Os Despojos do Dia
O Conselho de Estado é uma inutilidade de peso. Ninguém acredita que o que os Distintíssimos Conslheiros lá debitem influa um miligrama na decisão sobre uma qualquer relevância política, por parte do Chefe de Estado. Mas funciona como simulação de representações institucionalizadas de todo o País: dos partidos e, mente-se, «para além deles. O que tranquiliza a consciência. Dentro de um dos aspectos mais interessantes da nova Situação, que é o de saber como reagirá o PCP a um Presidente que, vindo de outro Partido, pela primeira vez, desde o fim do período revolucionário, não ajudou a eleger, percebe-se a dor de Jerónimo de Sousa, ao atacar Cavaco, por ajudar à não participação dos Comunistas no orgão consultivo. Privados da muleta do Movimento Comunista Internacional, só restava aos sucessores de Cunhal, para evitarem a imagem de párias que a A. R. não esbate, a consagração de ocuparem um assento num forum pretendidamente unitário. O Bloco de Esquerda não se exaspera tanto. Mas isso é porque o Dr. Louçã ainda deve estar a pensar se lhe seria benéfico, ou a um dos seus, o título de "Conselheiro". Com a rapaziada protestatária de discurso anti-institucionalista que o exalta, é de crer que não.
11 Comments:
At 3:38 PM, JSM said…
E não sei se reparou na frase de Jerónimo, não o índio:'Cavaco pode ser Presidente de Portugal, mas não é o Presidente de todos os portugueses'!
Começa a cair a máscara representativa. Começa a rotura nas hostes republicanas. Para nós, monárquicos, quanto pior, melhor.
A solução restante, já demos...É aquela arenga para enganar meninos: 'De um lado estão os monárquicos, do outro estão os republicanos, no meio está a nação'!!! E que lindo serviço que o ex-seminarista, que o "ateu nato que respeitava a Virgem" nos fez... ainda temos Jerónimos!
Um abraço e que me desculpe o comício.
At 6:20 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro JSM:
Comícios destes são sempre mais do que desejados. Hihihihihi, para o aparte do pele-vermelha, que estes são de segunda, porque postiça. Claro que a representatividade encenada tinha de começar a rebentar pelas costuras, quando surgisse um homem de Belém (sem piadinhas, juro) de outra cor. Tome nota do que Lhe digo, Caro Amigo: ainda vamos ver, ao longo destes dez anos, muito comunista descobrir a excelência da Monarquia...
Grande abraço.
At 7:34 PM, Anonymous said…
Totalmente de acordo consigo no que à reacção da esquerda(PCP) e Bloco diz respeito(Sobre as escolhas para o Conselho de Estado). Mas Cavaco, curiosamente; mais ou menos tecnocrata(ou como o considerarem), e agora mudando de assunto; desagrada a grande parte da direita também (não só por estar à esquerda da direita) mas sobretudo por não ser "menino "bem" ou "família"(descupem o cliché). O seu pai, a sua família em geral, a sua origem popular de Boliquieme, causa alguns anti-corpos irracionais na direita "bem", o que me dá um gozo imenso. Gostemos ou não do homem enquanto político(e políticas); começo a simpatizar com ele, enquanto chefe de estado.
Penso até que, ao contrário do caro JSM, pode até vir a consolidar a Républica, ou pelo menos a Res pública. Esta existe sempre, com ou sem monarquia.
P.S. Desculpe-me como anónimo, passar assim tão regularmente (e "abusando" e tomando confiança),a marcar presença neste seu espaço.
Ab.
Pedro Rodrigues
At 8:21 PM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Pedro Rodrigues: nada a desculpar, senão a agradecer. As caixas de comentários do misantropo estão abertas, de alma e coração, a quem venha por bem, que não apenas aos Confrades da blogosfera. E, ou muito me engano, ou, um dia, tê-Lo-emos também nesta condição... Seja com que estatuto for, o Seu contributo é sempre enriquecedor.
Claro que a "res publica" é mais perene do que as formas de estado, as felizes e as infelizes. O desagrado que o Prof. Cavaco causa pelas origens e pela austeridade na "direita chic", como o que provoca, pelo catolicismo e ausência de passado contestatário na "esquerda idem" são bem reais. Mas não estou tão certo de que consolide a forma republicana. A maioria das pessoas que o venham a celebrar aderirá a ele, como aos precedentes, por se querer agarrar a alguém que, estando no cimo, adopte uma retórica supra-partidária, que é o que, vagamente, consideram assemelhar-se a um Rei. E acredito que no PCP - no eleitorado, não digo tanto da direcção -, mais enquadrado e observador dos homens pelo estrito prisma das militâncias, a pressão de um adversário em Belém diminua a alergia à Coroa.
Mas tudo isto são conjecturas de quem O recebe de braços abertos e Lhe envia um abraço.
At 10:23 PM, Anonymous said…
Caro Paulo:
Muito obrigado pelas amáveis palavras.
Ainda vou demorar a entrar neste mundo da blogosfera. Quando estiver mais organizado na minha vida, quem sabe. Se tiver capacidade, logo se verá.
Concordo plenamente com o que diz sobre Cavaco. Curiosamente, algum preconceito de classe e sobretudo intelectual, provêm, justamente de alguma esquerda(de muita esquerda, não só da direita). Claro que o passado não contestatário e católico ainda permanece inaceitável para quem acha que democracia é sua democracia e não a de todos.
Outra coisa: O sentimento monárquico permanece consciente ou inconscientemente da direita à esquerda. Nem é tanto monárquico, mas sobretudo sebastianista. A busca do homem providencial.
Um Grande Abraço
Pedro Rodrigues
At 10:39 PM, Anonymous said…
Só um aparte, que me esqueci:
Se isso for verdade: o fim da alergia à coroa por parte da extrema esquerda e do PC (ou o príncipio do fim); não deixa de ser irónico que isso comece a acontecer, paradoxalmente, a partir do momento em que a democracia de Abril, que eles supostamente tanto desejaram e da qual se fazem protagonistas(penso que não era esta o que eles queriam, mas enfim)... se estabelece em pleno, com a chegada a Belém de alguém do leque político mais à direita. Isto, no fundo, num plano lógico, deveria de ser a estabelecimento pleno do actual regime.
Claro que nós entendemos a incoerência de Jerónimo ou Louçã.
Se calhar o caro Paulo, está certo.
Ab.
Pedro Rodrigues
At 7:56 AM, Paulo Cunha Porto said…
Meu Caro Pedro Rodrigues:
Já aqui falei nos elogios à monarquia que foram feitos por vários responsáveis do partido neo-comunista de Bertinotti, em Itália, quando se falou em por lá implementar o presidencialismo, de que fugiam como o Demo da Cruz. Por cá não digo tanto da direcção comunista, mas suspeito de que, em muitos militantes, se gerará o sentimento de que é melhor "ter um que não é de ninguém, do que um que é dos outros". Isto porque ainda não os vejo maduros para captar a verdade monárquica: "O que é de Todos".
Forte abraço.
At 12:28 PM, Anonymous said…
Que o sentimento monárquico permanece bem vivo na mentalidade da maioria das pessoas, é bem verdade...Um dos exemplos mais flagrantes é o do nosso Pater Patriae, que parece considerar-se um ("o"?)"aristocrata da República"...
At 12:55 PM, Paulo Cunha Porto said…
A vaidade do indivíduo que citas, Caríssimo TSantos é proverbial. Mas já nem o próprio se considera "Pai da Pátria". Como ele próprio reconheceu, o seu último estrebochar, foi o do perturbador. Daqui em diante é sempre a descer.
Abraço.
At 4:08 PM, Anonymous said…
"Daqui em diante é sempre a descer."
Que o Altíssimo te oiça! Pode ser isto tenha servido para Sexa se reformar de vez...
At 6:10 PM, Paulo Cunha Porto said…
Estou em crer que foi desta, Caríssimo. Mesmo que ele continue a gostar de si, os militantes não gostam de derrotados.
Abraço.
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