O Misantropo Enjaulado

O optimismo é uma preguiça do espírito. E. Herriot

Monday, January 23, 2006

A Deusa da Coragem

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«Palas» e o Centauro, de Sandro Boticelli.

9 Comments:

  • At 12:25 PM, Blogger Jansenista said…

    Pallas ou Parthenos significa que Athena é virgem.

     
  • At 6:14 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Mas, como sabe, Caríssimo, era nessa Virgem Intrépida que residia o patrocínio da Coragem, que não do talento guerreiro, pelouro de Ares.
    É verdade, não se indignou com a pintura «Coragem», abaixo colocada? No seguimento do jansenístico direito à indignação contra a pintura «Impaciência, temi o pior»...
    Abraço.

     
  • At 6:51 PM, Blogger Pedro Botelho said…

    Preclaro Porto:

    A Atena não era só corajosa e sabedora, mas muitíssimo guerreira, e até mais industriada nas artes bélicas que o irmão. O mano Arés é que era um bon-à-rien e um destruidor. Até entram em diálogo a esse propósito com o papá Zeus na Ilíada. Os romanos é que dividiam mais as competências bélicas, e os alter-egos Minerva e Marte tinham efectivamente as conotações que lhes atribui. Mas para os gregos havia de facto duas divindades guerreiras: uma muito positiva, outra negativa ou, pelo menos, neutra e muito menos merecedora de encómios.

    ******
    Prezado Jansenista:

    Acho que em português o t(h)eta (que dá no grego o som "th" como no ing. "thin") deve ser lido e escrito como o tau, porque o som "th" ciciado não existe. Logo: Atena, Palas Ateneia etc., senão também tinha de ser Athenas, a cidade. Mas claro que a sua intenção foi propositada e helenizante. Só refiro porque me parece um ponto com interesse.

    No francês ainda existe um cheirinho de "th", daí o "Athènes". Calculo que em castelhano também leve um "h", mas não estou certo. Se não leva, devia levar, porque nuestros hermanos ciciam que se fartam. Em inglês e alemão, a coisa é evidente.

    ******
    Gentes em geral: aqui vai o meu brado aos céus, aproveitando a oportunidade!

    O pior não é um "h" a mais ou a menos. O pior é o Frederico Lourenço nos acolher logo na introdução da "sua" Ilíada com a novidade que "glaukôpis Athéne" vai passar a querer dizer "Atena dos olhos garços / glaucos", em vez de "Atena dos olhos de mocho" porque, segundo ele, "glaukôpis" não se pode aproximar de "glaux" (coruja). Essa agora! E porquê? Está-se mesmo a ver que a olhos-de-mocho dilecta não podia ter outro epíteto mais apropriado, de resto à semelhança da Hera olhos-de-vaca que o pobre Zeus tinha de aturar.

    Mas diz o Lourenço que no Homero não aparece a palavra "glaux" para coruja e não são precisas mais justificações! Ou melhor, cita umas linhas da Sophia de Mello Breyner e do Herberto Helder (nada mais, nada menos) para provar a existência de olhos da cor dos mares de inverno (ou do norte), entre o verde e o cinzento (não sei porque é que não cita também a canção "Amélia dos olhos verdes").

    E pronto! -- lá fica a deusa da égide despromovida a "Atena dos olhos garços" (!), só porque "glaukós" designa em Homero a cor do mar, e os mares invernosos são um misto de verde e cinza. Mas à outra, à Sra. Zeus, já não lhe arranca os olhos, porque não há dúvida que "boôpis" é mesmo coisa bovídea...

    Só visto! E toda a gente gosta muito e emite haaas e hooos de prazer. Ainda bem que conservo o padre Alves Correia da minha infância. Eu cá distingo logo os sabores das traduções pelo cartão de visita do Odisseus / Ulisses. No Lourenço, é claro, é Ulisses, a acompanhar a Atena dos olhos feldgrau...

    Queiram perdoar o desabafo, mas há muito que isto me andava a irritar. A Atena sempre foi a minha favorita. Alexandros tivesse eu sido e nenhuma outra teria levado o pomo. De modo que vejo-a privada dos seus olhos de mocho, e não me aguento, vou-me a ele. Agarrem-me!

    ******
    Nota para os interessados em enigmas e cores de olhos (entre outras coisas): coloquei uma pequena entrada sobre o ex-mistério das "Voyelles" do Rimbaud no meu blog. O nome do blog muda com todas as actualizações (que serão dominicais), a URL, e' claro, mantém-se.

     
  • At 7:17 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Colendo Pedro:
    Ora bem! Era a essa "boa guerra" a coragem que me referia. Ares, embora comportasse a ambiguidade da destruição, era também um Deus protector, que se invocava. Mas não tinha a relação privilegiada que várias "polei" - e não apenas Atenas - tinham com a sua concorrente...
    Ab.

     
  • At 7:20 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Ah também tenho o Pe. Alves Correia. Obrigado pela informação tooda que aqui fica a enriquecer o «m...».
    Muda todas as semanas? E como é que se "linka"? Com o nome do Pedro?

     
  • At 8:32 PM, Blogger Pedro Botelho said…

    A propósito da relação privilegiada da alguns com a Atena:

    É verdade, e também é verdade que se sacrificava a Arés (como a Céres ou a Perséfone ou a outro/a qualquer...).

    Mas não era só isso! No Homero, onde não são visíveis preferências do poeta por cidades especiais, para além da hierarquia de cada uma na hoste, a Atena era, como sabe, a verdadeira chefe militar do partido grego entre os olímpicos, e a valiosíssima protectora das sinas dos heróis, sobretudo desse duo dinâmico que dava pelo nome Odisseus & Diómedes. De resto, nenhuma outra divindade tinha uma relação tão próxima com os seus humanos favoritos (a não ser talvez o pai Zeus na suas investidas, mas isso já é outro tipo de história).

    E do lado troiano, como era? Bem, o general em chefe era, sem margem para dúvida o Foibos Apolão (como dizia o Alves Correia). O Arés era pouco mais que ralé combatente. Aliás leva e volta a levar: uma vez da valorosa mana, e outra do bravo Diómedes (com a ajudita do costume). A única outra divindade a levar poucas dos humanos (do mesmo humano e com a mesma ajudita, é claro) é a tontinha Afrodite...

    E já viu como é que o pai do céu trata os filhos? A Atena é a menina dos seus olhos; o Arés é abaixo de cão. Até nomes feios lhe chama por bárbaro e destructivo! Até lhe diz que de todos os seus filhos nenhum outro detesta tanto, coisa absolutamente impossível num mito romano!

    E a Ilíada não é o poema duma cidade, a não ser que a cidade seja Tróia, a protegida de Arés & cia, com a Atena na oposição...

    Portanto o argumento de uma ter preferências regionais e o outro não, não colhe. A coisa é mais vasta. O Arés não era realmente um deus de grandes virtudes, como era o alter-ego Marte entre os romanos.

    *********
    A propósito do Lourenço, uma confissão: ele até é capaz de ter razão. Não sou competente para saber, mas perdi a cabeça com aquilo de enxotar os mochos!

    *********
    A próposito do "como é que se linca?": não sei; pode ser pelo nome Pedro Botelho, mas não é importante. Considero aquilo mais como uma base de operações a expandir doutras formas, se tiver tempo e paciência.

     
  • At 8:54 PM, Blogger Paulo Cunha Porto said…

    Debruçando-me sobre a parte final do que disse, nunca tinha pensado nisso, mas, realmente, parece haver em Roma um salto qualitativo do culto dirigido a Marte, face ao prestígio - ou escassez dele -do seu inspirador grego...

     
  • At 4:40 AM, Blogger Pedro Botelho said…

    Quanto à escrita de Atena / Atenas em castelhano: bem me parecia que me estava a enganar. É exactamente como em português. É curioso que os espanhóis misturem os tetas e os taus, exactamente como nós, quando a língua abunda nos sons "th" (como ing. "thin")... Porque será? É verdade que, à primeira vista, é mais nos "s" e "c" como "saber" ou "decidir", mas não sou linguista.

    Quanto ao Arés e ao Marte, não duvide. Entre os romanos o deus era venerado de forma completamente diferente: era considerado muito mais nobre. Talvez isso se explique porque em Roma a guerra era glorificada, enquanto na Grécia era mais aceite como um dado existencial. O que se glorificava na Grécia eram os heróis e não tanto as legiões, i.e. o valor individual, mais que a crueza da actividade guerreira em si. São duas mentalidades diferentes. Será por isso que os jogos olímpicos (e outros) eram tão diferentes dos sangrentos jogos circenses?

     
  • At 4:14 AM, Blogger Pedro Botelho said…

    Já agoras corrijo o meu "destructivo" anterior: é "destrutivo", é claro. Foi mais um caso de disdigilexia (i.e. dislexia digital).

     

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