O Horror
Não quero, nem por uma décima de segundo, equiparar
o tremendo horror da perda das vidas e da Vida que
subjaz ao arder da floresta pátria a um puro, embora
obsessivo terror pessoal: o de que a biblioteca
particular deste pobre ser ardesse. De alguma forma
receio que viesse a transformar-se numa extinção da
vida própria, mais que não fosse, na sua faceta espiritual.
É por isso que considero como um irmão um filósofo cujas
formulações frequentemente me desgostam: Fontenelle. Esse
mesmo, o homem que "inventou" modernamente a noção hedionda
do Progresso, um mito todo o dia desmentido. Mas o homem
adorava os seus livros e vivia com e para eles. Um dia, a
biblioteca enorme ardeu. Racine, que sabia como ele era,
enviou-lhe uma bela carta de pêsames, como se parente
chegado tivesse falecido. E no agradecimento, encontrou
estas imortais palavras:
«Se os meus livros não me tivessem ensinado a viver sem eles
não me teriam servido de nada.»
E, numa versão actualizada dos livros que levaria para a
ilha deserta, perguntaram a Cocteau o que procuraria salvar,
se a sua biblioteca fosse devorada pelas chamas. «O Fogo»,
respondeu. Mas claro que, na vida comum, não é possível, nem
aconselhável, preservar o espírito e o desportivismo, no que
à desgraça alheia toca. Pode mesmo ser ofensivo.
o tremendo horror da perda das vidas e da Vida que
subjaz ao arder da floresta pátria a um puro, embora
obsessivo terror pessoal: o de que a biblioteca
particular deste pobre ser ardesse. De alguma forma
receio que viesse a transformar-se numa extinção da
vida própria, mais que não fosse, na sua faceta espiritual.
É por isso que considero como um irmão um filósofo cujas
formulações frequentemente me desgostam: Fontenelle. Esse
mesmo, o homem que "inventou" modernamente a noção hedionda
do Progresso, um mito todo o dia desmentido. Mas o homem
adorava os seus livros e vivia com e para eles. Um dia, a
biblioteca enorme ardeu. Racine, que sabia como ele era,
enviou-lhe uma bela carta de pêsames, como se parente
chegado tivesse falecido. E no agradecimento, encontrou
estas imortais palavras:
«Se os meus livros não me tivessem ensinado a viver sem eles
não me teriam servido de nada.»
E, numa versão actualizada dos livros que levaria para a
ilha deserta, perguntaram a Cocteau o que procuraria salvar,
se a sua biblioteca fosse devorada pelas chamas. «O Fogo»,
respondeu. Mas claro que, na vida comum, não é possível, nem
aconselhável, preservar o espírito e o desportivismo, no que
à desgraça alheia toca. Pode mesmo ser ofensivo.
3 Comments:
At 11:00 AM, Anonymous said…
E o Misa/Paulo o que levaria para uma ilha deserta? (risos)
At 11:08 AM, Paulo Cunha Porto said…
Já aqui citei Chesterton, que respondeu a essa pergunta: um manual «Como Construir Botes a Remos»...
At 2:28 PM, Anonymous said…
Remos = a plural = a duas pessoas para remar. Certo?
Innie
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