Guardas Baixas
O Presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministerio Público pode ter alguma razão no fundo, mas, como é hábito na vida pública portuguesa, caiu na asneira de usar uma imagem desastrosa. Ao criticar as desregradas abordagens dos bastidores das magistraturas pelos responsáveis de dois jornais de referência, comparou-os a «cães de guarda». Ora esta designação é bem capaz de ser recebida de braços abertos pelos visados, porque inculca a ideia de que estão a guardar algum bem de todos e que desempenham com o seu comportamento uma função útil à Comunidade. O declarante pretenderia possivelmente dizer "cães raivosos", mas, querendo diminuir a carga insultuosa da expressão, neutralizou-a por completo.
Não tenho ilusões. Muito do que se escreve sobre a parte esotérica da máquina judiciária visa favorecer nomeações, por um lado; e condicionar, pressionando, decisões dos magistrados, por outro. Nem que seja apontando-os como parciais, para que provem a imparcialidade decidindo, com excesso de rigor, no sentido oposto.
Mas há uma tecla em que tenho de voltar a insistir: a sindicalização dos que aplicam a autoridade do Estado favorece estes comportamentos, pois ao adoptarem um meio de pressão semelhante ao de quaisquer outros profissionais, insinuam no inconsciente das pessoas a ideia de que são ofícios como os outros e que as pressões sobre eles são, igualmente, legítimas.
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