O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Saturday, November 12, 2005

Monstruosidades do Tempo Sem Fortuna

Que uma Mulher possa fazer a uma criança sua filha o
que a condenada do Algarve fez, apimentando com mais
um condimento de horror que é a motivação de ocultar
um incesto, é suficientemente repugnante para se não
mencionar mais. Mas perante tão horrendo caso concreto,
não há que estar com meas palavrras. Aquele monstro terá
sido penalizado, ninguém com o sentido do equilíbrio poderá
dizer que foi justiçado. Os julgadores terão feito o que podiam.
Os legisladores ficam muito aquém do que podem. Um Estado
que não prevê a pena de morte para os crimes mais graves, a
maior parte dos de homicídio qualificado, não se mostra
suficientemente confiante nos seus valores e não pode querer
que os seus súbditos lhes tributem um respeito inabalável.
Terá de confiar em que no íntimo de cada um triunfe o lado certo
da luta entre bem e mal, como, neste triste episódio, a esperança
das gentes repousa em que as futuras companheiras da criminosa,
na prisão, lhe façam a vida negra. Pobre sistema que abdica
das suas responsabilidades e deixa aos infractores a administração
da justiça!

25 Comments:

  • At 9:16 PM, Blogger zazie said…

    Paulo,

    em desacordo. Primeiro porque se a ideia é discutir a pena de morte estas alturas e estes acontecimentos são sempre os piores pretextos. Nunca sairia debate racional de cabeça fria como deveria.

    De qualquer modo permite-me que discorde apenas de uns pressupostos. Primeiro, a questão da morte nunca pode ser lida como uma expressão de justiça de uma sociedade que convive pacificamente com crimes desta ordem. Se as próprias pessoas não intervêm, não será a lei num acto bárbaro que lhes dará civismo ou sensibilidade para denunciar ou evitar a tempo muitos destes horrores.

    Em segundo lugar também nunca consegui entender que a pena de morte contribua para qualquer ideia de justiça que não vá mais longe que o voyeurismo, quando tudo está mediatizado.
    Por último não existe ética estatal. A ética será sempre algo pessoal, de carne e osso, nunca uma variante de burocracia. Pode-se esperar penalização de actos, por parte do Estado, em nome das vítimas e em nome de um colectivo que até pode estar ausente. Mas nunca um Estado deverá sobrepor-se ao humano. Nem pelas melhores razões do mundo- um Estado justiceiro é o primeiro caminho para se abdicar do individual. O primeiro caminho para todas as ditaduras.
    Só existiria um meio termo que poderia ser debatido- a maior ou menor penalização de quem fizesse justiça pelas suas próprias mãos, em casos extremos como este. Infelizmente nem isso nos aparece à frente, a não ser, mais uma vez, por efeito de espectáculo mediático. Pelo que penso que temos o meio-termo possível. Com a certeza que a monstruosidade não tem explicação social. São as trevas que não se compreendem.

     
  • At 12:37 AM, Blogger vs said…

    Em desacordo, também eu, pois sou contrário à Pena de Morte.
    A mesma Pena de Morte que já só é usada por ditaduras e teocracias terceiro-mundistas....e, infelizmente (ainda) pelos EUA (uma vergonha), desde que desafortunadamente regrediram, em meados da década de 70....e não solucionaram problema absolutamente nenhum.

    É nos EUA que podemos assitir ao desconhavo absoluto e o enxovalho total neste campo, pois já muitos inocentes morreram ...ooops....e só se descobriu depois da execução.
    Uma trapalhada total, 'rednecks' a insistirem (de forma espantosa) á introdução das provas de DNA em casos em que estas são essênciais, porcessos atulhados de irregularidades, subjectivismos e leviandades. Enfim, a grande nódoa dos EUA, que disputam animadamente o campeonato das exeecuções com...a China, o Sudão, o Paquistão...enfim, um fartote.

    Para crimes graves como este, sou partidário da Prisão Perpétua em regime de trabalho compulsivo, dentro de prisão de segurança máxima.

    O espectáculo de ver um governo a injectar pessoas, a fritá-las numa cadeira ou encostá-las a um 'paredón' não me seduz.
    E não resolve nada, pois nesses países a criminalidade é como na canção da Manuela Bravo: 'sobe, sobe, balão sobe'.

    Há uns anos houve um caso que é paradigmáticp da 'superioridade' da Prisão Perpétua em detrimento da Pena de Morte.
    Um grupo de 4 ingleses foram acusados de uma violação em grupo e posterior assassinato de uma jovem.
    Foram condenados a Prisão Perpétua.
    uns 20 e tal anos depois, os verdadeiros executantes do crime 'baixaram a guarda'. Os advogados dos detidos nunca desistiram e, mais de duas décadas depois descobriu-se o engano, os detidos foram libertados (cada um com uma indemnização de vários milhões de libras, e com todo o direito) e os verdadeiros violadores e assassinos foram presos e condenados.

    Pois é Paulo, está a ver...se os 4 desgraçados fossem americanos, lá teriam ido p'ró galheiro, executados estando inocentes.

    nota: a pena de morte não tem grande futuro nos EUA. Daqui a 20 anos o Texas estará completamente isolado no seio da União.

     
  • At 12:39 AM, Blogger vs said…

    Onde se lê 'rednecks' a insistirem"

    de ler-se, óbviamente:

    rednecks a resistirem

     
  • At 10:00 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Querida Zazie:
    Dou-Te inteira razão num ponto: nestes momentos não se consegue discutir friamente a questão. Por isso mesmo fui falho de escrúpulos ao ponto de atacar agora. É que não confio na racionalidade das pessoas, neste campo; e sei que, sem terem debaixo dos olhos o absoluto horror, tendem à benevolência excessiva e a compaixões mal direccionadas.
    A pena de morte - apenas para casos mais graves, de homicídio qualificado, e não para todos os presentemente como tal elencados - tem a suprema virtude de permitir a uma comunidade dizer: este indivíduo fez um acto tão repelente que não podemos continuar a contá-lo como um de nós. Só neste sentido de justiça, imperfeita mas a única possível, é que pode intervir a ética a nível estatal, no de imperativo que leve a uma reparação dos enlutados, que, neste caso, suspeito sermos todos nós.
    Mas tendo a dar-Te razão no que respeita ao "voyeurismo". Apesar de as execuções públicas poderem ter algum efeito dissuasor, defendo que não devem ter lugar, sendo substituídas por momentos resguardados. Sem ser em praça pública, sempre me fez, no entanto, impressão o modelo americano, de espectáculo para uns quantos convidados, tipo pequena sala de cinema. A catarse do mal deve ser provocada pela notícia da eliminação, não pela exploração sanguinária da inflicção de tormentos. Daí que, com prejuízo para a estrita justiça, mas em prol da decência, defenda uma forma escorreita e limpa, ou desinfectada que seja, de eliminação do ser desumano que ali está. A injecção letal parce-me razoável.

    Meu Caro Nelson:
    Nos EUA, como sabe, a pena de morte esteve proibida pelo STJ e foi, paulatinamente, sendo reintroduzida. Neste momento existe em 39 estados, sendo aplicada em 37, pois o Kansas e o Illinois estabeleceram uma moratória.
    O argumento que o meu Amigo levanta, do erro judiciário que assombra a justiça norte-americana, é o que mais força tem revelado na história do debate. Mas o grande problema não está na pena de morte, está em aspectos daquela "justiça": procuradores desejosos de apresentarem um escalpe que lhes garanta a rapidez de uma carreira política brilhante, negociação de provas testemunhais, confiança em meios probatórios absurdos como os detectores de mentiras e, sobretudo, a decisão pelo júri. Sou, em qualquer caso, contra jurados, muito mais estando em jogo a mais extrema forma de justiçar. As pessoas que não estão habituadas à retórica do foro (eis um bom tema para o Américo) deixam-se facilmente impressionar pelas arengas de acusadores hábeis, que, em maior ou menor grau, existem sempre, enquanto que advogados talentosos para equilibrar os pratos só O. J. Simpsons e Cª podem pagar. No sistema europeu não creio que a questão se pusesse.
    E havendo uma condenação injusta, essa perspectiva apavorante, será melhor tirar-lhe 25 anos de vida, ou toda duma vez? Questão de gosto. Eu preferiria a segunda. Em Portugal, noutro regime, condenou-se um homem, o qual cumpriu mais de vinte anos, tendo-se descoberto a inocência quando tinha perto de 70, de idade. Muitos discursos inflamados, quiseram dar-lhe uma medalha. E a resposta que gelou a assistência foi: «Não quero medalhas, quero que me deixem praticar crimes no valor dos vinte e tal anos que passei atrás das grades».
    Por isso, Amigos meus, não me convencem. Mas obrigado por terem tentado tornar-me menos mau. Quando um dia for bater à porta de S. Pedro, Ele, provavelmente, dir-me-á: a incapacidade de perdão que defendeste obriga-te a uma estadia aborrecida no Purgatório. Mas não te preocupes, ela não vai ser grande, dado que tiveste estes Dois Amigos por ti. Assim, até a um misantropo se arranja cá um cantito».
    Beijinhos à Primeira e abraços ao Segundo.

     
  • At 2:13 PM, Blogger zazie said…

    Isto partindo da legitimidade da medida.
    Porque se fossemos a partir da própria medida em si, em abstracto, não encontro a menor validade. Não só não faria diminuir o crime como transformaria a questão em mais uma "tourada" a acompanhar no noticiário da hora de jantar.

    Por outro lado há um aspecto espiritual que deve ser tido em conta e salvaguardado. A sociedade portuguesa, felizmente, ainda não é uma sociedade ateia nem uma sociedade com lei islâmica. Para um cristão ninguém tem o direito de tirar a vida a outrem. O verdadeiro julgamento será sempre divino.
    Creio que defender e preservar esta pequena "bolsa" de valores pode ter muito mais frutos na prática do que, em nome de uma justiça que ninguém pede, implementar actos estatais que a violentem completamente.

    Eu nunca me esqueço que o Estado é o que nós somos mas também podemos ser aquilo que o Estado for. Não há vazios. Se retirarmos elementos espirituais a uma comunidade esse espaço tenderá a ser preenchido por outros.
    Neste caso não imagino que valores espirituais pode despertar a pena de morte.

    Como te digo: o que seria importante era as pessoas manterem os valores e, se fosse preciso, até ultrapassarem a lei por verdadeiras questões éticas. Será sempre mais importante reagir em nome de algo superior do que ficar indiferente.
    Ora o que se assiste é à indiferença a tomar conta de tudo. Ninguém se preocupa com a vida de uma criança que vive ao lado porque não está para isso- o Estado que o faça. Com a pena de morte seria mais um motivo para o adormecimento dos valores ou o conformismo hipócrita pelo que nos rodeia.
    Importante seria mudar a lei, seria obrigar um pai ou uma mãe que maltrata um filho a abandonar a casa, por exemplo, em vez de ser sempre a vítima a ter de fugir.
    Tanto quanto sei nem isso se consegue fazer passar legalmente, quanto mais pena de morte...

     
  • At 2:18 PM, Blogger zazie said…

    ups! escapou parte do que tinha dito:


    »tem a suprema virtude de permitir a uma comunidade dizer: este indivíduo fez um acto tão repelente que não podemos continuar a contá-lo como um de nós»

    a questão prática é logo esta: que comunidade? só se for uma comunidade que está habituada à pena de morte. Porque a uma comunidade que a aboliu reintroduzi-la seria sempre uma gigantesca alteração de costumes que teria de ter manifestações concretas da sociedade para se justificar.

    Por isso é que insisto que isto e´um bocado "falar da boca para fora". Não há legislação em abstracto, há sempre em locais concretos. Por isso não imagino qual o pretexto para reintroduzir uma coisa abolida há tanto. Nem sequer existem manifestações públicas criminais diferentes ou aumento de alguma espécie, ou indicação da sociedade para isso.

     
  • At 2:43 PM, Anonymous Anonymous said…

    Meu caro. A minha posição sobre este assunto encontra-se expressa no meu blogue, com links para textos que produzi na altura, exactamente sobre a pena de morte para estes casos.
    Embora eu seja visceralmente contra a pena de morte, sou um profundo defensor da pena de Talião, só que para esta ser levada a efeito, a pobre criança necessitava de alguémn que a amasse profundamente, sorte que aparentemente lhe foi negada.
    Cumprimentos.

     
  • At 2:57 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Generosa Zazie:
    Claro que o ideal seria que as pessoas se norteassem por Valores que, no sentido do Bem, transcendessem o próprio mínimo legalmente prescrito. Mas não vivemos rodeados de indivíduos ideais. E, para os exemplares concretos que nos cercam, há que não negligenciar o papel do medo, para a parte mais permeável à atracção do Mal; e do consolo extraído da eliminação do criminoso extremo, para aqueles que querem fazer alguma coisa e não sabem o quê, ou nada podem.
    Tenho pensado se a Pregação Cristã é harmonizável com a dureza da pena. Julgo que sim. O Valor do Perdão significa, transposto para a vida da Comunidade, a interdição da vingança e da justiça particular. Mas o Estado não pode perdoar, por regra, as ofensas que são feitas, em primeira linha aos particulares. Se teria poder para esquecer os atentados à subversão da Ordem que estabeleceu, não pode esquecer a destruição, com culpa radical, da vida dos súbditos rectos que teve. As vidas só são todas iguais na origem. Depois, tornam-se diferentes, pelo que cada um faz delas. E pelo facto de termos cedo abolido a maior parte das aplicações da pena de morte, não quer dizer que não estejamos a tempo de emendar os erros passados... Mais, nunca me verão justificar uma revolução penal com aspectos quantitativos. É a essência da rejeição que importa preservar.
    Sigo-Te, de olhos fechados, no problema que equacionas, das Crianças. Mas isso é outra matéria.

     
  • At 3:13 PM, Anonymous Anonymous said…

    Estou de acordo com o Buíça: prisão perpétua, poucas regalias e, quando necessário, serviço em prol da família do(s) assassinado(s).

     
  • At 3:20 PM, Blogger zazie said…

    Paulo,

    «O Valor do Perdão significa, transposto para a vida da Comunidade, a interdição da vingança e da justiça particular.»

    Se calhar não me fiz entender. Eu tenho uma ligação com a religião muito soft. Apenas uma noção de sagrado. Nem sei até que ponto chego à fé e também não me esforço nem tenho problemas com isso.
    Quando falei na religião foi em termos mais abstractos - num pano de fundo espiritual que creio ainda existir na nossa sociedade.

    E nisso não me referia a condenar quem fizesse justiça por suas próprias mãos. Eu tenho uma noção de "lei" muito peculiar porque até defendo acções ilegais por valores mais altos.
    Neste caso, em consciência não condenaria quem fizesse "pessoalmente" justiça pelas suas próprias mãos. E até gostaria que um juiz usasse todos os meios possíveis para conseguir dentro da lei fechar o mais possível os olhos a essa acção justiceira.
    Mas aí sim, aí teríamos uma acção justiceira praticada por um ser humano e nunca um churrasco ou injecção burocrática paga pelo contribuinte e executada por um "técnico" pago para o efeito.
    É isto. A pena de morte burocratizada é das maiores cobardias que conheço. Dá-me volta às tipas e não é por ter ataques de madre Teresa, é por considerar uma vilania sem dono.

    «Mas o Estado não pode perdoar, por regra, as ofensas que são feitas, em primeira linha aos particulares»

    o Estado não perdoa. temos lei. E lei numa sociedade civilizada nunca pode ser comparada a justiça- fazer justiça é cortar a mão. fazer falar a lei e contabilizar prejuízos recíprocos entre sociedade e criminoso ou infractor e penalizá-lo por isso.
    Quanto muito poder-se-ia debater se há proporcionalidade na condenação em comparação com outro tipo de crimes mas não podemos dizer que não há lei.

    A minha motivação neste tipo de questões não é tão pacifista ou generosa como possa parecer- eu até nem sou nada pacifista. È muito mais pragmática que outra coisa. Não creio que as trevas se expliquem e por isso também não contraponho barbárie a barbárie. Neste tipo de questões sociais a única coisa a fazer é a prevenção possível. E essa pode passar por alterações legais que por cá não se conseguem fazer passar- o tal abandono do lar para o agressor e obrigação de sustentar na mesma os seus. Em vez de serem as vítimas a sair e ficarem por conta do Estado.

    Quanto ao resto nem creio que tenhamos muitos destes crimes. Em Inglaterra, por exemplo, quase que são diários. E não há pena de morte.

     
  • At 3:21 PM, Blogger zazie said…

    quanto à América não me parece comparação para nada. Aquilo foi Bíblia numa mão e pistola na outra e ainda o foi assim há pouco mais de 200 anos. Não é exemplo para nada.
    Não tem nada a ver com as nossas sociedades

     
  • At 3:23 PM, Blogger zazie said…

    olha o Eurico! olá! como vai?

    ":O)))

    Eu preferia ums bons Dirty Harry à pena de morte
    ehehehe

     
  • At 3:23 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Meu Caro «Velho»:
    É também por partilhar da raiva que sente em ver desvalidos como a Pobre Menina, sem afectos que firmassem um ponto final à aberração traduzida em aquele lindo par continuar a singrar perto de nós, que defendo que o Estado deve assumir essa função. E se Cristo falou do Perdão, também mandou perseguir implacavelmente os inimigos de Seu Pai. A justiça, ou a falta dela, é tudo o que diz, mas, quanto a mim, por não poder ir às últimas consequências. Não teria vergonha alguma de pertencer a uma Nação que realmente pudesse ser vertical ao ponto de colocar a necessidade da sanção do demérito acima de considerações humanitárias que aproveitam a quem, evidentemente pertence à espécie diabólica.
    Permita-me abraçá-lo e salientar o facto de, nascidos no mesmo dia do ano, ontem, à mesma hora, estarmos, com o coração nas mãos, a escrever sobre o mesmo tema.

     
  • At 3:30 PM, Blogger zazie said…

    quanto à prisão perpétua, assim de repente nem tinha pensado no assunto. Mas não encontro objecções óbvias. Pelo menos teria o benefício de evitar aquelas típicas indulgências presidenciais que conseguem trocar 20 anos por menos de metade...

     
  • At 3:49 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Caro Eurico:
    Esses trabalhos perpétuos até poderiam ser mais penosos para aqueles canalhas do que a imposição do fim terreno. Mas não resolveria o problema fundamental da consciência que é a demarcação do tenebroso comportamento.

    Zazie:
    Acredito que a Tua relação com a Religião seja "soft". Como, porém a minha é mais "hard", não posso deixar de focar o tema pela genética dos Valores, que não somente pelos resquícios que compõem a herança que deles temos. Morte burocratizada... pois! Mas se não for assim, Magnífica Interlocutora, teremos justiça apenas para os fortes e, a prazo, a injustiça deles. Queremos isso? Decerto que não. Além do que, se for o Poder Público pago e mandatado por nós a dar cabo de quem fez por isso, estaremos habilitados a sentir que todos nós cravámos a facada, à «Expresso do Oriente», que não nos fazendo santos, nos mantém de cabeça erguida, como Homens de Bem.

    Para todos: claro que a execução é apenas uma abordagem aproximativa, no que à Justiça respeita. Mesmo se eles fossem esquartejados em vida, nunca haveria a igualdade retribuitiva, já que num caso houve iniciativa e a vítima foi uma criança sem culpas, e, no outro teríamos apenas reacção contra gentalha indigna de usar nome e, tudo leva a crer, futuros hóspedes das Chamas Eternas.
    A chave de tudo reside na separação das águas: Nós e eles. Em último caso, no repúdio do igualitarismo. Entre o Bem e o Mal, para além do qual, já se viu, não devemos ir.

    PS: Mas o pior é que o Estado pode perdoar: pelos indultos pelas amnistias e pela incapacidade de reagir adequadamente - tudo isto porque a lei lho permite, ou impõe.
    Enfim, porque é lei e não Lei.

     
  • At 4:25 PM, Anonymous Anonymous said…

    Li com atenção os argumentos sobre a pena de morte, e não digo que por vezes não façam sentido, só que acho o assunto demasiado sério para o deixar nas maõs da justiça.
    Não aceito que a Sociedade delegue em jurados ou juízes uma coisa de tal gravidade, apenas por que não tem coragem de o assumir e dorme descansada após ter delegado o "trabalho sujo" em terceiros.
    Só posso falar por mim, mas se um dia, algum do meu "povo" for vítima de algum monstro ou tarado, esse há de morrer, mas exclusivamente às minhas mãos e olhando nos meus olhos.
    Olho por olho...

     
  • At 4:47 PM, Blogger zazie said…

    Paulo,

    Passando à frente das relações com a religião, que no meu exemplo apenas servia para atestar o "espírito e sensibilidade de uma sociedade e sentido das interdições- não matar é uma delas, vamos agora à facada colectiva à Expresso do Oriente.
    Foi um excelente exemplo e é precisamente aí que radica a nossa disconrdância.

    1- se entendermos a facada colectiva como a punição e manifestação de desejo de interdição social ou protecção a vítimas tinhamos de ir para o trabalho de prevenção. E até poderíamos ir para a tal ideia de obrigação de recompensa e sustento por "trabalhos forçados" como disse o NB.

    Se cairmos no sentido de justiça ou manifestação visceral de justiça aí é que há hipocrisia.

    Há 2 tipos de reacção instintiva a estas coisas: a colectiva em massacre público no anonimato- tanto pode ser pelas massas à pedrada como pela agulha ou churrasco burocrático e a individual.
    A individual é a única que considero verdadeira. Por muito errada que possa ser, é feita olhos nos olhos, assumindo o risco e a raiva. Pode suceder no caso de uam vingança familiar por acto praticado a um dos seus. E aí se for crente ajusta é o próprio que praticou a acção que ajusta contas com Deus. No caso de o não ser correrá sempre o risco de a ajustar com a lei.
    No que não acredito é na dita "justiça pessoal" por encomenda. è simples, se uam raiva perante um caso concreto for mesmo verdadeiramente sentida qualquer pessoa pode resolver o assunto. Não é assim tão difícil.
    O que não pode é ficar naquela do "agarrem-me senão eu mato-o e depois dizer que ajusta contas com Deus por interposto "assassino" a contrato.

    Há uma variante intermédia nestes 2 exemplos- nem é o linxamento público nem morte Estatal- é o ajuste de contas entre "os pares" na cadeia.
    Geralmente casos destes não costumam agradar outro tipo de criminosos. Eles ainda têm a sua "ética de fora-da-lei" e por isso não digo que se entregue propriamente ao grupo mas que não haja excessos de protecção e tratamento à parte para casos destes.
    Azar, se acontecer, aconteceu.

    Simplesmente com isto em nada se paga alguma dívida aos que cá ficam. E as vítimas familiares que deixam irmaõs pequenos é coisa muito mais preocupante que desenvencilharmo-nos de monstros.

    Quanto aos indultos presidenciais por acaso nem sei se este tipo de crimes está abrangido. Suponho que não e falei apressadamente. mas há pequenos indultos por bom comportamento

     
  • At 5:49 PM, Blogger zazie said…

    Há outras questões políticas associadas com isto que são muito mais importantes. E para isso é preciso, de facto, sair do abstracto e dizer concretamente que se está a falar de Portugal e da defesa de um regresso da pena de morte.

    Resumo no seguinte: considero sempre mais importantes os tempos longos que os curtos; dou sempre mais valor aos costumes e lei natural que a mudanças bruscas, revolucionárias e por decreto que vão contra a tradição.
    Por isso colocaria sempre esta questão a par de outras confusões que estão mais na moda: os casamentos dos homossexuais mudados por alternância de partidos de poder e legislados em nome de uma Nação- o que é um verdadeiro golpe de teatro por efeito de lobbies, os ditos “direitos de saída” que também já andam na calha e onde se inclui outra burocracia avaliada por profissionais e legislada pelo Estado- a eutanásia. Fora deles deixo a despenalização do aborto por outros motivos sendo que um deles até já está inscrito na tal “prática socialmente aceite” quase ao nível de uma “não lei-natural”.

    Não sou liberal mas em tudo isto incomoda-me sempre o excesso de peso Estatal a sobrepor-se à tradição do colectivo. Apenas defendo que o Estado continue a preencher o que está vazio – neste caso o próprio sentido de vivência colectiva na cidade ou na aldeia. Porque a questão principal é que se considera um crime tenebroso porque houve morte. Mas podia não ter havido. Como não há em milhares de outros casos onde a “tortura” familiar nunca daria direito a pena de morte e provavelmente até é aceite como um direito de posse sobre os seus.
    Por isso insisto - não me agrada que se retire o sentido negativo à morte. Como não me agrada que se dê exemplos negativos ao que a sociedade ainda tem por mal. Seria sempre inverter a tal noção de lei natural em prol de uma ideia de Estado mais perto das utopias comunistas. Não me agrada nada. Em termos práticos só mesmo por efeito “revolucionário” se poderia mudar a lei. Seria muito mau indício. Espero bem que tal nunca venha a acontecer.

    (é óbvio que nos EUA isso não acontece porque a lei natural é outra. Eles limitam-se, à sua maneira a fazer o mesmo- seguir a tradição-

     
  • At 8:32 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Meu Caro «Velho»:
    Claro que é uma posição compreensível. De jurados, de resto, já disse o que penso. Mas pensando nos desvalidos, devemos dar aos Juízes os meios para serem os melhores amigos deles.

    Zazie:
    Dás sempre mais atenção aos tempos longos do que aos curtos. Mais uma razão para olhares, preferencialmente, para os seis séculos e picos em que houve pena de morte, em prejuízo dos menos de cento e cinquenta em que ela, faseadamente, foi deixando de existir. Eu sou tradicionalista. Mas procuro não confundir uma Tradição com um mau hábito. Não gosto de ver o Estado invadir a esfera privada, mas penso que a mais clara razão da sua existência é administrar a justiça. Ou voltaremos a tempos em que os desprovidos de meios só poderão fazer valer as suas posições colocando-se à sombra e dependência de um "forte", rezando, concomitantemente para que não seja mais poderoso o defensor dos seus opositores, ou estes, mesmo. Foi para evitar desmandos resultantes desta atomização de potências que se criou o Poder Real, em ambos os sentidos da expressão.
    As outras questões terão, a seu tempo, lugar para que todos, até este pobre opinador, digam... de sua justiça.
    Ninguém mais do que eu é contra a prática dos linchamentos, essa forma suprema de democracia. E longe de mim retirar à morte a sua carga negativa, em se tratando da morte de um Justo. Mas quando uma vida é a da suprema vergonha, a negatividade mesma, aplicar-lhe a carga negativa da extinção só pode ser positivo. As vidas não são iguais. E, neste campo, como em todos os outros, O RESPEITO É O QUE É PRECISO TER PARA SE MERECER.

     
  • At 8:48 PM, Blogger zazie said…

    ehehehe achei piada a essa do maior tempo com pena de morte. Pois e sem democracia então nem se fala e com mulheres sem votarem ainda mais ehehe

    meu caro Paulo. Isto é como na natureza, há uma lenta sedimentação dos terremos- depois de mudarem não se pode voltar atrás. A lei natural e a tradição não é o que não existe ha´muito, é o que ainda perdura. Eu gosto de conservar mas não reajo demasiado nem pela a mudança nem contra ela ";O)

    bjs

     
  • At 9:02 PM, Blogger zazie said…

    neste caso só consigo ler o desejo de instaurar pena de morte em Portugal como um retrocesso e descabido sem qualquer desejo público ou casos de criminalidade diferente que o justificasse.
    Por isso, por ver a questão desenquadrada de qualquer prática social é que disse que só poderia vir de desejos de grupos. de lobbies, e imposta por meios "revolucionários".

    Não há o menor indicador na nossa sociedade que aponte que a pena de morte era bem-vinda nem sequer se encontra debate ou estudo sobre o assunto. É questão de desejo- como poderá ser a dos casamentos gay ou dos direitos de eutanásia. Peço desculpa se a comparação é incómoda mas vejo-a tão gratuita como as outras.
    É óbvio que teoricamente será possível encontrar-se sempre bons argumentos. mas isso também os dos lobbies o fazem e para mim não valem nada. Porque entendem que a sociedade pode mudar segundo a força do vento por eles movida. E é isso que não me agrada. Também sou pelas maiorias mesmo que tenham muitos esqueletos no armário ";O)

     
  • At 9:08 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Chére Zazie:
    Nunca me passaria pela cabeça cortar o voto só às Mulheres. Isso era bom para o Bernardino Machado, que achava que o catolicismo da maior parte Das de então poderia prejudicar os resultados eleitorais do seu jacobino partido.
    Mas o teu conceito de Tradição não A estará a confundir com "conservadorismo"? Os Tradicionalistas querem mudanças tão radicais como os revolucionários, só que sem as baixezas deles e tomando por modelo uma certeza da História, em lugar de um devaneio sem apoio sólido, o qual resulta sempre em sangue inocente. E quanto às hipóteses de sucesso, basta haver quem tenha as qualidades para protagonizar a luta. É disso que andamos à procura.
    Se convertida não Te queres dar como Voluntária para o efeito?
    Hihihihihihi!

     
  • At 9:21 PM, Blogger zazie said…

    ehehe essa das mulheres saiu por acaso, por mim até acho que há gente a mais a votar mas enfim ":O)))
    dou de barato porque é coisa que raramente faço ahahahhaha

    Quanto ao conservadorismo ou tradicionalismo tambe´m não sei. Não faço ideia do que sou e cada vez ligo menos a querer ser alguma coisa ":O)) sou franco-atiradora, como acho que já o era aos 15 aninhos e sinto-me muito bem assim.
    Mas, se calhar tens razão, parece que o conservador anda mais por um certo "cinismo cívico" de indiferença e não é nada dado à acção. Eu também não embora pense que tenho ideias nada conservadores e muito menos tradicionalistas noutros aspectos.

    O que eu acredito é que as mudanças bruscas são perigosas e que entre um modelo que existe e se conhecem os efeitos e uma alteração para outro não testado eu prefiro a manutenção do primeiro. Em tudo, ia jurar...
    e sou mais pelos "restauros" que pelas utopias- utopia só a minha ehehe donde jorre tudo das árvores

    beijocas

    Ah, e tenho a mania do realismo em política ainda que por cá praticamente não existam realistas. Somos um país de poetas ";O)

     
  • At 10:39 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    "Está-se mesmo a ver":
    Com esse poder argumentativo e não tendo a imagem (ainda) queimada, estás mesmo bem para encabeçar a nossa luta. Uma Realista verá que precisamos disso como de pão para a boca e essa do gradualismo das mudanças é a mensagem ideal para não afugentar as pessoas.
    Oooooops, eu e a minha grande língua! lá me escapou a táctica secreta!
    Bjs.

     
  • At 11:19 PM, Blogger zazie said…

    ahahaha não tendo ainda a imagem queimada looooooooolll

    não podiam escolher pessoa mais queimada por natureza para a política ":O))))

    beijocas

     

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