Compensação
Apesar do nojo, nem tudo foi mau, ontem. Ao passar pela Livraria Bizantina, dou com o Nº1 de uma publicação política anunciada como semanal, correspondente a 31 de Outubro de 1912. O Autor, o antigo deputado franquista e futuro colaborador sidonista Aníbal Soares, tenho-o como Autor de uma das mais deliciosas pinturas do espírito de composição na mediocridade e nacional-porreirismo que enformam a imagem das lusas gentes, precisamente o romance «AMBRÓSIO DAS MERCÊS», de 1903.
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Neste folheto é bem caracterizado o horror que foi a 1ª República Portuguesa, não só esterilizadora pela mediocridade, como também distinta dos hábitos nacionais por desusada violência, além da constante fraude eleitoral e de uma revolução cultural avant la lettre.. Três parágrafos, ao acaso, para que se possa fruir a qualidade da prosa:
«Mas não se contentando em ser tolerada, a Republica, aliás inadaptável ao paiz, iniciou a experiência portentosa de adaptar o país ao seu modo de ser, procurando quebrar-lhe a continuidade historica, desarticulá-lo, destruir-lhe o sentimento de si proprio pela negação ou pelo esquecimento do caracter e tradição nacionaes, e engolfal-o por fim, assim desfeito, na moral prostibular e na mentalidade degenerativa das camadas revolucionárias.». Acrescento eu, que se trata de síntese feliz do totalitarismo que a nossa medida consente.
Sobre Machado Santos:
«"A comparencia dúm revolucionário de nome, nas festas, seria não só um acto de applauso ás asneiras comettidas nos dois passados annos de Republica, mas também um acto de sem-vergonha," - bradava, um dia d´estes o commandante do pequeno acampamento da Rotunda, improvisado n´esse cargo por ter sido o único official que não fugiu aos primeiros tiros».
E pegando na palavra dos próprios líderes republicanos:
«"Destruímos, desorganisámos!" - escreve, resumindo em duas palavras toda a obra da República, Antonio José d´Almeida, de resto, um dos que nessa tarefa nefasta teem mais copiosa folha de serviços...»
«É preciso, escreve um, que a Nação confie em nós. Mas quereis saber o que pensa da Republica a Nação?
(...) Perguntae-o aos innocentes, successores no cacere dos falsarios e escrocs que a República fez senadores; perguntae-o aos martyrisados das prisões; perguntae-o á família do tenente Manuel Soares, torpe e impunemente assassinado no sítio mais público de Lisboa; á alma terna de Mulher que o acompanhou, n´um gesto sublime de devotação - villipendiada depois de morta por uns miseráveis escribas que Deus creou para consolar, pelo confronto, o sapo da sua hediondez e a hyena da sua cobardia; perguntae-o aos parentes dos oficiaes successivamente envenenados em Vianna por mãos anónymas de patriotas!
Perguntae-o ás mulheres violadas, aos pobres camponios humildes assassinados, sem armas, alguns delles no meio do somno, por essa horda que sem pudor se chamou columna da morte - columna da morte que mão se tendo batido com o inimigo só póde ter ganho o seu título assassinando gente inerme e inoffensiva (...)»
8 Comments:
At 2:28 PM, �ltimo reduto said…
Se eu soubesse, tinha ido contigo à Bizantina...
At 3:02 PM, Paulo Cunha Porto said…
É verdade, foi logo a seguir. Mas é que foi meeeesmo logo a seguir...
Ab.
At 3:49 PM, Anonymous said…
Tesoros franquistas
At 3:52 PM, Anonymous said…
Proposta alfarrabista : A vida do homem con Deus, de Dom Thomas Verner Moore, Trad. Artur Alves, Ed. Franciscana, Braga, 1964
At 3:58 PM, Anonymous said…
Proposta alfarrabista Anti- Caballero, Gabriel Mario de Coca, Ediciones del Centro, Madrid, 1975
At 10:22 AM, Paulo Cunha Porto said…
Caro Amigo: tempos em que houve "franqueza" por cá, como mais tarde na Espanha Una, Gande e Libre. É curioso que o termo "Talassa", mais tarde generalizado para designar todos os monárquicos, começou, por respeitar apenas aos adeptos de João Franco, conforme constava do documento público de agradecimento da Colónia Portuguesa no Brasil em que o termo fez a sua aparição na vida pública portuguesa.
Obrigadíssimo pelas sugestões.
Abraço.
At 1:16 PM, Anonymous said…
Portugal, siempre pionero
At 9:05 PM, Paulo Cunha Porto said…
Mas sem a Duração e Grandeza da Sua Vizinha, nas soluções...
Ab.
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