O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Wednesday, August 24, 2005

Leitura Matinal -97

Sempre experimentei um nevoento mal-estar face
aos preditores do Futuro, mesmo os estatutariamente
dignos de Veneração. Incomodava-me que um possuidor
da visão do porvir espostejasse aquele e só desse
aos seus ouvintes parcelares nacos dele, mais ou
menos gordurosos, conforme o humor do dia.
Conhecer o Futuro, como estudar o Passado, ou gozar
essa aproximação que é o Presente, são maneiras que
o Homem inventou para satisfazer a sua curiosidade,
o mais corrosivo dos vícios, bem como para se aumentar
o vulto, a mais atormentadora das ambições.
Reconhecimento disto é a quase universal condenação
religiosa da automática e egoista fruição dos prazeres
materiais, a conformação do Passado numa Versão Sagrada
e a proscrição do conhecimento do Futuro, com excepção
dos raros Iluminados por Deus.
É que a ambição de saber o que virá é o verdadeiro fruto
proibido, que pareceu mais alcançável à Humanidade. A
imortalidade cedo ficou confinada aos alucinados heterodoxos
que insistiam em procurar o Elixir da Longa Vida, ou a esses
novos magos dos nossos dias, pobres sucedâneos, que mais se
não propoem do que retardar o envelhecimento. O conhecimento
do Bem e do Mal foi mais consequência do que causa da Queda.
E daí a masoquística noção de que, obtida uma previsão, a acção
do homem dela já conhecedor, com a sua pequenez, a levará para
um destino desfavorável, mesmo nos casos em que parecia ser
benigna. O castigo. Donde as ambiguidades e obscuridades dos
oráculos e dos ditos sibilinos.
Mas, claro está, na grande maioria das situações a desilusão não
se faz preceder de trombetas ou de arautos.
Viu-o bem Pedro Tamen:

IMPROVISO AOS PROFETAS

O dia de amanhã caminha a pé:
a lira o canta, a base o deixa
estar sentado, e é mendigo; e o é
assim desfeito e perturbado, mal se queixa.

Azul é terna cor de nos deixarmos
amortecer à calma; mas ele vem
tão íntimo, indiferente, que sacarmos
da sua boca o mel que mastiguemos não convém.

Nós o damos às chagas e às flores
dos agonizados dias - outros. Existe
igual aos nossos olhos e às dores
que nos fizemos. Porque o faremos triste

qual nos fazendo somos. É meu segredo
que ele será secreto, como criança
suja. Igual ao nosso medo
e à nossa esperança.

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