A Força de uma Morte
Contra os meus temores, pressentimentos mesmo, tentei acreditar que no fim do Período Pascal se manteria a razão para o triunfalismo policial-jornalístico que dava como quase inexistente neste ano, ao contrário dos anteriores, a mortandade habitual da estrada portuguesa. Perto do fim da Quadra, os números (dos) sinistros já recuperaram muito do terreno. Só que a morte de um actor jovem, cujo trabalho desconheço, atirou para segundo plano todas as vítimas anónimas. Possa a injustiça do esquecimento público de epílogos em tudo semelhantes ao ecoado encontrar a sua compartida na impressão que cause nas audiências o passamento mais do que precoce de um embrionário astro reinante na TV. Assim se encontraria um significado acessível aos que cá por baixo andam. No sentido da prudência, se não puder ser no da renúncia ao uso e abuso de um meio de aceleração massificado que, na minha óptica, transformou o Homem em qualquer coisa de diferente daquilo que seria pensável como essência de si. Mas, suprema e divina ironia, poderíamos encontrar um remédio na neutralização de um dos aspectos mais angustiantes do Espírito do Tempo, através da mobilização contra ele de outro traço usualmente criticado: o da idolatria de um artista do audiovisual.
12 Comments:
At 10:15 PM, armando s. sousa said…
Acho, não tenho a certeza, que a mortandade este ano foi menor que nos anos anteriores, no entanto como diz, a morte deste jovem actor, que também não conheço, mas que hoje está a ser muito falado aqui em casa, via minha filha de 10 anos, está realmente a ofuscar a realidade, nua e crua, do problema, que é esta guerra civil invisível.
Um abraço.
At 10:19 PM, Anonymous said…
“Os pais não apenas deixaram de bater nos filhos como passaram a levar deles” – Dra. Kity in “O Triunfo dos Coglioni”, Revista “Espírito”, nº 33, 2006.
www.territoriolivre.com.sapo.pt
At 10:25 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Armando Ésse:
É, primordialmente, às gentes mais novas, como as que agora encontram, como a Sua Filha, a brutalidade de um fim súbito e estúpido de uma vida em que punham afectos sem interesse, que o choque poderá trazer, esperemos, algum ganho, na respectiva formação e, por consequência, no Futuro.
Tenhamos fé e permita-me enviar-Lhe outro.
Desconheço a situação, mas vou ler o texto sugerido.
Obrigado.
At 1:21 AM, �ltimo reduto said…
Por acaso eu conhecia o trabalho do actor em causa, que me soava simpático por várias razões muito minhas. Diga-se, de início, que visionei uma mão cheia de episódios dos tais "Morangos com Açúcar" por conta do interesse da minha filha minorca na tal série. Ora, tendo lido sobre a dita crónicas péssimas, senti tive o cuidado de ver com os meus olhos se a coisa era para censurar. Francamente, não me pareceu - que a TV passa lixo muito maior que aquele a quase todas as horas do dia.
Dito isto, a morte do "Dino" fez-me alguma impressão. Vai para mais de dez anos, o meu melhor amigo partiu em idêntica situação e era, curiosamente, parecido à personagem agora finda em quase tudo: no sorriso, no cabelo, nas piadas, na disposição...
Que possa de facto servir de exemplo para a geração que o seguia. Paz à sua alma!
At 8:41 AM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Pedro:
Quando um acontecimento já de si trágico aviva, ainda por cima, em nós recordações dolorosas, acham-se mais do que reunidos os ingredientes para a revolta diante de acidente tão estúpido.
Unamo-nos pois no intento de encontrar no terrível vazio que deixa um desastre fortuito alguma esperança de lhe encontrar um sentido útil que nos melhore e ao meio em que nos movemos.
Abraço apertado.
At 10:20 AM, Anonymous said…
Tempos modernos...estúpidos, apressados, sem sentido.
Abraço
Legionário
At 10:28 AM, Paulo Cunha Porto said…
Nem mais, Caríssimo Legionário. Faz-me lembrar uma interessante colectânea de escritos do António Lopes Ribeiro, «ESTA PRESSA DE AGORA».
Abraço.
At 12:52 AM, Anonymous said…
Ai, esta direita anti-automóveis e anti-velocidade, que não guia nem conhece os prazeres da condução nem da Fórmula 1... não seja tão cafona, caro Porto, não lhe fica bem.
At 8:36 AM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Eurico:
Olhe que tenho Amigos de uma Esquerda neste ponto igualzinha a esta Direita. Nada me move contra o desporto automóvel, porque limitado, se não a circuitos, ao menos a eventos fechados. Tenho tudo é contra a vida automobilizada, sobretudo quando destói a alegria de viver, ou a própria possibilidade de viver a alegria.
Ora, e eu que até pensei em «cafona» para cognome! "Paulo, O Cafona". Boa legenda para um monumento, não?
Abraço.
At 10:00 PM, Anonymous said…
Eu dou a réplica: guiar um carro é uma alegria, um dos grandes prazeres da vida. E então se guiar um Porsche ou um Ferrari, nem lhe digo nada...
At 9:00 AM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Eurico:
Tenho alguns Amigos que me falam, continuamente, desses prazeres. Não me deixo convencer. Reservo as minhas conduções para pratos mais humanos e menos mecânicos. E, no entanto, o grande Herbert von Karajan afiançou a Enzo Ferrari que o ruído dos motores dos produtos da firma deste possuíam muitas das virtudes harmónicas de uma sinfonia...
Ab.
At 1:05 AM, Anonymous said…
Viva Ferrari! E va il tiffo!
Post a Comment
<< Home