O Passado e o Presente
Tenho pelas eleições autárquicas uma posição de
princípio simpatizante e uma análise crítica
desmotivadora. Municipalista cresci, com as
lições do Visconde de Santarém e de Sardinha,
acreditando que a escolha dos vizinhos que resolvam
os problemas técnico-sociais das divisões do território,
de concelho para baixo, é tão imperiosa como ilegítima
e improfícua a submissao ao voto das políticas em campo
soberanista.
Sempre vi esse grande apoio do Poder Real contra as
subversões que, por vezes, elementos das oligarquias militar
e burocrático-agrícola, esquecidos da sua função orgânica,
intentaram em proveito pessoal, e que levou D. Afonso III a
consagrar definitivamente a participação municipal em Cortes,
em regra consultivas, mas com poderes decisórios em épocas de
excepção, coerentemente, desde a sua aparição nas de Leiria de
1254.
Mas o que temos hoje, nessas repartições territoriais que,
adaptadas às necessidades do momento, poderiam constituir um belo
contrapeso à politiquice e oratória estéreis da governação
geral da república? O panorama é desolador porque os exactos
partidos que imperam em São Bento estendem os monstruosos
tentáculos ao domínio das autarquias. E as listas de independentes,
uma alternativa aparentemente saudável à omnipresença dos emblemas
fraccionantes, vêm sendo, quase que exclusivamente, preenchidas por
dissidências e vaidades feridas nos aparelhos partidários. Os poucos
independentes prestigiados e disponíveis, por seu turno, cedem aos
cantos de sereia das direcções partidocráticas que, oferecendo-lhes os
apoios das respectivas máquinas, lhes prometem facilitar a tarefa.
Neste ambiente de partidarização a corruptibilidade acha-se muito
favorecida, quer pelas cumplicidades condenáveis que começam a
estabelecer-se no seio de uma facção organizada, quer por, em grande
parte dos casos, as pessoas serem obrigadas a escolher entre males,
os que lhes são apresentados nas bandejas/boletins, previamente
decididos em foruns restritos, nos quais não são tidas nem achadas.
E os favores eleitorais e pré-eleitorais acabam por apresentar a
factura respectiva. Tudo se paga. Mas a continuar a permitir que
os orgãos autárquicos sejam abafados por um monopólio de facto
dos partidos é o que resta de futuro a Portugal que acabará por
pagar.
princípio simpatizante e uma análise crítica
desmotivadora. Municipalista cresci, com as
lições do Visconde de Santarém e de Sardinha,
acreditando que a escolha dos vizinhos que resolvam
os problemas técnico-sociais das divisões do território,
de concelho para baixo, é tão imperiosa como ilegítima
e improfícua a submissao ao voto das políticas em campo
soberanista.
Sempre vi esse grande apoio do Poder Real contra as
subversões que, por vezes, elementos das oligarquias militar
e burocrático-agrícola, esquecidos da sua função orgânica,
intentaram em proveito pessoal, e que levou D. Afonso III a
consagrar definitivamente a participação municipal em Cortes,
em regra consultivas, mas com poderes decisórios em épocas de
excepção, coerentemente, desde a sua aparição nas de Leiria de
1254.
Mas o que temos hoje, nessas repartições territoriais que,
adaptadas às necessidades do momento, poderiam constituir um belo
contrapeso à politiquice e oratória estéreis da governação
geral da república? O panorama é desolador porque os exactos
partidos que imperam em São Bento estendem os monstruosos
tentáculos ao domínio das autarquias. E as listas de independentes,
uma alternativa aparentemente saudável à omnipresença dos emblemas
fraccionantes, vêm sendo, quase que exclusivamente, preenchidas por
dissidências e vaidades feridas nos aparelhos partidários. Os poucos
independentes prestigiados e disponíveis, por seu turno, cedem aos
cantos de sereia das direcções partidocráticas que, oferecendo-lhes os
apoios das respectivas máquinas, lhes prometem facilitar a tarefa.
Neste ambiente de partidarização a corruptibilidade acha-se muito
favorecida, quer pelas cumplicidades condenáveis que começam a
estabelecer-se no seio de uma facção organizada, quer por, em grande
parte dos casos, as pessoas serem obrigadas a escolher entre males,
os que lhes são apresentados nas bandejas/boletins, previamente
decididos em foruns restritos, nos quais não são tidas nem achadas.
E os favores eleitorais e pré-eleitorais acabam por apresentar a
factura respectiva. Tudo se paga. Mas a continuar a permitir que
os orgãos autárquicos sejam abafados por um monopólio de facto
dos partidos é o que resta de futuro a Portugal que acabará por
pagar.
11 Comments:
At 1:26 PM, Anonymous said…
Ora aqui está um tema a que os monárquicos não podem fugir. Isto daria pano para mangas e Você sabe que eu tenho imensas "opiniôes" sobre este assunto. Uma verdadeira fixação. Penso até que a monarquia voltará por causa da questão autárquica. Sou inimigo ajuramentado da expressão "unitária" que enquanto não a varrermos da Constituição e ao mesmo tempo da nossa consciência, ainda napoleónica, estaremos sempre expostos a todas as tiranias ( a actual partidocracia, é uma delas). Espero não ter perturbado a lei, nem o seu período de reflexão, porque conforme anunciou, já cumpriu o seu dever cívico a esta hora.
Um abraço e que ganhe o menos mau.
Não podendo ser o Belenenses...
JSM (Interregno) - Assino assim porque ainda não domino a caixa de comentários!
At 1:55 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro JSM:
Quanto ao despoletar do regresso da Monarquia, Deus o oiça, Deus o ouça. O Municipalismo é um tema fulcral. Devíamos, um dia, organizar um Colóquio sobre o Tema, o que não nos impede de o irmos debatendo, entre amigos. Há um argumento falaz que me irrita: o que vomita «lá vêm vocês com o reforço dos poderes autárquicos, quando se vê que Fulano, Beltrano e Sicrano só pensam em metê-lo ao bolso». Não se percebe que o mal está no processo de selecção do pessoal político dos concelhos, pelo estado-maior deste partido, ou pelo daquele. O "post" foi uma primeira tentativa de contrariar essa tendência.
E podemos trocar as nossas impressões, porque não revelamos publicamente a nossa preferência, entre os concorrentes ao acto de hoje. Saudei igualmente todos os membros da mesa de voto. Hihihihi!
Abraço amigo.
Ah, e a Assinatura vai funcionando perfeitamente.
At 3:44 PM, �ltimo reduto said…
Paulo, isso é a sério? Foram efectivamente saudados, um a um, todos os membros da dita cuja?
Eu não consigo, aliás parece-me mesmo que nem os olho nos olhos, o que facilmente se explica: votar causa-me um certo embaraço, para não dizer que alguma vergonha...
At 5:42 PM, Anonymous said…
Pois eu lá acabei de cravar - agorinha mesmo - mais uma farpazita no 'Sistema'.
Quanto ao Municipalimo: A Monarquia - Tradicional e Verdadeira - deve ter no Municipalismo um dos seus Pilares e no Corporativismo (palavra tão mal usada quanto desconhecida) outro.
Assim, Deus, Pátria e Rei são os Valores e Família, Município e Corporação serão a coluna vertebral estruturante da
Comunidade orgânica.
«Claro como água que brota da rocha virgem».
Saudações Integralistas!
At 5:51 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu caro Pedro:
Repare no que eu escrevi: «saudei igualmente todos os membros da mesa de voto». Não menti um miligrama que fosse. Depois de ter "botado" virei-me na direcção deles todos e, com uma pequena inclinação, disse «Muito bom dia!». Desafio alguém a provar que faltei
à verdade.
Mas duas eleições atrás é que este seu pobre amigo parecia um elemento da classe política. Encontrei, nas funções de delegada de secção de voto, uma Professora minha, do Liceu. Toca de dar dois beijinhos. Nisto vejo o Presidente da mesa a olhar. Achei por bem apertar-lhe a mão. E, com medo de estar a fazer distinções proibidas, lá lambuzei todas as Senhoras e estreitei a mão de todos os homens investidos naquela função controladora.Enfim, uma figura popular!
At 7:48 PM, Flávio Santos said…
Sinto o mesmo que o Pedro...
Parabéns ao Paulo por abordar a questão da forma como o fez.
At 1:02 AM, vs said…
Eu é sempre com grande alegria e enorme júbilo que vou votar.
Afinal de contas, pelo que sei, sou o único Democrata que por aqui anda :)
Como muitos outros, zelo, afincadamente, para a transmissão dos valores Democráticos às novas gerações.
É assim que penso....porque posso pensar...porque sou livre para poder dizer o que quero....e isto só é possível em Democracia.
Porque Liberdade só é possível em Democracia.
A Democracia, com todos os seus defeitos (que assume), é preferível aos devaneios tirânicos e ás utopias organicistas (uma impossibilidade anti-natural) e monolíticas (uma outra impossibilidade, pois se somos todos diferentes não há monolitismo que resista).
At 6:56 AM, Paulo Cunha Porto said…
Oh, Nelson, Depois da orgia eleitoral de ontem, quem é que Lhe pode levar a mal um pequeno panegírico desse paraíso artificial que é a votação em partidos?
At 10:14 AM, Flávio Santos said…
«Liberdade só é possível em Democracia.» AH! AH! AH! AH! AH! AH! AH! AH! AH! AH! AH! AH! AH!
At 11:08 AM, vs said…
AHAHAHAHHA!!?!??!?!?
Ora então explique lá o FG Santos a galhofa às pobres 'massas obscurantizadas'.
Eu só vejo tirania à volta.
As alternativas (q já não o são), o comunismo o fascismo e o NS, não passam de despudoradas tiranias.
A democracia pode ser uma 'tirania', mas é mais 'soft' e, pelo menos, sempre podemos desligar a televisão.
Fora da Democracia= Glavnoe Upravlenie Lagerei
At 12:06 PM, Flávio Santos said…
«Fora da Democracia= Glavnoe Upravlenie Lagerei» - se já parte com uma certeza para que é que hei-de gastar o meu latim? São as certezas que agradam aos comunistas, por exemplo.
Mas deixo uma dica, para reflexão: o que é que um sistema de escolha de governantes tem a ver com a liberdade de que gozam os súbditos no dia-a-dia? Porque é que esta há-de ser menor se aquele sistema não for o da escolha directa?
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