Pensar por Decreto

Vai o País aliviar-se da lufa-lufa da campanha para,
obedecendo ao ditame oficial, entrar em periodo de
reflexão. Sempre me fez espécie esta instituição, pois
parte do duplo humilhante princípio de que a maioria
dos cidadãos não tem, até agora, reflectido, o que
até é capaz de ser verdade, bem como da necessidade
de um intervalo silencioso para o fazerem, coisa que me
parece de uma sobranceria atroz, por parte da nossa
legislação eleitoral, sempre desconfiada da imaturidade
dos nacionais eleitores.
Noutros países nem a reflexão é aprisionada em dias
específicos, nem existe a procura do fim da semana para
a votação. Estados Unidos, Reino Unido, Holanda, Noruega,
tudo vota em dias úteis, o que ainda demonstra algum respeito
pelo eleitor. Já que se vai incomodá-lo, ao menos que não
lhe venham revolver o sacrossanto período de repouso.
E, ao contrário do que se pensa, acredito que o sistema, por
cá, aumentaria a afluência às urnas, em vez de a diminuir. Quem
é que resistiria a roubar umas horazitas ao emprego, com tão eficaz
desculpa?