Aberrações

As declarações dos responsáveis sindicais da Polícia, que o governo tenta transformar numa mostruosidade xenófoba, não são coisa sequer parecida com isso, pois, desde logo, em momento nenhum visam caracterizar uma qualquer etnia ou proveniência de imigrantes, na sua globalidade, com o estigma criminal. Limitam-se a ser um desabafo de quem sente no pelo uma ligação da entrada de marginais à sua diluição num específico fluxo migratório.

Posto isto, deveriam os sindicalistas policiais tê-las proferido? Também parece que não, pois determinar as orientações de abertura de fronteira de um governo está para além da sua razão de ser e, como dizia o bom do Apeles, o sapateiro não deve olhar acima da chinela.

Entretanto, quem devia levar valente chinelada é o governo que temos. Para além de se ter mostrado incompetente na formulação de orientações para a detecção dos potenciais criminosos, foi, com o partido que o apoia, o grande defensor da criação dos sindicatos de polícia. Agora que a acção dos seus dirigentes não lhes agrada, toca a enveredar por uma catarata de ameaças disciplinares e de procedimentos judiciais. Quando não se chega ao puro e simples insulto, como o Secretário de Estado José Magalhães, ao classificar como «aberrantes» os dirigentes sindicais em questão.

A concepção que os Socialistas fazem dos sindicalistas, pouco mais do que cachorrinhos de companhia, é que é a maior e verdadeira aberração. Mas o socialismo tem razões que o sindicalismo desconhece.