Leitura Matinal -89
Nuestros Hermanos, no lado de lá da fronteira,
nunca puderam com o que se convencionou chamar
o «amor português». Desde Cervantes, que o
satirizou, sempre foi tido como coisa doentia e
pouco viril. De resto, a mesma dolência dirigida
a um passado, verdadeiro ou inventado, depressa
foi alcandorada a traço essencial do carácter
pátrio e, de imediato, criticada, conjuntamente
com a canção nacional que lhe deu expressão, o
Fado, como desabafos poéticos de derrotados e
empecilho de todos os projectos de reconstrução.
Também Teixeira de Pascoaes e a doutrina que
defendeu comeram, algo injustamente, por tabela.
Creio que é uma falsa questão. Se queremos um
passado como exemplo, não me parece mau começo
que ele seja cantado com nostalgia. E a esterilização
da abulia emergente duma percepção de fatalidade
será tão ou tão pouco conseguida quanto os publicistas
e políticos do dia sejam mais ou menos capazes de
tocar os seus contemporâneos.
No terreno intimista, por seu turno, se é certo que
muita xaropada se confeccionou desse filão, porque
referente a um perdido concreto e pessoal, é mais
fácil reconhecer a dignidade.
Melhor, creio, do que um outro soneto que levou
o explícito título de «Saudades», reproduzo,
de Eugénio de Castro:
Os aziagos dias, os quebrantos,
As traições, as vinganças e os desprezos,
Já não sente seus golpes nem seus pesos
Aquele que perdeu vossos encantos.
São rosários de dor os tristes cantos,
Que dêstes lábios solto em febre acesos,
E, sem luz, os meus olhos estão presos
Pelas grades de vidro de meus prantos.
Vivo só, como os santos do deserto,
dia a dia o sofrer se me renova,
E choro tanto que, do fim já perto,
Em breve, de alto amor bem clara prova,
Os prantos que por vós, Senhora, verto,
Nesta penha abrirão a minha cova.
nunca puderam com o que se convencionou chamar
o «amor português». Desde Cervantes, que o
satirizou, sempre foi tido como coisa doentia e
pouco viril. De resto, a mesma dolência dirigida
a um passado, verdadeiro ou inventado, depressa
foi alcandorada a traço essencial do carácter
pátrio e, de imediato, criticada, conjuntamente
com a canção nacional que lhe deu expressão, o
Fado, como desabafos poéticos de derrotados e
empecilho de todos os projectos de reconstrução.
Também Teixeira de Pascoaes e a doutrina que
defendeu comeram, algo injustamente, por tabela.
Creio que é uma falsa questão. Se queremos um
passado como exemplo, não me parece mau começo
que ele seja cantado com nostalgia. E a esterilização
da abulia emergente duma percepção de fatalidade
será tão ou tão pouco conseguida quanto os publicistas
e políticos do dia sejam mais ou menos capazes de
tocar os seus contemporâneos.
No terreno intimista, por seu turno, se é certo que
muita xaropada se confeccionou desse filão, porque
referente a um perdido concreto e pessoal, é mais
fácil reconhecer a dignidade.
Melhor, creio, do que um outro soneto que levou
o explícito título de «Saudades», reproduzo,
de Eugénio de Castro:
Os aziagos dias, os quebrantos,
As traições, as vinganças e os desprezos,
Já não sente seus golpes nem seus pesos
Aquele que perdeu vossos encantos.
São rosários de dor os tristes cantos,
Que dêstes lábios solto em febre acesos,
E, sem luz, os meus olhos estão presos
Pelas grades de vidro de meus prantos.
Vivo só, como os santos do deserto,
dia a dia o sofrer se me renova,
E choro tanto que, do fim já perto,
Em breve, de alto amor bem clara prova,
Os prantos que por vós, Senhora, verto,
Nesta penha abrirão a minha cova.
1 Comments:
At 3:46 AM, Anonymous said…
Nada contra a nostalgia. Muito menos contra a "Nostalgia" de Tarkovsky. Ainda escrevi sobre o filme no DN-JOVEM!
E Teixeira de Pascoaes é muito homem da nostalgia. Que privilégio ter ouvidos poemas do "Mâranus" nas serranias de Amarante. Começou a chover e ninguém arredou pé até a declamação ter acabado.
A força da poesia! A força da Natureza! A pequenez do Homem!
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