Andante Ma Mon Troppo

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A consolação extrema de sentir escrito em corpos que vemos nas alturas imensas o rumo da vida que nos permita transcender a mediocridade que nos conhecemos é demasiado tentadora para que a possamos rejeitar. Não só pela esperança mesquinha de termos melhorada a nossa passagem pelo Mundo que julgamos conhecer, mas porque o mistério da Porvir, uma vez alvo de previsão, parece confirmar as nossas aspirações a uma grandeza maior do que a que a nossa estatura evidente revela.
Nisso reside muito do êxito do Mito Sebástico no Nosso País. Para aqueles que se sentem participar do Vulto do Rei desviado da Pátria, a espera que Lhe respeite é, intimamente, uma confirmação da possibilidade de, em tempo vindouro, também a grandeza não-reconhecida da própria personalidade fazer o desembarque triunfante; que traga ao que de nós julgamos solitariamente reconhecer o tributo das aclamações libertadoras do nevoeiro que apenas permite a cada qual pressentir-se e não ver-se. Nesta vivência, ou para além dela, dose de incerteza que obriga a melancolia a acertar o passo pelo combate.
De António Lopes Ribeiro:

HORÓSCOPO

«Vénus fulge no Abril do teu destino oculto.
Marte e Saturno vão a par. De-certo
serás alguém» - disse-me o Astro. Exulto
por poder violar o Sonho, bem desperto!

Não é qualquer lapuz, ambicioso e estulto,
que sabe ler no céu como um livro aberto;
que pode adivinhar, no nevoeiro, o vulto
do Encoberto.

Cumpri-se-á, tal qual, a estranha profecia,
que o Mestre do Destino assim mo prometeu.
Já me valeu a pena a pena de existir.

A treva será luz mais clara que a do dia
quando eu fôr visitar o quarto irmão do meu
que fica para além do espelho de vestir.

Pinturas: «Horóscopo», de Bozidar Damjanovski

e

«Brumas de Verão», de KateVan Suddese.