É de Fugir

Não falo do vazio saturante da política nacional. Nem dos riscos
epidémicos das alterações da ordem pública que a Europa viveu.
Refiro-me, tão-só, à absoluta falta de bom senso, porque do gosto
homólogo estamos conversados, dos responsáveis pela primeira
página do «CORREIO DA MANHû, de hoje, que, com inaudita
soltura gráfica, titularam garrafalmente «MORTE DE MILITAR
VALE 80.000 EUROS». Já seria mau referir os montantes a
receber pela família, num momento de dor; mas ainda se podia
garimpar uma defesa no sacrossanto dever de informar. O que foi
feito, porém, foi, com a sensibilidade de um abre-latas, escolher uma
chamada que reduz uma vida ao bagalhaço que o estado paga. E do
tom presente no desenvolvimento da notícia quase se extrai a
invejabilidade da condição da Viúva. Pode ser, espero-o, que Ela não
leia este número do jornal. Já se sabe que a Memória do Falecido
era coisa subtil demais para refrear uma linha editorial. Mas a nós
não há quem salve? Ou, pelo menos, que nos poupe?