Motins de Juventude
Promete-nos o FG Santos um post sobre os jovens que
têm posto Paris a ferro e fogo, comparando a insurreição
com a de Maio de 1968. Sabendo como Ele é, tenho por mais
do que adquirida uma brilhante e erudita análise histórica,
pelo que não me aventurarei nessas alturas. Mas gostaria
de dizer algo, sob o ponto de vista psicológico, quanto às
duas agitações.
Não devemos alinhar nos que sobrevalorizam o facto de 68
ter sido liderada por "meninos ricos" e de esta ter à frente
imigrantes, supostamente pobres. Esse diagnóstico é fruto
da mente da própria geração insurrecta de fins dos anos 60´s,
que nunca conseguiu conviver com a relativa prosperidade dos
Pais, em grande parte por saber que a ela ficou a dever a
Universidade e, em decorrência, a própria insurreccional
notoriedade.
O que norteia hoje a revolta não é o dinheiro, que, aliás,
só subsidiariamente e por exibicionismo da rebeldia, teve
um papel na luta estudantil. São outros valores e não
poderiam ser mais opostos. Os seguidores de Cohn-Bendit e
Sauvageot desprezavam os pais por viverem na recordação,
ilusória, de resto, de terem ganho uma guerra; os queimadores
de carros de Paris desprezam os franceses originários por os
suporem incapazes de ganhar uma. O «Façam o amor, não a guerra»
dá lugar ao «Ridículos viciados no amor que são incapazes de
lutar não mandam em nós». Em 1968 reivindicava-se a liberdade
sexual como panaceia que livrasse da «hipocrisia paterna». Hoje,
os mahgrebinos em polvorosa, por muitas incursões ocasionais que
façam na noite e nos passeios de Paris, escutam com atenção
pregadores inflamados que os exortam a marcar a diferença, face a
uma «civilização de deboche».
A geração que ontem se revoltou tem hoje elementos seus nos
vários graus do poder. E sempre olhou com melancolia os próprios
filhos, por lhes não detectar os "sentimentos de generosidade" com
que, modestamente, se mitifica, observando-os ocupados com a sua
particular videca. Com a progressiva escassez de proletários, tansferiu
a simpatia a que se obrigava para os que considerava como os
explorados do dia: os imigrados. Teve a mesma sorte que outrora,
com os operários mais enraizados: o desprezo por quem prefere
os estranhos aos seus. E não percebe que toda a questão se resume
em que, do ponto de vista de uma comunidade blindada nos seus
valores religiosos e culturais, o homo economicus passou a ser
protagonizado por eles.
Jacques Laurent, que simpatizava com os estudantis rebeldes pelo
seu anti-gaullismo, censurava-lhes não terem assumido até ao fim
o que de novo traziam, apoiando-se demasiado nas muletas do maoismo
e do leninismo. Esses acessórios há muito que caíram, não conseguindo
os seus ex-utilizadores perceber por que razão a juventude lutadora
de hoje se escuda em conceitos de continuidade dos seus maiores,
optando por eles contra quem alimenta boa vontade pelo que julga
ser a sua condição inferior.
Na ressaca das eleições que deram a vitória às forças da Ordem,
Raymond Aron não hesitou em proclamar os distúrbios de então
como a «Revolução Inexistente». Não sabemos como estes terminarão.
Mas é curioso ver alguns antigos revolucionários suspirando
por uma "Contra-revolução Resistente".
têm posto Paris a ferro e fogo, comparando a insurreição
com a de Maio de 1968. Sabendo como Ele é, tenho por mais
do que adquirida uma brilhante e erudita análise histórica,
pelo que não me aventurarei nessas alturas. Mas gostaria
de dizer algo, sob o ponto de vista psicológico, quanto às
duas agitações.
Não devemos alinhar nos que sobrevalorizam o facto de 68
ter sido liderada por "meninos ricos" e de esta ter à frente
imigrantes, supostamente pobres. Esse diagnóstico é fruto
da mente da própria geração insurrecta de fins dos anos 60´s,
que nunca conseguiu conviver com a relativa prosperidade dos
Pais, em grande parte por saber que a ela ficou a dever a
Universidade e, em decorrência, a própria insurreccional
notoriedade.
O que norteia hoje a revolta não é o dinheiro, que, aliás,
só subsidiariamente e por exibicionismo da rebeldia, teve
um papel na luta estudantil. São outros valores e não
poderiam ser mais opostos. Os seguidores de Cohn-Bendit e
Sauvageot desprezavam os pais por viverem na recordação,
ilusória, de resto, de terem ganho uma guerra; os queimadores
de carros de Paris desprezam os franceses originários por os
suporem incapazes de ganhar uma. O «Façam o amor, não a guerra»
dá lugar ao «Ridículos viciados no amor que são incapazes de
lutar não mandam em nós». Em 1968 reivindicava-se a liberdade
sexual como panaceia que livrasse da «hipocrisia paterna». Hoje,
os mahgrebinos em polvorosa, por muitas incursões ocasionais que
façam na noite e nos passeios de Paris, escutam com atenção
pregadores inflamados que os exortam a marcar a diferença, face a
uma «civilização de deboche».
A geração que ontem se revoltou tem hoje elementos seus nos
vários graus do poder. E sempre olhou com melancolia os próprios
filhos, por lhes não detectar os "sentimentos de generosidade" com
que, modestamente, se mitifica, observando-os ocupados com a sua
particular videca. Com a progressiva escassez de proletários, tansferiu
a simpatia a que se obrigava para os que considerava como os
explorados do dia: os imigrados. Teve a mesma sorte que outrora,
com os operários mais enraizados: o desprezo por quem prefere
os estranhos aos seus. E não percebe que toda a questão se resume
em que, do ponto de vista de uma comunidade blindada nos seus
valores religiosos e culturais, o homo economicus passou a ser
protagonizado por eles.
Jacques Laurent, que simpatizava com os estudantis rebeldes pelo
seu anti-gaullismo, censurava-lhes não terem assumido até ao fim
o que de novo traziam, apoiando-se demasiado nas muletas do maoismo
e do leninismo. Esses acessórios há muito que caíram, não conseguindo
os seus ex-utilizadores perceber por que razão a juventude lutadora
de hoje se escuda em conceitos de continuidade dos seus maiores,
optando por eles contra quem alimenta boa vontade pelo que julga
ser a sua condição inferior.
Na ressaca das eleições que deram a vitória às forças da Ordem,
Raymond Aron não hesitou em proclamar os distúrbios de então
como a «Revolução Inexistente». Não sabemos como estes terminarão.
Mas é curioso ver alguns antigos revolucionários suspirando
por uma "Contra-revolução Resistente".
1 Comments:
At 4:49 PM, Flávio Santos said…
E eu é que sou erudito e brilhante? Tomara...
Belo texto, em suma.
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