
Sempre porém ameaçada pelo espectro crescente e envolvente de que a ausência dos sons que alimentaram a exstência vá, progressivamente, conquistando o terreno que lhe é cedido pelo adormecimento da vitalidade que em cada um mais difícil é de manter, face às condicionantes exteriores. Até que a desistência faça a entrega final, termo da brancura desguarnecida que a memória e o élan já não resgatam.
De Eugénio de Andrade:
ESSE VERDE
Entre o verde complacente
das palavras corre o silêncio,
assim como um cabelo
cai - ou neve.
Já foi uma criança, esse verde,
inquieta de tanto olhar
a noite nos espelhos -
agora encostada ao meu ombro
dorme no outono inacabado.
É como se me fosse consentido
conciliar a flor do pessegueiro
com um coração fatigado,
essa criança que no vento
cresce simplesmente ou esquece.
Vai perder-se, não tarda,
vai perder-se na água sem memória,
assim como indiferente cai
um cabelo - ou neve.
Com «Pessegueiro em Flor», de Van Gogh e
«O Silêncio Sob o Oculto», de
John McCormick.
consegue captar, a da luz que a faz crescer, sem que se aperceba da omnipresente e muito mais letal ameaça que aumenta sempre e sempre espreita. Do desassossego que tirou, quer das descobertas, quer dos receios, gerou o interesse que a fez desabrochar, atingindo o apogeu da beleza e a fertilidade.
Sempre porém ameaçada pelo espectro crescente e envolvente de que a ausência dos sons que alimentaram a exstência vá, progressivamente, conquistando o terreno que lhe é cedido pelo adormecimento da vitalidade que em cada um mais difícil é de manter, face às condicionantes exteriores. Até que a desistência faça a entrega final, termo da brancura desguarnecida que a memória e o élan já não resgatam.
De Eugénio de Andrade:
ESSE VERDE
Entre o verde complacente
das palavras corre o silêncio,
assim como um cabelo
cai - ou neve.
Já foi uma criança, esse verde,
inquieta de tanto olhar
a noite nos espelhos -
agora encostada ao meu ombro
dorme no outono inacabado.
É como se me fosse consentido
conciliar a flor do pessegueiro
com um coração fatigado,
essa criança que no vento
cresce simplesmente ou esquece.
Vai perder-se, não tarda,
vai perder-se na água sem memória,
assim como indiferente cai
um cabelo - ou neve.
Com «Pessegueiro em Flor», de Van Gogh e
«O Silêncio Sob o Oculto», de
John McCormick.
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