Leitura Matinal -186
A navegação, com Norte referenciado mas móbil desconhecido,
pode, sufocando a própria linearidade do percurso humano,
ser pouco mais do que a mudança de cenário, sem rumo à
partida determinado, que vise simplesmente a fuga à
desilusão na voragem das ondas e do agir. Pode tomar
a forma da destruição das pagãs divindades da superstição
geral e própria, nas mais das vezes para lhe não tomar as
dores. Fuga para a frente que abstraia da insatisfação
que retira do Passado, como da melancolia oferecida pelo
(e de) Presente. Busca da vertigem que regenere, quando
ainda se sente demasiado forte e irredutível para uma
penitência.
Sem rumo, pois. Para diante. Movido por sugestões vãs,
colhidas com sofreguidão em sistemas que indicam caminhos
sem dizerem aonde se dirigem. Até que o fim, um qualquer
fim, chegue. A única maneira de se acomodar consigo.
De César de Oliveira
A GAIVOTA
Homem que segues à proa do barco
olhando futuros,
atira os teus livros para as águas revoltas
e afoga as doutrinas
na espuma das ondas.
.............................(Vês essa gaivota sem rumo nem casa
.............................que corta os espaços?)
Levas saudades, ó Homem que segues à proa do barco?
..............................(Disseram-me um dia:
..............................Saudade e distância
..............................são mais fantasia
..............................que coisa real)
Homem que segues à proa do barco
envolve-te mais na capa castanha
e deixa que as lágrimas te afaguem o rosto.
Que fizeste tu de bom neste mundo?
Um filho? Um poema? Um acto piedoso?
Idas à Igreja rezar a algum Deus?
Mataste algum homem em guerra de irmãos?
Fizeram-te herói de alguma batalha?
Estendeste essa mão a algum moribundo?
...............................(olha para a gaivota!
...............................Parece perdida mas tem um destino...)
Inundas-te em culpas
e matas-te em gritos
numa ância louca de matar os ídolos.
Que buscas? A cura?
Salvares-te das garras da tua demência?
Tornares-te outro ente?
Achar novos climas que te retemperem
o sangue sem côr?
.................................(Repara.
.................................A gaivota vai longe, vai longe...)
Tu és a gaivota
que busca no Mar o grito da Terra.
Tens medo de ti.
Tens medo de ti...
..................................(Agora a gaivota é só uma hipótese
..................................Perdeu-se lá longe
..................................no poente do Sol)
pode, sufocando a própria linearidade do percurso humano,
ser pouco mais do que a mudança de cenário, sem rumo à
partida determinado, que vise simplesmente a fuga à
desilusão na voragem das ondas e do agir. Pode tomar
a forma da destruição das pagãs divindades da superstição
geral e própria, nas mais das vezes para lhe não tomar as
dores. Fuga para a frente que abstraia da insatisfação
que retira do Passado, como da melancolia oferecida pelo
(e de) Presente. Busca da vertigem que regenere, quando
ainda se sente demasiado forte e irredutível para uma
penitência.
Sem rumo, pois. Para diante. Movido por sugestões vãs,
colhidas com sofreguidão em sistemas que indicam caminhos
sem dizerem aonde se dirigem. Até que o fim, um qualquer
fim, chegue. A única maneira de se acomodar consigo.
De César de Oliveira
A GAIVOTA
Homem que segues à proa do barco
olhando futuros,
atira os teus livros para as águas revoltas
e afoga as doutrinas
na espuma das ondas.
.............................(Vês essa gaivota sem rumo nem casa
.............................que corta os espaços?)
Levas saudades, ó Homem que segues à proa do barco?
..............................(Disseram-me um dia:
..............................Saudade e distância
..............................são mais fantasia
..............................que coisa real)
Homem que segues à proa do barco
envolve-te mais na capa castanha
e deixa que as lágrimas te afaguem o rosto.
Que fizeste tu de bom neste mundo?
Um filho? Um poema? Um acto piedoso?
Idas à Igreja rezar a algum Deus?
Mataste algum homem em guerra de irmãos?
Fizeram-te herói de alguma batalha?
Estendeste essa mão a algum moribundo?
...............................(olha para a gaivota!
...............................Parece perdida mas tem um destino...)
Inundas-te em culpas
e matas-te em gritos
numa ância louca de matar os ídolos.
Que buscas? A cura?
Salvares-te das garras da tua demência?
Tornares-te outro ente?
Achar novos climas que te retemperem
o sangue sem côr?
.................................(Repara.
.................................A gaivota vai longe, vai longe...)
Tu és a gaivota
que busca no Mar o grito da Terra.
Tens medo de ti.
Tens medo de ti...
..................................(Agora a gaivota é só uma hipótese
..................................Perdeu-se lá longe
..................................no poente do Sol)
0 Comments:
Post a Comment
<< Home