Jogar às Escondidas com os Astros
Nunca se explicará de forma totalmente satisfatória a
estranha atracção que os objectos celestes despertam
nos humanos. Para os que procuram a abolição do acaso
pela identificação de correlações singulares entre seres e
Mundo o mergulho na astrologia é o caminho ideal. Para
os que visam objectivo comparável mas preferem tentar
alcançá-lo pela explicação alicerçada em leis gerais o recurso
é a ciência astronómica.
Mas muitos mais há que não pensam, habitualmente, os corpos
astrais e que nem por isso conseguem escapulir-se das suas
movimentações. Sendo os eclipses das mais notórias de entre
elas e tendo a Comunicação Social alimentado o interesse do
público pelo que, amanhã, escondendo quase todo o Sol, será
visto, de forma ideal, em Bragança, socorro-me do clássico livrito
de Chambers para Vos trazer algumas curiosidades acerca desses
fenómenos.
O homem é menos esperto do que a formiga, mais do que a cigarra
e, presume-se, tanto como o galo. Os formigueiros continuam, na sua
totalidade, a trabalhar. As cigarras e os vermes da terra deixam-se
enganar, e, pensando que a noite chegou, as primeiras calam-se e
os últimos vêm à superfície. Dos pássaros que, ao contrário da pobre
humanidade, quando perturbados, pousam, em vez de se agitarem,
escapa o galo, o qual, vendo chegar a escuridão, põe a cabeça debaixo
da asa, para dormir, mas, apercebendo-se do clarear, por muito
surpreendido que esteja, não canta.
O primeiro eclipse de que a nós chegou relato passou-se durante o
reinado do Imperador chinês Tchung-K´ang, havendo, realmente,
justificado ser uma ocorrência a temer, pelo menos no que toca aos
dois astrónomos imperiais que viram abreviadas as suas vidas por o
não terem previsto.
E porque foi meramente parcial, logo menos divisável, as gentes
cantaram:
Jazem aqui Ho mais Hai -
Triste sorte, mas risível!
Enforcados por não terem
Visto o eclipse invisível.
Na Bíblia há um eclipse indiscutível, narrado em Amos, VIII, 9. E
uma discussão tremenda sobre a realidade de um outro, conforme as
opostas interpretações que os exegetas e os cientistas dão de uma
narração renitente às clarificações, que versaria sobre uma engenhoca
esdrúxula, supostamente construída durante o governo de Ezequias, o
relógio de Accaz, bem como do seu funcionamento. Ou como um eclipse
duvidoso conseguiu ser o pomo de discórdia entre os mais sábios dos
homens.
Um eclipse há que poderia, com mais razão do que muitos, engrossar a
lista dos candidatos ao Prémio Nobel da Paz. É o contado por Heródoto;
tendo-se dado a ver aos teimosos Lídios e Medos que se guerreavam,
imediatamente ambos os povos cessaram os empreendimentos bélicos e
ficaram ansiosos pela paz. E há quem veja no testemunho dos Caldeus de
um eclipse anular, como o que se espera, a origem da Coroa Real, o que
também não teria sido nada má acção.
Plutarco, Arquíloco e Tales de Mileto obervaram e falaram de eclipses.
E Xenofonte conta como os Medos, cercados em Larissa pelos Persas,
opuseram tenaz resistência, até que a acção de um eclipse lhes
justificou o nome, tendo, apavorados, abandonado a cidade aos asaltantes.
Por outro lado, o irmão de Leónidas, o espartano Cleombroto, após as
Termópilas, não aceitou comandar os soldados gregos contra os Persas e
voltou para casa com o rabo entre as pernas, por ter testemunhado um
eclipse em que achou nefastos preságios. Já Agatócles fez de um outro
eclipse o que quis, burlando os subordinados apavorados, ao dizer que
concordaria em que a ocultação solar seria mau augúrio para eles, se se
tivesse dado antes da partida, mas tendo vindo depois, só o poderia ser
para o inimigo...
César é que, tivesse tido ele tempo para isso, se arrependeria bem de
não ser supersticioso. Parece fora de dúvida que ocorreu um eclipse no
dia em que o mataram.
Porque nem já os eclipses são como antigamente, no Mundo Ocidental a
sua sorte declinou desde aí. Alguns quiseram ver o escuro ambiente que
rodeou a Crucifixão como sendo um eclipse, mas Igreja e Ciência deram as
mãos, para erradicar a crença. Aparte o aparecimento de Alarico diante
de Roma, ficaram os mais que decadentes eclipses reduzidos a
espectáculos gratuitos para gáudio dos povos, coincidindo, de quando em
vez, com a morte de um soberano, ou do seu herdeiro, para fazer reviver
temores antigos.
Quem tentou remar contra a maré foi o mundo muçulmano, através do
Califa Moawiyah, que, havendo dado ordem para transportar o púlpito de
Mahomet, de Medina para o seu palácio de Damasco, viu os executores da
sua ordem serem inundados pelo pavor infligido por um eclipse, tido como
protesto do Profeta.
Pelo que devemos concluir que os eclipses nunca foram tão bons ou tão
maus como pareceram. Esses epítetos cabem, por exclusivo direito, aos
homens que os observaram. Como hoje, como sempre. E talvez por isso,
numa projecção estatisticamente relevante, lhes haja sido atribuído mais
mal que bem.
estranha atracção que os objectos celestes despertam
nos humanos. Para os que procuram a abolição do acaso
pela identificação de correlações singulares entre seres e
Mundo o mergulho na astrologia é o caminho ideal. Para
os que visam objectivo comparável mas preferem tentar
alcançá-lo pela explicação alicerçada em leis gerais o recurso
é a ciência astronómica.
Mas muitos mais há que não pensam, habitualmente, os corpos
astrais e que nem por isso conseguem escapulir-se das suas
movimentações. Sendo os eclipses das mais notórias de entre
elas e tendo a Comunicação Social alimentado o interesse do
público pelo que, amanhã, escondendo quase todo o Sol, será
visto, de forma ideal, em Bragança, socorro-me do clássico livrito
de Chambers para Vos trazer algumas curiosidades acerca desses
fenómenos.
O homem é menos esperto do que a formiga, mais do que a cigarra
e, presume-se, tanto como o galo. Os formigueiros continuam, na sua
totalidade, a trabalhar. As cigarras e os vermes da terra deixam-se
enganar, e, pensando que a noite chegou, as primeiras calam-se e
os últimos vêm à superfície. Dos pássaros que, ao contrário da pobre
humanidade, quando perturbados, pousam, em vez de se agitarem,
escapa o galo, o qual, vendo chegar a escuridão, põe a cabeça debaixo
da asa, para dormir, mas, apercebendo-se do clarear, por muito
surpreendido que esteja, não canta.
O primeiro eclipse de que a nós chegou relato passou-se durante o
reinado do Imperador chinês Tchung-K´ang, havendo, realmente,
justificado ser uma ocorrência a temer, pelo menos no que toca aos
dois astrónomos imperiais que viram abreviadas as suas vidas por o
não terem previsto.
E porque foi meramente parcial, logo menos divisável, as gentes
cantaram:
Jazem aqui Ho mais Hai -
Triste sorte, mas risível!
Enforcados por não terem
Visto o eclipse invisível.
Na Bíblia há um eclipse indiscutível, narrado em Amos, VIII, 9. E
uma discussão tremenda sobre a realidade de um outro, conforme as
opostas interpretações que os exegetas e os cientistas dão de uma
narração renitente às clarificações, que versaria sobre uma engenhoca
esdrúxula, supostamente construída durante o governo de Ezequias, o
relógio de Accaz, bem como do seu funcionamento. Ou como um eclipse
duvidoso conseguiu ser o pomo de discórdia entre os mais sábios dos
homens.
Um eclipse há que poderia, com mais razão do que muitos, engrossar a
lista dos candidatos ao Prémio Nobel da Paz. É o contado por Heródoto;
tendo-se dado a ver aos teimosos Lídios e Medos que se guerreavam,
imediatamente ambos os povos cessaram os empreendimentos bélicos e
ficaram ansiosos pela paz. E há quem veja no testemunho dos Caldeus de
um eclipse anular, como o que se espera, a origem da Coroa Real, o que
também não teria sido nada má acção.
Plutarco, Arquíloco e Tales de Mileto obervaram e falaram de eclipses.
E Xenofonte conta como os Medos, cercados em Larissa pelos Persas,
opuseram tenaz resistência, até que a acção de um eclipse lhes
justificou o nome, tendo, apavorados, abandonado a cidade aos asaltantes.
Por outro lado, o irmão de Leónidas, o espartano Cleombroto, após as
Termópilas, não aceitou comandar os soldados gregos contra os Persas e
voltou para casa com o rabo entre as pernas, por ter testemunhado um
eclipse em que achou nefastos preságios. Já Agatócles fez de um outro
eclipse o que quis, burlando os subordinados apavorados, ao dizer que
concordaria em que a ocultação solar seria mau augúrio para eles, se se
tivesse dado antes da partida, mas tendo vindo depois, só o poderia ser
para o inimigo...
César é que, tivesse tido ele tempo para isso, se arrependeria bem de
não ser supersticioso. Parece fora de dúvida que ocorreu um eclipse no
dia em que o mataram.
Porque nem já os eclipses são como antigamente, no Mundo Ocidental a
sua sorte declinou desde aí. Alguns quiseram ver o escuro ambiente que
rodeou a Crucifixão como sendo um eclipse, mas Igreja e Ciência deram as
mãos, para erradicar a crença. Aparte o aparecimento de Alarico diante
de Roma, ficaram os mais que decadentes eclipses reduzidos a
espectáculos gratuitos para gáudio dos povos, coincidindo, de quando em
vez, com a morte de um soberano, ou do seu herdeiro, para fazer reviver
temores antigos.
Quem tentou remar contra a maré foi o mundo muçulmano, através do
Califa Moawiyah, que, havendo dado ordem para transportar o púlpito de
Mahomet, de Medina para o seu palácio de Damasco, viu os executores da
sua ordem serem inundados pelo pavor infligido por um eclipse, tido como
protesto do Profeta.
Pelo que devemos concluir que os eclipses nunca foram tão bons ou tão
maus como pareceram. Esses epítetos cabem, por exclusivo direito, aos
homens que os observaram. Como hoje, como sempre. E talvez por isso,
numa projecção estatisticamente relevante, lhes haja sido atribuído mais
mal que bem.
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