A Humorocracia na América

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Já aqui dei conta da pobre piada do Senador Kerry e das reacções que adversários e acólitos não tardaram a exteriorizar. O embaraço da pobreza do humor só não era perceptível para o orador, se atentarmos nas imagens dos rostos com esgar de circunstância em todos os que o acompanhavam no estrado. Humor genuíno, ao menos para a sensibilidade da audiência, fez, a propósito, o Vice-Presidente Dick Cheney,um político que, tendo boa imagem junto dos jornalistas quando assumiu o cargo, não conseguiu penetrar no coração da maioria dos americanos.
Nos EUA as eleições ganham-se com piadas. Faz parte do ritual de cada conferência ou comício de campanha eleitoral dizer pelo menos duas. Não é preciso que sejam muito originais, nem hilariantes, basta que não ofendam ninguém e dêem o sinal para os risos que atestam estar-se em presença de um nice guy.
Reagan tinha um humor genial e também por isso é ainda hoje amado e recordado, havendo virado o resultado no debate da reeleição, respondendo à pergunta inaugural sobre a sua idade avançada, que não queria explorar em proveito próprio a «juventude e inexperiência do adversário», o ex-vice-presidente Mondale.
Não tão universalmente aceitável, Clinton e o actual Bush têm-no em dose qb, a que os faz enturmar-se com os seus e suscita a indulgência dos independentes. Carter e o Pai Bush eram quase desprovidos deste dom, por isso acabaram como acabaram. Johnson e Nixon tinham-no, mas verrineiro, quase assassino na agressividade, pelo que embora fazendo adesões, geravam idêntica dose de alergias.
Por isso quase aposto que para um Homem tão cheio de si como o Senador do Massachusetts, mais do que pedir sob pressão as desculpas que a princípio negara, deve ter custado o facto de ter de explicar que o seu dito era para ser uma graça...