Leitura Matinal -20
A misantropia é uma arte que requer preparação mental e tempo.
Nada tem que ver com a mediocridade dos ódios dirigidos a
indivíduos ou grupos, tal como não se identifica com a grosseria
presente na amargura e na falta de cordialidade. Consiste, sim, no
culto da distância e na aversão ao apequenamento, que permitem
não embarcar mais na transigência generalizada e rotineira, passando a
afirmar uma visão pessoal, lúcida e, doravante, livre dos compromissos
a que más razões - e outras boas, até, como o respeito por qualquer
semelhante, independentemente do merecimento - conduzem. Mas só
pode enveredar por esta solitária via quem se não importe de vir a ser
julgado unicamente em função do momento da ruptura, já que, para o
pobre vulgo aguilhoado, toda a acumulação consensual do passado
deixa de ter valor.
Como ilustração desta recorrente cena encontrei em «Jogo de Pedras»,
de Alberto Pimenta, o poema
jogada nº 12
diálogo
vês aqueles pontos lá longe, disse o cego,
parando e apontando com a bengala. não mas
vejo as pessoas lá longe, tão pequenas que
parecem pontos, disse eu. era isso que eu
queria dizer, disse o cego.
vês aqueles pontos lá longe, disse o cego,
parando e apontando com a bengala. não, mas
vejo os navios lá longe, tão pequenos que
parecem pontos, disse eu. era isso que eu
queria dizer, disse o cego.
vês aqueles pontos lá longe, disse o cego,
parando e apontando com a bengala. não, mas
vejo as casas lá longe, tão pequenas que
parecem pontos, disse eu. era isso que eu
queria dizer, disse o cego.
vês aqueles sinais lá longe, disse o cego,
parando e apontando com a bengala. não, mas
vejo as estrelas no céu escuro, tão peque
nas que parecem um espanto, um sinal
e um provérbio, disse eu.
essa mania da contradição ainda te há-de
sair cara, disse o cego, brandindo a bengala.
Nada tem que ver com a mediocridade dos ódios dirigidos a
indivíduos ou grupos, tal como não se identifica com a grosseria
presente na amargura e na falta de cordialidade. Consiste, sim, no
culto da distância e na aversão ao apequenamento, que permitem
não embarcar mais na transigência generalizada e rotineira, passando a
afirmar uma visão pessoal, lúcida e, doravante, livre dos compromissos
a que más razões - e outras boas, até, como o respeito por qualquer
semelhante, independentemente do merecimento - conduzem. Mas só
pode enveredar por esta solitária via quem se não importe de vir a ser
julgado unicamente em função do momento da ruptura, já que, para o
pobre vulgo aguilhoado, toda a acumulação consensual do passado
deixa de ter valor.
Como ilustração desta recorrente cena encontrei em «Jogo de Pedras»,
de Alberto Pimenta, o poema
jogada nº 12
diálogo
vês aqueles pontos lá longe, disse o cego,
parando e apontando com a bengala. não mas
vejo as pessoas lá longe, tão pequenas que
parecem pontos, disse eu. era isso que eu
queria dizer, disse o cego.
vês aqueles pontos lá longe, disse o cego,
parando e apontando com a bengala. não, mas
vejo os navios lá longe, tão pequenos que
parecem pontos, disse eu. era isso que eu
queria dizer, disse o cego.
vês aqueles pontos lá longe, disse o cego,
parando e apontando com a bengala. não, mas
vejo as casas lá longe, tão pequenas que
parecem pontos, disse eu. era isso que eu
queria dizer, disse o cego.
vês aqueles sinais lá longe, disse o cego,
parando e apontando com a bengala. não, mas
vejo as estrelas no céu escuro, tão peque
nas que parecem um espanto, um sinal
e um provérbio, disse eu.
essa mania da contradição ainda te há-de
sair cara, disse o cego, brandindo a bengala.
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