O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Monday, August 15, 2005

Presente!

Pensava eu arrastar-me num ramerrão indolente
ao longo de mais 15 dias, até que o opressivo
Agosto batesse em retirada, quando, regressado
de férias com o gás todo, o estimadíssimo Rebatet
publica um longo e fundamental post, lançando um
repto final para que os verdadeiros contra-
-revolucionários - que considera andarem escondidos
ou diluídos, se cheguem à frente. Como, imodestamente,
me tenho nessa conta, não quero que pensem que sou
de me agachar.
Caríssimo Rebatet:
Foram as circunstâncias, somente as circunstâncias, mas,
já se sabe, elas são o Mundo, que fizeram, dos tranquilos
tradicionalistas, persistentes contra-revolucionários. Como
cedo lembrou De Maistre, «nós não queremos a Contra-revolução,
mas o contrário da Revolução». No entanto, na parte que me
toca, enfio, até ao fundo, a carapuça. Sempre tentei seguir,
contra a tríade da Revolução Francesa, os Valores da Fidelidade,
da Hierarquia e da Amizade. Não creio contudo, que, no plano
teórico, se haja perdido de vista o "inimigo principal". Os
mestres do tradicionalismo sempre consideraram o marxismo, logo
o sovietismo, como filhos inevitáveis da nefasta revolução de
1789. Os combates adjacentes do pós-guerra, com a aliança ao
inimigo da véspera contra o comunismo, ocupou sobretudo, a tempo
inteiro, as extensões políticas daquela concepção.
E quem é agora o inimigo? À partida poderia não ser o monstro
da globalização. As pressões sectoriais, fossem de indivíduos,
associações, ou ONG´s até poderiam enformar uma luta política
aceitável, na medida em que afastadas da construção abstracta
de sistemas que propugnassem uma concepçao totalizante da vida.
O grande óbice, concordo inteiramente, reside no materialismo,
carregado ao colo pelas multinacionais e pela difusão mediática
do novo american way of life, não já a criação mítica de uma
comunidade produtiva de traços calvinistas, mas o paraíso do
consumismo e do efémero, içado a esponja da água que ainda vamos
sendo.
Como combatê-lo? Somente com uma revolução cultural, diferente
da outra, que tem má fama e pior currículo. O homem comum que
se apanha com um automóvel e com uma televisão julga-se, por
muito inconscientemente que seja, senhor de parte do poder,
legitimadora de aspirações a mais, e de todo o saber. Com os
telemóveis, o crédito massificado e o dinheiro de plástico,
combina esses dois perigosíssimos pendores com a confiança na
facilidade. E daí a nada quer a bom querer ser um americano de
terceira. O meio de combater esta hidra é cortar uma a uma as
suas sete cabeças: vencer, na internet e nos media, o combate
da sedução, passando a boa mensagem. Catapultar para o primeiro
plano causas mobilizadoras, uma a uma. Recriar uma cultura de
julgamento do mérito e responsabilidade de cada um. Obrigar
o investimento a seguir as regras que não nulifiquem estes
esforços nem o que resta das características herdadas. Elevar
as penas e as recompensas. Reformular o ensino da história e
da filosofia sublinhando o dever, contra as falsas concepções
de liberdade. Reforma institucional de modo a não mais se ir
semeando inimigos internos, com partidos e candidaturas à
presidência a enfraquecerem as defesas contra as ameaças vindas
do exterior. Acima de tudo: combater o igualitarismo que baixa
e rebaixa.
E assim, meu caro Rebatet, talvez conseguíssemos a final, levar
a globalização para um comunitarismo internacional alargado e
saudável, semelhante ao que o Ocidente já conheceu: o da velha
Respublica Christiana.

15 Comments:

  • At 1:51 PM, Anonymous Anonymous said…

    "Presente!" - digo eu!
    Exmo. Sr. Paulo Cunha Porto, faz favor de ler os comentários ao seu post "Leitura Matinal -85".Isabel

     
  • At 4:09 PM, Blogger Flávio Santos said…

    Sim senhor, já vi que por aqui não se descansa. Excelente reflexão, a merecer réplica para a semana.
    Um abraço.

     
  • At 4:24 PM, Blogger Ricardo António Alves said…

    É pá, hoje estás perigoso! Valha-me nossa senhora!

     
  • At 6:04 PM, Blogger Rodrigo N.P. said…

    This comment has been removed by a blog administrator.

     
  • At 6:07 PM, Blogger Rodrigo N.P. said…

    Mais um bom texto Paulo e ainda bem que diz presente, mas convém esclarecer uma questão.Se pretendo os contra-revolucionários connosco(parece uma frase do Brasillach!) é porque reconheço que existe um combate comum e porque esta é para mim a derradeira luta da qual não haverá regresso possível, as alianças são por isso necessárias, não a qualquer custo mas com aqueles com quem é possível partilhar alguns valores .

    Não é portanto por me considerar um contra-revolucionário, como De Maistre ou Burke, porque não é essa exactamente a minha tradição.É por isso que os fins a procurar não serão para mim os mesmos,sem me alongar mais a ideia de um comunitarismo internacional é desejável se falarmos de comunidades protegidas na sua identidade integral, e isto é para mim fundamental, pois ao contrário do que sucede muitas vezes com os contra-revolucionários, a meu ver o "espírito" não é tudo.A nação tem para mim também uma vertente biológica.

    Quanto à "República Cristã"... fui educado na tradição cristã mas estou convencido que o cristianismo e os seus valores deram uma ajuda fundamental no desarmar do ocidente; isto para mim é tema muito delicado pois desperta uma contradição entre a minha religiosidade e a análise racional que faço dos problemas actuais de toda a Europa.

     
  • At 6:54 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    À Isabelita:
    Já não sei que autor francês notou que nós, portugueses, nos tornamos mais formais - ele diz «mais educados, quando tratamos melhor os outros» - se zangados ou irritados: é «O Sr. tenha cuidado...», o «Oh, meu amigo!», mais o «Desculpe lá mas...» e ainda o «Faz favor de...». A mim calhou-me o «Exmo. Sr.», com o nome por extenso. Ou como a Mulher se transforma num Animal esgatanhador. Mas sinto-me muito lisonjeado com a ciumeira...

     
  • At 6:59 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Ao FG Santos:
    Ainda bem que o meu Querido Amigo,
    como Leitor atento, também não descansa. O Seu Superior Talento é essencial a este debate e já estava a ver que teria de lhe chamar a atenção para que percorresse os "arquivos", quando chegasse de férias. Mas Deus é grande!

     
  • At 7:00 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Ao RAA:
    Uma pobre mosca morta como eu???!

     
  • At 7:11 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Ao Rebatet:
    Caríssimo, nem era preciso explicitar tal dicotomia. Para além de ser um leitor voraz da Sua prosa, o nome bloguístico identifica sobejamente a linha a que se vincula, apesar de o seu homónimo Lucien se haver iniciado na cabana do Père Maurras, antes da zanga.
    Quanto à «vertente biológica» serei igualmente claro, pelo muito respeito que o meu Amigo me merece: nisso não creio, por aí não posso ir. Disponibilizo-me pois, qual corredor de fundo que tenta acompanhar a cabeça do pelotão, para o combate em que questões prementes solicitem de nós posicionamentos comuns. Quando deixar de poder acompanhá-lo, com a hombridade de que seja capaz, lho direi, sem amarguras nem rancores.

     
  • At 8:22 PM, Blogger Rodrigo N.P. said…

    Curiosamente, apesar do nome, até lhe digo que as duas escolas que mais influenciaram o meu pensamento foram a "Revolução Conservadora" e a "nouvelle droite".

    «Quanto à «vertente biológica» serei igualmente claro, pelo muito respeito que o meu Amigo me merece: nisso não creio, por aí não posso ir. »

    Eu sei :)

    «Disponibilizo-me pois, qual corredor de fundo que tenta acompanhar a cabeça do pelotão, para o combate em que questões prementes solicitem de nós posicionamentos comuns»

    Existem muitas questões onde essa convergência é desejável e possível.

    Os melhores cumprimentos.

     
  • At 10:06 PM, Anonymous Anonymous said…

    Ao Paulinho:
    Que resposta. Tipica dos Homens: "À Isabelita" - esperto!!
    Além disso não são ciúmes, são,...são...oh! Não sei.!(talvez, confesso).
    Isabel

     
  • At 11:13 PM, Anonymous Anonymous said…

    Paulo:
    Boa noite, beijinhos em todos os sitios pequeninos. Isabel

     
  • At 7:27 AM, Anonymous Anonymous said…

    Bom dia doce acordar.Isabel

     
  • At 11:24 AM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Minnha Querida:
    Que resposta e que «tolos comentários»?
    Só se fosse estranhar a Sua estranheza por eu dar uma «resposta típica dos homens». Como o escorpião, o outro, o da história da rã: «é a minha natureza». Mas retiremos da imagem o belo e esqueçamos a tristeza.
    Fico sonhando com os beijos Seus.

     
  • At 12:15 PM, Anonymous Anonymous said…

    Meu querido Paulo:
    Quando eu digo resposta, quero apenas ler algo de si para mim, "tolos comentários", porque me sinto completamente tola com tudo isto. Só me apetecia neste momento estár a falar consigo, falar mesmo. A imagem é bela, tem razão.
    Eu também sonho com os seus carinhos. Haverá algum dia?!.
    Já estou ao serviço, mas sozinha, por isso vou fazendo visitas. O beijo mais molhado que existe neste mundo é para si. Isabel.

     

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