Leitura Matinal -203
Será o Vazio sempre igual, o de antes da aprendizagem e o conhecido após as extinções que pesam na biografia dos nossos sentimentos? Não funcionará a rememoração
precisamente como o conjunto das peças que tornem possível construir a fortaleza interior que o neutralize? Depende da pungência com que a falta adventícia é sentida, pois o mecanismo analgésico da memória só tem capacidade de operar quando a interioridade está já suficientemente aberta ao suave, embora triste, consolo que é recordar, o que não se consegue sob o império esmagador do desespero. Este não tem uso para dar às letras e às palavras, pois é a própria
inexistência delas que o motiva, como, de resto, a carência de eco das produzidas pelo ser em sofrimento. Estão vedadas as visões ornadas de «Alfabeto» que sugiram uma qualquer quebra desse «Silêncio Mórbido», as duas representações visuais que acompanham. Silêncio que em tudo é, conquanto intenso, o maior inimigo do discernimento por... demasiado discernir.
De Albano Martins:
O NOME DA AUSÊNCIA
O sótão: era ali
que o mundo começava. Ainda
não sabias, então
quantas letras te seriam
necessárias para soletrar
o alfabeto dos dias, para encher
a tua caixa
de musica, a tua concha
de areia. E ainda
o não sabes hoje. Com cinza
nada se escreve a não ser
as vogais do silêncio. E este
é o nome que se dá à ausência,
quando a noite e a poeira
dos astros pousam
sobre a ranhura dos olhos.
precisamente como o conjunto das peças que tornem possível construir a fortaleza interior que o neutralize? Depende da pungência com que a falta adventícia é sentida, pois o mecanismo analgésico da memória só tem capacidade de operar quando a interioridade está já suficientemente aberta ao suave, embora triste, consolo que é recordar, o que não se consegue sob o império esmagador do desespero. Este não tem uso para dar às letras e às palavras, pois é a própria
inexistência delas que o motiva, como, de resto, a carência de eco das produzidas pelo ser em sofrimento. Estão vedadas as visões ornadas de «Alfabeto» que sugiram uma qualquer quebra desse «Silêncio Mórbido», as duas representações visuais que acompanham. Silêncio que em tudo é, conquanto intenso, o maior inimigo do discernimento por... demasiado discernir.
De Albano Martins:
O NOME DA AUSÊNCIA
O sótão: era ali
que o mundo começava. Ainda
não sabias, então
quantas letras te seriam
necessárias para soletrar
o alfabeto dos dias, para encher
a tua caixa
de musica, a tua concha
de areia. E ainda
o não sabes hoje. Com cinza
nada se escreve a não ser
as vogais do silêncio. E este
é o nome que se dá à ausência,
quando a noite e a poeira
dos astros pousam
sobre a ranhura dos olhos.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home