Leitura Matinal~-153
A tentação de terminar uma qualquer forma de expressão,
bloguística incluída, digladiando-se com o desejo inverso, de
acrescentar alguma coisa mais. Que explicação encontrar para
o momento em que se sucumbe, para uma fraqueza ainda maior,
o adiamento dele, ou da outra margem, da resistência teimosa?
A grande questão reduzir-se-á sempre à Esperança, seja a Irmã
da Fé, ou a outras, mais comezinhas, de pura crença na subsistência
de interesse ou de empatia com Quem lê, que justifiquem e prolonguem
a actividade criadora. Desta luta, querendo fazer-se lúcido quanto
ao futuro sem Esperança, logo mergulhando ingenuamente numa
obsessiva falta de munição Dela, gritou, sobre a Poesia e a Vida,
imagens perpetuamente retributivas e subsidiárias uma da outra,
António Pedro:
PARA SERVIR DE FINAL
Para servir de final bastava um ponto final
Se tivesse havido coragem:
Acabar com esta ilusão das palavras que já não servem,
Deixar morrer a poesia de morte natural;
Para servir de final também bastava o conforto da vida
Se a vida soubesse dar conforto
De forma a que nem apetecesse
Este a gente deixar-se à mercê do que nos mói
A ansiedade e os ouvidos;
Para servir de final - isso é que era um final! -
Chegavam umas poucas de pás de terra,
E o refastelar dos bichos,
Ali, a roerem consolados
Nesta pele podre e sensível...
E, no entanto, ainda apetece um post-scriptum,
Apetece ainda este gosto desarrazoado
De estar a falar com pessoa nenhuma
Que mais não seja para gritar
- A Poesia morreu! Morra a Poesia!
Coma a terra os poetas deste mundo!
Sobre um lodo de sangue os homens-lobos resolveram
Andar aos rebanhos, como os cordeiros;
Fecharam-se-me todas as portas
E ninguém cabe pela minha;
Apagou-se a luz de Deus
E a esperança, com ela, arrefeceu-me no sémen;
Sei que hei-de acabar, como as pedras, em incómodo
E me hão-de as mulheres limpar os olhos com água bórica;
Por ser cedo, ou ser tarde,
Já nem me lembro dos meus vinte anos
- Deixei morrer a fé, e não chegou a resignação;
Sumiu-se o bicho harmonioso
Que assoprava o esquecimento aos meus ouvidos
E, até as minhas mãos
Se recusam, às bolhas, a uma harmonia concisa;
Das estrelas que semeei nasceram só gritos estéreis;
Os monstros que acariciei riram-se da minha angústia
E tomaram-me nas manápulas para que fosse um deles
E só me falta deixar que o fogo acabe tudo...
Lá virá! Lá virão línguas ou pétalas ardendo
Sobre o vento que me desgrenha os nervos e os cabelos
Consumir-se no espectáculo
Dum grande incêndio final!...
........................................(Resta-me cultivar esta mentira
........................................Como uma planta de vaso capaz de algumas #folhas
........................................Antes de ir para o esterco)
bloguística incluída, digladiando-se com o desejo inverso, de
acrescentar alguma coisa mais. Que explicação encontrar para
o momento em que se sucumbe, para uma fraqueza ainda maior,
o adiamento dele, ou da outra margem, da resistência teimosa?
A grande questão reduzir-se-á sempre à Esperança, seja a Irmã
da Fé, ou a outras, mais comezinhas, de pura crença na subsistência
de interesse ou de empatia com Quem lê, que justifiquem e prolonguem
a actividade criadora. Desta luta, querendo fazer-se lúcido quanto
ao futuro sem Esperança, logo mergulhando ingenuamente numa
obsessiva falta de munição Dela, gritou, sobre a Poesia e a Vida,
imagens perpetuamente retributivas e subsidiárias uma da outra,
António Pedro:
PARA SERVIR DE FINAL
Para servir de final bastava um ponto final
Se tivesse havido coragem:
Acabar com esta ilusão das palavras que já não servem,
Deixar morrer a poesia de morte natural;
Para servir de final também bastava o conforto da vida
Se a vida soubesse dar conforto
De forma a que nem apetecesse
Este a gente deixar-se à mercê do que nos mói
A ansiedade e os ouvidos;
Para servir de final - isso é que era um final! -
Chegavam umas poucas de pás de terra,
E o refastelar dos bichos,
Ali, a roerem consolados
Nesta pele podre e sensível...
E, no entanto, ainda apetece um post-scriptum,
Apetece ainda este gosto desarrazoado
De estar a falar com pessoa nenhuma
Que mais não seja para gritar
- A Poesia morreu! Morra a Poesia!
Coma a terra os poetas deste mundo!
Sobre um lodo de sangue os homens-lobos resolveram
Andar aos rebanhos, como os cordeiros;
Fecharam-se-me todas as portas
E ninguém cabe pela minha;
Apagou-se a luz de Deus
E a esperança, com ela, arrefeceu-me no sémen;
Sei que hei-de acabar, como as pedras, em incómodo
E me hão-de as mulheres limpar os olhos com água bórica;
Por ser cedo, ou ser tarde,
Já nem me lembro dos meus vinte anos
- Deixei morrer a fé, e não chegou a resignação;
Sumiu-se o bicho harmonioso
Que assoprava o esquecimento aos meus ouvidos
E, até as minhas mãos
Se recusam, às bolhas, a uma harmonia concisa;
Das estrelas que semeei nasceram só gritos estéreis;
Os monstros que acariciei riram-se da minha angústia
E tomaram-me nas manápulas para que fosse um deles
E só me falta deixar que o fogo acabe tudo...
Lá virá! Lá virão línguas ou pétalas ardendo
Sobre o vento que me desgrenha os nervos e os cabelos
Consumir-se no espectáculo
Dum grande incêndio final!...
........................................(Resta-me cultivar esta mentira
........................................Como uma planta de vaso capaz de algumas #folhas
........................................Antes de ir para o esterco)
2 Comments:
At 4:26 PM, João Villalobos said…
Deixa-te mas é de nihilismos tardios. O poema é um bom poema, o blog é um bom blog, o autor do mesmo é um bom autor do mesmo. E pronto. Ça doit suffir.
At 6:02 PM, Paulo Cunha Porto said…
Obrigado, mas para tanto, é preciso que possa "autorar"!
O poema já estava noutro plano e é muito forte, não é?
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