Leitura Matinal -82
A honra e a vingança formam um duo terrível mas
admirável. Se, frequentes vezes a última é uma
decorrência da primeira, esta é, felizmente mais
vasta no seu alcance. No seu seio, à cabeça, nos
homens da pré-decadência, está a fidelidade à
palavra dada. Também o dever de honrar o Hóspede
a todo o custo, bem como a sua recíproca, a
necessidade de exprimir gratidão para com o seu
Anfitrião, se preciso fosse pelas armas.
Era assim nos árabes antigos, os do deserto, tão
idolatrados por T. E. Lawrence, que os diferenciava
dos da cidade, que tinha por gente cobarde, vil e
enganosa.
Hoje são os árabes da cidade que têm o protagonismo
da condução dos negócios públicos, donde as quebras
de juramentos e alianças, tão rotineiras no Líbano, ou
nas relações entre os diversos Países, apesar da retórica
anti-israelita de fachada, comum a todos eles.
E para cúmulo, no mundo islâmico, o ilícito da fraude
está confinado à fronteira do Mundo Maometano.
Genuína e universal tragédia das qualidades de antanho
anteriormente citadas, quando conflituando umas com as
outras, ao ponto de subverter a fera fidelidade do Amor
Paternal, eram teste agudíssimo à dignidade de homens
ciosos do seu nome.
Ilustra-o o poema que Gonçalves Crespo dedicou a
Teixeira de Queirós:
O JURAMENTO DO ÁRABE
Baçús, mulher de Ali, pastora de camelas,
Viu de noite, ao fulgor das rútilas estrelas,
Wail, chefe minaz de bárbara pujança,
Matar-lhe um animal. Baçús jurou vingança;
Corre, célere, voa, entra na tenda e conta
A um hóspede de Ali a grave e inulta afronta.
"Baçus, disse tranquilo o hóspede gentil,
"Vingar-te-ei com meu braço, eu matarei Wail."
Disse e cumpriu.
Foi esta a causa verdadeira
Da guerra pertinaz, horrível, carniceira
Que as tribus dividiu. Na luta fratricida
Omar, filho de Amrú, perdera o alento e a vida.
Amrú que lanças mil aos rudes prélios leva,
E que em sangue inimigo, irado, os olhos ceva,
Incansável procura, e é sempre embalde, o vil
Matador de su filho, o tredo Muhalhil.
Uma noite, na tenda a um moço prisioneiro,
Recem-colhido em campo, o indômito guerreiro
Falou severo assim:
"Escravo, atende, e escuta:
"Aponta-me a região, o monte, o plaino, a gruta,
"Em que vive o traidor Muhalhil, dize a verdade;
"Dá-me que o alcance vivo e é tua a liberdade!"
E o moço perguntou:
"É por Alá que o juras?"
-Juro, o chefe tornou -
"Sou o homem que procuras!
"Muhalhil é o meu nome, eu fui que espedacei
"A lança de teu filho, e aos pés o subjuguei!
E intrépido fitava o atónito inimigo.
Amrú volveu: - És livre, Alá seja contigo!
admirável. Se, frequentes vezes a última é uma
decorrência da primeira, esta é, felizmente mais
vasta no seu alcance. No seu seio, à cabeça, nos
homens da pré-decadência, está a fidelidade à
palavra dada. Também o dever de honrar o Hóspede
a todo o custo, bem como a sua recíproca, a
necessidade de exprimir gratidão para com o seu
Anfitrião, se preciso fosse pelas armas.
Era assim nos árabes antigos, os do deserto, tão
idolatrados por T. E. Lawrence, que os diferenciava
dos da cidade, que tinha por gente cobarde, vil e
enganosa.
Hoje são os árabes da cidade que têm o protagonismo
da condução dos negócios públicos, donde as quebras
de juramentos e alianças, tão rotineiras no Líbano, ou
nas relações entre os diversos Países, apesar da retórica
anti-israelita de fachada, comum a todos eles.
E para cúmulo, no mundo islâmico, o ilícito da fraude
está confinado à fronteira do Mundo Maometano.
Genuína e universal tragédia das qualidades de antanho
anteriormente citadas, quando conflituando umas com as
outras, ao ponto de subverter a fera fidelidade do Amor
Paternal, eram teste agudíssimo à dignidade de homens
ciosos do seu nome.
Ilustra-o o poema que Gonçalves Crespo dedicou a
Teixeira de Queirós:
O JURAMENTO DO ÁRABE
Baçús, mulher de Ali, pastora de camelas,
Viu de noite, ao fulgor das rútilas estrelas,
Wail, chefe minaz de bárbara pujança,
Matar-lhe um animal. Baçús jurou vingança;
Corre, célere, voa, entra na tenda e conta
A um hóspede de Ali a grave e inulta afronta.
"Baçus, disse tranquilo o hóspede gentil,
"Vingar-te-ei com meu braço, eu matarei Wail."
Disse e cumpriu.
Foi esta a causa verdadeira
Da guerra pertinaz, horrível, carniceira
Que as tribus dividiu. Na luta fratricida
Omar, filho de Amrú, perdera o alento e a vida.
Amrú que lanças mil aos rudes prélios leva,
E que em sangue inimigo, irado, os olhos ceva,
Incansável procura, e é sempre embalde, o vil
Matador de su filho, o tredo Muhalhil.
Uma noite, na tenda a um moço prisioneiro,
Recem-colhido em campo, o indômito guerreiro
Falou severo assim:
"Escravo, atende, e escuta:
"Aponta-me a região, o monte, o plaino, a gruta,
"Em que vive o traidor Muhalhil, dize a verdade;
"Dá-me que o alcance vivo e é tua a liberdade!"
E o moço perguntou:
"É por Alá que o juras?"
-Juro, o chefe tornou -
"Sou o homem que procuras!
"Muhalhil é o meu nome, eu fui que espedacei
"A lança de teu filho, e aos pés o subjuguei!
E intrépido fitava o atónito inimigo.
Amrú volveu: - És livre, Alá seja contigo!
2 Comments:
At 12:59 PM, Ricardo António Alves said…
«Baçús, mulher de Ali, pastora de camelas», é um verso notável... Não sei se digno do Teixeira de Queirós... Deste-me também ideia para um novo blogue, chamado «Amru volveu»! Não é lindo?
At 8:13 PM, Paulo Cunha Porto said…
Caspité! Os Leitores volveriam continuamente, sem paragem. O que é engraçado é o Ali andar ausente do poema. Que tal constituir a assinatura do "blogger"?
Post a Comment
<< Home