O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Monday, November 21, 2005

Explicação do Trágico

O que sendo ao gosto dos contemporâneos, contende
com todas as regras que seguiam os Antigos, os
únicos, afinal, que o levaram suficientemente a
sério.
Ontem, a evocação de José António fez-me lembrar
a melhor explicação que conheço do fenómeno Fascista,
dada por quem a sabia toda. Em jeito de análise, mas
quadrando muito melhor no género profético, pelo que
hoje conhecemos:
«Antes de ter sido verbo o Fascismo foi acção. Aqui
reside talvez a sua íntima tragédia
».
Foi-o realmente. Até porque contestação anti-liberal,
anti-marxista, mas também anti-cristã, já que culpava
a doutrinação dos primeiros de ter acabado por esvair
a vitória de uma Guerra ganha; a dos segundos por ser
a sabotagem do destino nacional e a Mais Perene de
Todas por opor o comunitarismo religioso à realizãção
da «ética do Século XX, na Força e no Estado».
Gerou-se, assim, nos combatentes defraudados, os homens
que, dispostos a lutar, se viam - e à Entidade Mítica que
os movia - traídos. Só depois surgiu a teorização.
Ei-lo, então, privado do amadurecimento do tempo longo,
dado pela absorção e adaptação dos dogmas marxistas
pelos intelectuais do movimento socialista internacional.
Ou pela prolongada reflexão eclesial sobre a Revelação,
a qual também, a partir do Novo Testamento, precedera a
construção do Estado Cristão. Num certo sentido, até do
estatuto da Revolução liberal, que se queria ver como
tendo bebido na Reforma Protestante e no Iluminismo.
Aos Fascistas italianos não foi dada essa aprendizagem.
Contagiados pela velocidade que se adivinhava, só lhes
restava, finda a grande conflagração global, encaminharem-se
para o Poder, com pressa e um formal culto da violência,
próprio dos disponibilizados homens das batalhas e dos
sindicalistas, que, adivinhava-se desde o início, um dia
se viria a virar contra eles, com substancialidades muito
mais duras e reais.
Mas a sorte já estava lançada.

Para confirmar a autoria da frase citada, ver o primeiro
comentário.

10 Comments:

  • At 11:22 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Benito Mussolini, em 1921.

     
  • At 1:22 PM, Blogger Rodrigo N.P. said…

    Hehe, está bem conseguido. De resto o fascismo antes de ser teoria é uma postura, logo acção.De acordo portanto.

     
  • At 2:42 PM, Blogger Flávio Santos said…

    Em parte é verdade mas Mussolini foi influenciado em grande medida pelas ideias de Corradini, desenvolvidas antes da tomada do poder (já para não falar de George Sorel). A teorização veio depois mas já havia uma base doutrinal.

     
  • At 2:44 PM, Blogger Flávio Santos said…

    Além disso, se a tomada do poder envolveu violência, ao facto de esta mais tarde se voltar contra o fascismo é irrelevante haver ou não uma teoria prévia. Violência gera sempre violência, seja qual for o contexto.

     
  • At 3:00 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Caríssimo FG Santos:
    Havia, evidentemente, leituras: a de Sorel, importantíssima como foi, por via de H. Lagardelle. Mas creio que a doutrina específica foi, realmente, construída paulatinamente e em paralelo com a ascensão.
    De acordo quanto às consequências da violência presente como imagem de marca do estilo fascista. Mas o meu ponto é que ela era um traço quase inevitável na edificação de um homem novo, cheio de energia a ameaçar explodir, erguido a partir dos veteranos e dos sindicalistas frustrados com o que viam ser a venda dos seus esforços pelas e às oligarquias política e financeira internacionais.
    Daí a frase de Malraux: «um homem ao mesmo tempo pessimista e activo é, ou será, fatalmente, um fascista, a menos que tenha atrás de si uma fidelidade anterior». Ele pensava no seu grande amigo Drieu, bem como em si próprio, suponho, "ancorado" que já se encontrava.

     
  • At 3:13 PM, Blogger Rodrigo N.P. said…

    lMalraux encontrava-se "ancorado"? Esta frase é muito interessante, não quererá o Paulo desenvolver a ideia?

     
  • At 5:40 PM, Anonymous Anonymous said…

    Apoiado, caro Rebatet. É puxar pelo Paulo; pois, esse Homem, é um manancial de Cultura (da verdadeira!).

     
  • At 6:05 PM, Blogger Flávio Santos said…

    E depois diz que o outros (como eu) é que o são. Tomara eu!

     
  • At 6:06 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Meus Caros Rebatet e Memdo:
    desgraçadamente, creio que a frase, esmiuçada, se torme muito menos interessante: o que pretendi dizer é que, achando-se Malraux, também, pessimista e activo, pode ter usado a tautológica parte final da frase citada para justificar a não-adesão, bem pelo contrário, ao ideário focado:
    - se não fosse, havia quase vinte anos, um "compagnon de route" notório dos comunistas(o tempo do gaullismo ainda não chegara);
    - se não tivesse sido o cantor das revoluções asiáticas;
    - se, desde os primeiros 1920´s, não tivesse sido um arauto do anti-colonialismo ocidental;
    - se não tivesse participado, em Espanha, no Combate, do lado Rojo;
    - se não fosse casado com uma judia, sob quem impendia a ameaça do anti-semitismo Nacional-Socialista, entretanto aliado ao Fascismo e cuja expansão se adivinhava,

    então, também ele teria podido ser um fascista.
    Mas é uma interpretação. Vale o que vale. O que quer dizer, provindo desta cabeça, muito pouco.

     
  • At 6:10 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Oh, "Sô" FG Santos, nada de gozar com a miséria alheia, a minha, "quer-se dizer"!
    Mas, de qualquer forma, obrigado aos Três. As Pessoas vão é pensar: «mal empregados elogios naquela fraude!». Mas é sempre bom saber que se tem Amigos.

     

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