Leitura Matinal -264
Por incapacidades próprias que ainda hoje no demais nos tolhem, ficou o Sebastianismo grudado à caracterização da
inoperância da nossa Pátria, conjuntamente com o Fado, ilustração duradoura de um carácter nacional de vencidos, que estariam perpetuamente à espera de que Outro viesse fazer o que a eles (nós) competia. Passou assim para segundo plano o que qualquer interpretação menos obcecada em deitar abaixo as construções espirituais permanentes em que nos revemos preferiria sublinhar.
Com efeito, quem atenta ainda nos elementos de fidelidade e de esperança que se acolhem à sombra da volta de D. Sebastião? Só a pressa e a curteza de vistas, ou a má fé de quem faz gala em desprezar-se, pode pensar, passada a possibilidade histórica de uma vida humana, esse sentimento nacional dirigido, senão Àquele Rei, pelo menos a um Homem. Fidelidade e Esperança clamam sim por um regresso. Mas é o da postura espiritual de Antanho, a que fez grandes os nossos Maiores, a que, por comparação, nos faz pigmeus. E não tem de haver, pois, delegação das acções necessárias num qualquer ente poeticamente personalizado.
Cada um pode e deve fazer a sua parte, ficando a névoa e a dúvida remetidas à ilustração da incerteza do resultado final. O tão cantado Sebastianismo é, como Outros, Melhores, já viram, aguardar pelo tornar de um tempo feliz, na senda do Dever e da Verdade. Um pouco como no medievalismo britânico de extracção céltica a espera pelo retorno de Sir Galahad, trazendo o Santo Graal. A fé na felicidade supra-individual, quando enquadrada por um sentido do dever estrito e anti-atomista, pode mover montanhas. Fazer do mito o catalisador da acção é a tarefa que urge.
De Azinhal Abelho, dedicado ao Carlos Bobone:
FADO SEBASTIANISTA
Eu e o meu amigo Carlos
Por muitas tardes de Verão
Vamos à beira do cais
Esperar El-Rei D. Sebastião.
Ele virá? Não virá?
Nunca a dúvida termina.
Alguém nos dá por conselho:
Esperem que chegue a nuvrina.
Em horas desencontradas,
Sem conta, segundo creio,
O cais envolve-se em névoa
E El-Rei ainda não veio.
Mas tornamos muitas vezes;
A esperança nos alumia.
Desejo dos portugueses:
El-Rei há-de vir um dia.
Realizações plásticas: «O Desejado», de Carlos Alberto
Santos, «Passeando a Dúvida», de Craig R. Griffin e
«Graal», de Anca Nicolau.
inoperância da nossa Pátria, conjuntamente com o Fado, ilustração duradoura de um carácter nacional de vencidos, que estariam perpetuamente à espera de que Outro viesse fazer o que a eles (nós) competia. Passou assim para segundo plano o que qualquer interpretação menos obcecada em deitar abaixo as construções espirituais permanentes em que nos revemos preferiria sublinhar.
Com efeito, quem atenta ainda nos elementos de fidelidade e de esperança que se acolhem à sombra da volta de D. Sebastião? Só a pressa e a curteza de vistas, ou a má fé de quem faz gala em desprezar-se, pode pensar, passada a possibilidade histórica de uma vida humana, esse sentimento nacional dirigido, senão Àquele Rei, pelo menos a um Homem. Fidelidade e Esperança clamam sim por um regresso. Mas é o da postura espiritual de Antanho, a que fez grandes os nossos Maiores, a que, por comparação, nos faz pigmeus. E não tem de haver, pois, delegação das acções necessárias num qualquer ente poeticamente personalizado.
Cada um pode e deve fazer a sua parte, ficando a névoa e a dúvida remetidas à ilustração da incerteza do resultado final. O tão cantado Sebastianismo é, como Outros, Melhores, já viram, aguardar pelo tornar de um tempo feliz, na senda do Dever e da Verdade. Um pouco como no medievalismo britânico de extracção céltica a espera pelo retorno de Sir Galahad, trazendo o Santo Graal. A fé na felicidade supra-individual, quando enquadrada por um sentido do dever estrito e anti-atomista, pode mover montanhas. Fazer do mito o catalisador da acção é a tarefa que urge.
De Azinhal Abelho, dedicado ao Carlos Bobone:
FADO SEBASTIANISTA
Eu e o meu amigo Carlos
Por muitas tardes de Verão
Vamos à beira do cais
Esperar El-Rei D. Sebastião.
Ele virá? Não virá?
Nunca a dúvida termina.
Alguém nos dá por conselho:
Esperem que chegue a nuvrina.
Em horas desencontradas,
Sem conta, segundo creio,
O cais envolve-se em névoa
E El-Rei ainda não veio.
Mas tornamos muitas vezes;
A esperança nos alumia.
Desejo dos portugueses:
El-Rei há-de vir um dia.
Realizações plásticas: «O Desejado», de Carlos Alberto
Santos, «Passeando a Dúvida», de Craig R. Griffin e
«Graal», de Anca Nicolau.
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