Reabilitação do Velho Leão
Em honra de Eurico de Barros 1
Insurgiu-se, no comentário ao post «Leiam!», o meu
Amigo Eurico, por, da leitura aconselhada, constar
um elogio de Churchill. Caríssimo: todos somos livres
de gostar ou não do homem, mas isso não deve interferir
com a análise da grandeza histórica do mesmo. Exactamente
como ele fez, na condução dos negócios públicos. Lembro
aquele passo dum livro de Franco Nogueira em que ele conta
que Salazar sabia, por vias particulares, que Churchill o
detestava; porém, nunca, no plano das relações internacionais,
permitiu que transparecesse essa animadversão.
São conhecidas a sua (dele) intimidade com o cognac e as
transferências partidárias. Só que, nem aquela lhe tolheu a
capacidade de liderar, nem os zig-zagues entre os conservadores
e liberais eram malquistos à época, sendo que a razão apresentada,
de opções transversais em matéria de políticas proteccionistas
e fidelidade ao padrão-ouro, era credível.
Ele teve de vencer outros obstáculos. Apesar de membro da
família Marlborough, era tido na boa sociedade como um arrivista
a evitar, em virtude das peculiaridades do pai, Randolph. Mais
tarde, a ligação familiar a Mosley, através das Mittford, tornou-o
até suspeito de simpatias por Hitler! Os críticos estavam certíssimos,
como se viu...
Ninguém, salvo ele, conseguiria mobilizar o patriotismo de um país
contra um poder aparentemente imparável, até à altura em que as
erróneas escolhas dos dirigentes alemães chamaram à guerra os
bolchevistas e tiraram do formal isolacionismo a grande ex-colónia.
Então, quando era preciso, ninguém o viu titubear ou virar a casaca.
Isto mesmo foi reconhecido pelos compatriotas, que lhe deram o
que só tinham dado a mais duas pessoas, exceptuando monarcas
reinantes: um funeral estatal completo. Os outros dois foram Nelson
e Wellington, o que diz bem do critério. E como os grandes homens
dispensam longos elogios fúnebres, um único par de coroas de flores
sobre a carreta: «Ao meu querido Winnie. Clementine»; e «Da Nação
e do Império.Elizabeth R».
Foi o homem que criou a divisa que podia ser a minha: «Venero o
Passado, desconfio do Presente, temo o Futuro».
É verdade que, durante algum tempo, viveu dos empréstimos do seu
editor, o financeiro judeu Sir Ernest Cassell. Mas, na altura em que
assumiu o governo, já tinha passado a receber rendimentos autorais
vultuosos. Não insinue que as opções políticas foram motivadas por
tal razão. Contudo, sobre o anti-semitismo no Reino Unido falarei
num próximo post.
Insurgiu-se, no comentário ao post «Leiam!», o meu
Amigo Eurico, por, da leitura aconselhada, constar
um elogio de Churchill. Caríssimo: todos somos livres
de gostar ou não do homem, mas isso não deve interferir
com a análise da grandeza histórica do mesmo. Exactamente
como ele fez, na condução dos negócios públicos. Lembro
aquele passo dum livro de Franco Nogueira em que ele conta
que Salazar sabia, por vias particulares, que Churchill o
detestava; porém, nunca, no plano das relações internacionais,
permitiu que transparecesse essa animadversão.
São conhecidas a sua (dele) intimidade com o cognac e as
transferências partidárias. Só que, nem aquela lhe tolheu a
capacidade de liderar, nem os zig-zagues entre os conservadores
e liberais eram malquistos à época, sendo que a razão apresentada,
de opções transversais em matéria de políticas proteccionistas
e fidelidade ao padrão-ouro, era credível.
Ele teve de vencer outros obstáculos. Apesar de membro da
família Marlborough, era tido na boa sociedade como um arrivista
a evitar, em virtude das peculiaridades do pai, Randolph. Mais
tarde, a ligação familiar a Mosley, através das Mittford, tornou-o
até suspeito de simpatias por Hitler! Os críticos estavam certíssimos,
como se viu...
Ninguém, salvo ele, conseguiria mobilizar o patriotismo de um país
contra um poder aparentemente imparável, até à altura em que as
erróneas escolhas dos dirigentes alemães chamaram à guerra os
bolchevistas e tiraram do formal isolacionismo a grande ex-colónia.
Então, quando era preciso, ninguém o viu titubear ou virar a casaca.
Isto mesmo foi reconhecido pelos compatriotas, que lhe deram o
que só tinham dado a mais duas pessoas, exceptuando monarcas
reinantes: um funeral estatal completo. Os outros dois foram Nelson
e Wellington, o que diz bem do critério. E como os grandes homens
dispensam longos elogios fúnebres, um único par de coroas de flores
sobre a carreta: «Ao meu querido Winnie. Clementine»; e «Da Nação
e do Império.Elizabeth R».
Foi o homem que criou a divisa que podia ser a minha: «Venero o
Passado, desconfio do Presente, temo o Futuro».
É verdade que, durante algum tempo, viveu dos empréstimos do seu
editor, o financeiro judeu Sir Ernest Cassell. Mas, na altura em que
assumiu o governo, já tinha passado a receber rendimentos autorais
vultuosos. Não insinue que as opções políticas foram motivadas por
tal razão. Contudo, sobre o anti-semitismo no Reino Unido falarei
num próximo post.
9 Comments:
At 1:11 AM, Anonymous said…
Para acabar de vez com o mito do Churchill-grande-estadista, aconselho, entre outros, a leitura de "Churchill: The End of Glory", de John Charmley, e de, se o conseguirem encontrar, «Churchill's War», do agora «pestífero» David Iring. Quanto aos copos, várias foram as vezes em que, poderosamente embriagado em reuniões do Estado-Maior, Churchill ordenou bombardeamentos de alvos civis alemães, do que foi a muito custo dissuadido pelos seus generais. E que vira-casacas era o homem!
At 11:58 AM, Paulo Cunha Porto said…
Caríssimo Eurico:
Haverá sempre quem escreva livros contra as Figuras Históricas de
primeira plana. Até se conseguiu
arranjar quem escrevesse um livro
contra a Madre Teresa de Calcutá...
Contra Churchill pode dizer-se muita coisa verdadeira, acerca da actuação nas pastas ministeriais por que passou: repressão brutal de manifestações, falhanço da política económica, culpa absoluta no desastre de Dadanelos...
Agora, na chefia do governo, que resultou, resultou. Não era Chamberlain, nem Halifax, nem Eden, nem Attlee que poderiam aguentar a Ilha. Só ele. Como se viu.
At 10:13 PM, Anonymous said…
Não foi ele, caro Porto, foi o Hitler por ele, que quis durante muito tempo fazer a paz com a Grã-Bretanha - ver o «caso Hess». E depois entraram os EUA na guerra e tudo mudou, o cevado de Downing Street encostou-se ao Roosevelt, aos seus canhões e aos seus GI...
Quanto à Madre Teresa, nunca simpatizei com a criatura, é do mais rançosamente reaccionário que a igreja católica arranjou.
At 2:35 AM, Anonymous said…
Concordo com o Amigo Eurico, 'contra' o Amigo Paulo, nesta matéria. O Chanceler do Reich só não invadiu a Inglaterra porque tinha um especial fascínio pelo povo germano anglo-saxão. (Germano, aqui, tem um duplo sentido, como é sabido).
Quanto à Madre Teresa: "No coments!".
Mendo Ramires
At 7:01 AM, Paulo Cunha Porto said…
Caríssimos Amigos:
E eu aqui, enganado, todo este tempo! Afinal tudo se devia à anglofilia do Hitler, provavelmente
a mesma que largou toneladas de bombas sobre Londres! Ainda bem que os meus Amigos são Vocês e não o "Tio Adolfo". E eu, na minha ingenuidade, a pensar que a Royal Navy tinha tido algo a ver com o assunto!
Quanto à Madre Teresa: Nem sei como convencer dois perigosos Revolucionários, como Estes, porém,
eu sou reaccionário. Já dizia o incomparável Bernanos: «Ser reaccionário é estar vivo, pois só os cadáveres não reagem contra os vermes que os corroem».
At 1:55 PM, Anonymous said…
O meu comentário sobre Madre Teresa ("No Coments!) destinava-se ao Eurico, pois vinha na sequência do seu comentário. Que trapalhada!
Por outro lado, como bem sabe o meu Bom Amigo, sou Tradicionalista, Legitimista, Miguelista e Integralista (tudo - e ainda outras coisas que não posso aqui dizer... -, dos pés até à crista!). No entanto, sou Revolucionário, é verdade; mas, Monárquico-Revolucionário: a única via - hoje em dia - para a Restauração!
Por Deus, Pátria e Rei - Sempre!
Mendo Ramires
At 9:38 PM, Anonymous said…
Por acaso, quem começou a bombardear primeiro foram os ingleses - e continuaram até despejar toneladas de fósforo sobre Dresden, um conhecido alvo militar, como se sabe. E porque é que em Dunquerque Hitler não aproveitou para esmagar de vez os ingleses? Porque ainda tinha esperança numa paz negociada. Mas agora quanto ao Bernanos, concordo!
At 3:03 AM, Anonymous said…
Na II Guerra Mundial, como noutros assuntos, ainda temos que gramar - sessenta anos depois! - com a História (mal) contada pelos vencedores. Essa é que é essa.
'Vae Victis'!
Mendo Ramires
At 7:03 AM, Paulo Cunha Porto said…
Ora, ainda bem que o velho Bernanos
nos permitiu chegar ao consenso.
É, concedo que Dresden foi mau, mas manda a verdade que se diga que em Roterdão tambem não sobrou grande coisa...
Quanto a Dunquerque, o "nosso Coronel" é que pode dar mais detalhes. Mas o próprio Goering reconheceu ter pedido para ser a menina dos seus olhos «a acabar com os bifes». Diz-se que o Guderian, na altura, até chorou...
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