Leitura Matinal -42
Hoje, pela primeira e, espero que última vez, trago
um poema de Autor que não aprecio. Refiro-me a
Almeida Garrett e esta transigência fica a dever-se
ao facto de, apesar de tudo, no interesse cultural do
País, me congratular com a suspensão da demolição
da casa de Campo de Ourique em que o Poeta viveu.
Tentando tirar qualquer coisa dos versos escolhidos,
sempre direi que, mais do que concluir que a extrema e
sólida irredutibiliddade também tem um preço, se deve
notar que, levantando a guarda, qualquer um se vê atreito
à quebra da coerência.
Ou como, entre as Altas Aspirações e as agradáveis tentações,
não se pode ter tudo na vida:
AS MINHAS ASAS
Eu tinha umas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Que, em me eu cansando da Terra,
Batia-as, voava ao céu.
- Eram brancas, brancas, brancas,
Como as do anjo que mas deu:
Eu inocente como elas,
Por isso voava ao céu.
Veio a cobiça da Terra,
Vinha para me tentar;
Por seus montes de tesouros
Minhas asas não quis dar.
- Veio a ambição, coas grandezas,
Vinham para mas cortar,
Davam-me poder e glória;
Por nenhum preço as quis dar.
Porque as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Em me eu cansando da Terra,
Batia-as, voava ao céu.
Mas uma noite sem Lua
Que eu contemplava as estrelas,
E já suspenso da Terra
Ia voar para elas,
- Deixei descair os olhos
Do céu alto e das estrelas...
Vi, entre a névoa da Terra,
Outra luz mais bela que elas.
E as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Para a Terra me pesavam,
já não se erguiam ao céu.
Cegou-me essa luz funesta
De enfeitiçados amores...
Fatal amor, negra hora
Foi aquela hora de dores!
- Tudo perdi nessa hora
Que provei nos seus amores
O doce fel do deleite,
O acre prazer das dores.
E as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Pena a pena, me caíram...
Nunca mais voei ao céu.
um poema de Autor que não aprecio. Refiro-me a
Almeida Garrett e esta transigência fica a dever-se
ao facto de, apesar de tudo, no interesse cultural do
País, me congratular com a suspensão da demolição
da casa de Campo de Ourique em que o Poeta viveu.
Tentando tirar qualquer coisa dos versos escolhidos,
sempre direi que, mais do que concluir que a extrema e
sólida irredutibiliddade também tem um preço, se deve
notar que, levantando a guarda, qualquer um se vê atreito
à quebra da coerência.
Ou como, entre as Altas Aspirações e as agradáveis tentações,
não se pode ter tudo na vida:
AS MINHAS ASAS
Eu tinha umas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Que, em me eu cansando da Terra,
Batia-as, voava ao céu.
- Eram brancas, brancas, brancas,
Como as do anjo que mas deu:
Eu inocente como elas,
Por isso voava ao céu.
Veio a cobiça da Terra,
Vinha para me tentar;
Por seus montes de tesouros
Minhas asas não quis dar.
- Veio a ambição, coas grandezas,
Vinham para mas cortar,
Davam-me poder e glória;
Por nenhum preço as quis dar.
Porque as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Em me eu cansando da Terra,
Batia-as, voava ao céu.
Mas uma noite sem Lua
Que eu contemplava as estrelas,
E já suspenso da Terra
Ia voar para elas,
- Deixei descair os olhos
Do céu alto e das estrelas...
Vi, entre a névoa da Terra,
Outra luz mais bela que elas.
E as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Para a Terra me pesavam,
já não se erguiam ao céu.
Cegou-me essa luz funesta
De enfeitiçados amores...
Fatal amor, negra hora
Foi aquela hora de dores!
- Tudo perdi nessa hora
Que provei nos seus amores
O doce fel do deleite,
O acre prazer das dores.
E as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Pena a pena, me caíram...
Nunca mais voei ao céu.
2 Comments:
At 3:24 PM, Flávio Santos said…
Não gosta de Garrett? Já leu o "Frei Luís de Sousa"?
At 6:49 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu caro FG Santos:
Já li, sim; duas vezes: uma, obrigado, no Liceu e outra para me
tentar livrar de uma impressão algo
traumática. Eu pensava sobretudo no poeta, mas o dramaturgo também
não me entra. É uma heresia, eu sei; que fazer destas embirrações?
E depois, três escritores menores de que gosto muito - Alberto de Oliveira, Agostinho de Campos e Antero de Figueiredo -, tinham Garrett em pouco menor conta do que
a 2ª Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Que ferro para a memória deles!
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